Em quase dois anos de Irlanda, eu vi muita gente indo e vindo pelos motivos mais variados: pessoas com sonhos, cheias de coragem para encarar um intercâmbio, algumas após perderem o emprego e a estabilidade financeira, outras após uma desilusão amorosa. Tem também os recém-casados, que tentam em outro país melhores oportunidades para começar uma família, e por que não citar os estudantes que buscam o intercâmbio cultural e a troca de experiências?
Analisando meu comportamento e o daqueles que estão à minha volta, percebi que, embora todos queiram aprender inglês, isso acaba sendo só mais um item diante de uma gama de oportunidades de crescimento pessoal e realização de sonhos que essa experiência permite.
Mas nem todos partem para o Intercâmbio sem passagem de volta para o Brasil. Não sei dizer ao certo a porcentagem de quem fica ou de quem volta para casa, mas há pessoas que descobrem que seu lugar sempre foi e sempre será no Brasil. Há quem encerre seu ciclo na Irlanda e busque por novas experiências em outros países, há também quem deixou pendências e precisa voltar…
Já conheci mães que deixaram seus filhos e até maridos na expectativa de aprimorar o currículo e, ao final do curso, não tiveram dúvidas de que o Brasil era seu destino final. Mas, em meio a tantas histórias que tive o prazer de compartilhar, o motivo da “volta às raízes” que mais me inquietou foi a perda de um ente querido.
Em muitos casos, eu conheci os personagens, outros apenas ouvi falar. Mas teve quem voltou para casa mais cedo porque a mãe passou por uma cirurgia de risco – e também há quem não conseguiu chegar a tempo de dizer o último adeus àquela que lhe deu a vida. Teve gente que perdeu o irmão ou os avós no meio do intercâmbio, não conseguiu voltar e teve que lidar com a dor de estar longe sem poder amparar ou ser amparado.
Li postagens no Facebook de quem perdeu um animal de estimação ou descobriu um câncer. Conheci quem, durante os três anos que esteve na Irlanda, voltava para casa a cada seis meses por não saber conviver com a saudade dos pais, dos sobrinhos, do cachorro…
Todos esses relatos me fizeram pensar o quanto somos frágeis e não podemos controlar os nossos destinos. Tentamos escolher o melhor caminho a seguir, fazer escolhas sensatas, mas não podemos ter a certeza que sairemos ilesos dessas decisões. Comecei a imaginar o que faria se estivesse em alguma dessas situações e descobri que só saberia como agir se, um dia, algum destes angustiantes destinos viessem a me encontrar.
A vida, até então, só me pregou um peça: Recebi a triste notícia de que minha gatinha tinha morrido no Brasil. Concluí que, no final das contas, sou apenas mais uma na Ilha Esmeralda que tem que lidar com as escolhas que fez e com os destinos que a vida pode nos reservar.
Estaria eu menos triste se estivesse na minha terra natal? Não sei… Ninguém pode dizer… Estamos todos no mesmo barco, em busca de nós mesmos. A diferença é que alguns estão do lado de lá, enquanto nós escolhemos ficar do lado de cá do Oceano Atlântico!
Sobre a autora:
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