A possibilidade de poder trabalhar durante o período do intercâmbio tem sido um dos maiores atrativos da Irlanda para os estudantes brasileiros. Reza a lenda que sempre se encontra trabalho em bares, restaurantes, hoteis… os famosos “subempregos” – ou empregos nos quais não se exigem tantas qualificações. Mas será que de fato eles estão assim tão fáceis de conseguir? Quem responde a essa pergunta é o publicitário baiano Vinícius Estrela, de 31 anos, que tem muito a contar sobre a árdua tarefa de encontrar o tão sonhado “first job” na Irlanda.
A decisão em realizar um intercâmbio surgiu após anos de estagnação no meu campo de trabalho no Brasil, e eu sabia que um segundo idioma iria, e muito, contribuir para o meu futuro. Então, por que não arriscar?
Na verdade, eu não escolhi a Irlanda, foi ela quem me escolheu devido às suas vantagens perante os demais países. Eu sabia que aqui eu poderia estudar um segundo idioma e trabalhar para cobrir os meus gastos durante meu tempo vivendo fora – proposta perfeita para quem quer se aventurar e ainda assim poder se manter.
Eu tinha em mente que devido ao meu nível básico de inglês eu iria ter de encarar logo de cara os famosos “subempregos”, que me desculpem os resistentes a esse termo, mas na verdade ele é muito apropriado, já que, no geral, aceitamos empregos muito aquém das nossas qualificações curriculares.
Mas isso nunca foi problema para mim. Eu sempre estive consciente que esse seria o campo de trabalho no qual eu iria atuar, pois estava disposto a tudo para prolongar a minha estadia na Irlanda. O que eu não imaginava é que seria tão complicado e difícil.
Logo que comecei a procurar emprego percebi que o mercado de trabalho estava bem competitivo. E os agravantes iam muito além do idioma. Me deparei com algo que jamais imaginei: a falta de experiência. Se você pensa que para trabalhar de Cleaner, Kitchen Porter, Waiter, entre outros empregos, é simples e não há a necessidade de experiência, você está muito enganado.
Eu demorei praticamente seis meses até conseguir o meu primeiro emprego. Nesse tempo, vi amigos retornando ou desistindo no caminho, foi uma época triste e agonizante. Nessse período eu escutei todo tipo de histórias. Desde pessoas que conseguiram trabalho na primeira semana de procura, a outras que falavam em destino e sorte. Aquela coisa de bater na porta certa, na hora certa.
Mas comigo não foi assim. Virei mestre em criar currículos para todo tipo de trabalho, seguia dicas de todos, de amigos a estranhos. Acredito ter entregue mais de 100 currículos em um único dia, tamanho o desespero na busca por um trabalho. Eu não rejeitava nada, entreguei currículos em casa funerária, açougue… o que encontrava pela frente. No fundo eu sabia que, com persistência, chegaria lá.
Para não ficar parado na espera por um emprego, eu me virava com pequenos bicos. Até aparecer o primeiro emprego concreto fiz faxina, vendi jornais nos semáforos e trabalhei em eventos. No final posso dizer que esses pequenos bicos acabaram me deixando mais confiante, uma vez que adquiri a experiência que tanto exigiam.
Comecei a trabalhar de kitchen porter. Com o tempo passei a ajudar no atendimento aos clientes e em seguida cheguei ao posto de garçom. Com essa experiência, pude migrar para outras vagas em posições melhores, até chegar onde estou hoje.
Nessa busca incessante por trabalho, percebi que o período mais fácil de conseguir um emprego é o que antecede o natal ou no início da primavera, principalmente se o seu inglês for básico.
Aos aventureiros que sonham em fazer intercâmbio, sugiro que antes de embarcarem realizem alguns cursos profissionalizantes no Brasil. Algo como barista, atendente ou até mesmo de garçom. Isso irá contribuir muito para o seu aprendizado e já lhe deixará mais preparado para os desafios que possam surgir. No final das contas, pra muita gente são esses trabalhos que pagarão as suas contas nos primeiros meses de Irlanda.
Também esteja preparado para a falta de paciência dos futuros empregadores e seus sotaques. Nem sempre entendemos o que eles dizem, o serviço nem sempre é fácil e muitas vezes é necessário muito esforço físico.Para encerrar, prepare-se principalmente para os Nãos que você vai encontrar pelo caminho. Não deixe que eles te desanimem. Confiança sempre. Uma hora você também irá encontrar o seu emprego.
Conseguir um trabalho também faz parte das conquistas do intercâmbio. Os desafios que enfrentamos ao tentar exaustivamente encontrar uma vaga também agregam em experiências e nos ensinam valores preciosos para o resto da vida. Sem falar que trabalhar em um país distante, estar aberto para fazer algo novo, mesmo que seja abaixo de suas qualificações, também faz parte dos steps até chegar aos seus objetivos.
Para mim, foram exatamente esses trabalhos menores que me garantiram renovar o meu visto e me ajudaram na realização do meu sonho. Muitas vezes foram horas e mais horas de trabalho exaustivo, suportando todo o tipo de pressão. Manter o foco no meu objetivo de conseguir a fluência no segundo idioma foi imprescindível. Eu sabia que tê-lo seria importante para o meu futuro no Brasil.
Concluindo, o que levarei deste intercâmbio, sem dúvida nenhuma, será a autoconfiança, o sentimento de dever cumprido e humildade. Certa vez, ao atender um Professor universitário de Angola, o mesmo me viu abatido e disse: “Vinicius use tudo isso aqui que você está fazendo em sua vida como combustível para seus sonhos, sejam elas coisas boas ou ruins”. E é isso que penso cada vez que algo bom ou ruim me acontece. Quem deixa de fazer algo por medo, pode deixar passar grandes oportunidades.
Ficou com vontade de fazer intercâmbio? Comece por aqui!
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
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