15, Tyrconnell Road – Inchicore

Por Eduardo Marasciulo

Arquivo Pessoal

Acho que todo mundo faz mais ou menos uma ideia do que seja um intercâmbio. Eu achava que fazia. Com o tempo, descobri o quanto subestimei o que é quase inexplicável. Hoje quero tentar contar uma parte da nossa história e de tudo o que me levou a marcar pra sempre na minha pele e no meu coração esse lugar.

Não Dublin, não a Irlanda, mas a “Fifteen”. Dublin é especial e não sei por onde começar a agradecer por ter vindo parar aqui, mas quando me deparo em algum parque, no sol, refletindo sobre tudo o que temos vivido, existe algo muito mais especial, muito maior. Existe uma família, e não importa se alguns já não estão aqui ou se daqui a 3 meses já não estaremos mais juntos. Fomos, somos e seremos sempre o que construímos aqui.

Quando cheguei em Dublin e larguei as malas no hostel, a minha família estava ali. Todos com as mesmas curiosidades, ansiedades, medos e deslumbres. Alguns entre velhos amigos, outros que se jogaram sozinhos no mundão e eu, cheio de medos e incertezas. Todo mundo correndo atrás de vaga pra morar, cada um correndo pra um lado, o Patrick e o Bahia já com vaga quase fechada até que, felizmente, o destino veio e disse: vocês não vão fugir de mim! Conseguimos o que poucos conseguem. Uma casa, vazia, toda pra nós. O endereço: 15, Tyrconnell Road – Inchicore.

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Construímos um lar, construímos laços, regras e, de certa forma, nos adaptamos. Eu não vou cansar de contar a nossa história, cheio de orgulho e com o mesmo aperto no coração que já sinto em imaginar que daqui 3 meses não estaremos mais juntos. Eu me senti abraçado todos os dias do meu intercâmbio, mesmo nos piores.

Em momento algum eu pensei: estou morando em um país estranho, com mais 7 estranhos. Eu sempre pensei: estou chegando em casa, no meu lar, no meu aconchego. Fui zoado e zoei como nunca na vida. Sem malícia, sem pudor, sem preconceito. Pura vontade de brincar e fazer a nossa jornada mais leve e divertida.

Tivemos curiosidade sobre a vida do outro. Vontade de entender a batalha de cada um. Posso até ter a visão distorcida, mas, pra mim, fomos família. Torcemos um pelo outro. Comemoramos juntos cada vez que chegávamos de uma noite de rickshaw e dizíamos: fizemos mais de 200 euros hoje! Gritos, aplausos, todo mundo feliz, juntos! Sair de casa e ver todo mundo se desejando “bom trabalho”, “boa sorte”, “se precisar de ajuda, me chama”. Ver a Nati e o Caio saindo pra batalha e quem ficou em casa comentando: “Pow, hoje a rua tá movimentada, o Caio e a Nati vão fazer uma grana boa”, “Graças a Deus”, “Pow, que bom”, “Eles merecem, tão trabalhando pra caralho”. Cara, desculpa, mas eu me sinto o ser mais abençoado do mundo.

[PAUSA] Estou com uma playlist no youtube e, aleatoriamente, a Cássia canta no meu ouvido: “se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre (…) o pra sempre sempre acaba. Mas nada vai conseguir mudar o que ficou (…) Estamos indo de volta pra casa.” Mas, calma, ainda temos 3 meses…

Continuando… Teve Parabéns pra você! Teve ceia de Natal, de Ano Novo! Teve Haloween! Teve churrasco, cachorro quente, coxinha de galinha, bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Teve briga, teve choro, teve muita, mas muita risada, abraço, carinho, amor. Me choco em como o ser humano é ilimitado, imprevisível e tão capaz. Eu consegui desenvolver aqui na Irlanda, sentimentos que dedico à minha família no Brasil e aos amigos de mais de uma década, por pessoas que eu conheço há nove meses. Não há porque poupar sentimentos. Não penso nem meia vez em dizer que eu AMO vocês. AMO vocês e o que a gente construiu. Nos dias de exaustão, de tristeza, de saudade do Brasil, tudo o que eu consigo pensar é que fomos abençoados por passar por tudo isso juntos, nessa casa. Há quem diga que eu sou um cara de sorte. Eu acredito no destino e agradeço a ele por ter nos tirado de cada canto do Brasil, de cada zona de conforto, de cada emprego e nos colocado uns no caminho dos outros. Aprendi ao longo da vida – e reafirmei aqui em Dublin – que a gente atrai o que a gente transmite. Não existe sorte e não existe trevo que ajude.

A gente faz a nossa história e a gente tá fazendo muito bem feito.

Valeu, “Fifteen”. Pra sempre comigo!

Sobre o autor:
Eduardo Marasciulo tem um espírito aventureiro, uma paixão incondicional pela vida e um anseio por experiências novas. Viveu um ano em Dublin e dentre outras formas artísticas que usa para se expressar, está a escrita. Através de seus textos, externaliza alegrias, sensações, desejos, medos e muitas histórias de viagens. Para segui-lo, basta acessar o seu canal no Youtube, ou no Facebook.

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