Muita gente se prepara para o intercâmbio durante meses, esperando o dia da viagem e sonhando sobre como será a vida em outro país. Nesse processo, muitos têm aquela ideia de que tudo será colorido e mil maravilhas, não é? Preciso te contar uma coisa!
Apesar de ser um país lindo, a nossa querida Irlanda, mais especificamente Dublin, pode ser um grande desafio pra muita gente, acabando com esse sonho utópico logos nas primeiras semanas. Isso porque encontrar uma acomodação em Dublin decente para morar durante o seu intercâmbio está se transformando em uma tarefa tão difícil quanto aprender o próprio inglês. Então prepare-se!
É uma crise jamais vista no país e engana-se quem pensa que é um problema apenas dos estudantes estrangeiros. Nas últimas semanas, vários protestos e matérias pipocaram na mídia irlandesa evidenciando o problema que atinge hoje vários grupos sociais.
Segundo dados do Departamento de Moradia irlandês, quase 10 mil pessoas hoje encontram-se em situação de desabrigo. Um protesto realizado por ativistas como o grupo Inner City Helping Homeless reuniu cerca de 15mil pessoas, entre homeless, irlandeses prestes a perder suas casas e estrangeiros que hoje pagam absurdos para viver no país.
Quanto à classe estudantil, seja ela de estudantes de línguas ou universitários que escolhem a Ilha para seus estudos, a situação não é diferente. Segundo dados da The University Times, a preocupação na hora de encontrar uma acomodação no país, principalmente na capital Dublin, já está interferindo na performance estudantil.
Os brasileiros que desembarcam no país hoje, com apenas duas semanas de acomodação paga, precisam vir cientes que, essas semanas são precisosas para correr atrás de um lugar para viver. Infelizmente, encontrar uma acomodação hoje em Dublin tem sido uma das tarefas mais árduas para os recém-chegados. Para quem escolhe outros condados, a situação é mais amena.
O meu sonho do “intercâmbio perfeito” se desfez durante minha primeira procura por acomodação.
Entre uma visita e outra, acomodações esquisitas e longe de parecer o quarto que deixei no Brasil, cheguei a visitar um local que hospedava dezenas de pessoas na região do Temple Bar. A minha primeira sensação foi de estar em um filme – uma situação completamente assustadora pra alguém que tinha acabado de chegar no país.
Alguns meses depois, esse mesmo local que visitei veio à tona em todos os noticiários irlandeses. Os 45 moradores, na sua maioria estudantes e pessoas com baixa renda, estavam alocados em um flat com apenas um chuveiro para atender a 10 apartamentos.
Pois é. É dramático! Mas antes que você pense que eu saí correndo e voltei para o meu lar doce lar no Brasil, já vou afirmando: Assim como outros tantos estudantes, eu pedi forças à Santa das Causas Impossíveis e continuei correndo atrás de um lugar que fosse pelo menos arrumadinho para viver – E aqui estou eu, já na primeira renovação do meu visto!
É claro que esse foi um dos casos mais extremos que já vimos por aqui, mas a realidade é que a bolha da crise imobiliária só cresce e não surgem novas opções para hospedar tanta gente que chega na cidade.
Dessa forma, “a ocasião faz o ladrão” e começa a surgir de tudo: casos como esse citado acima, gente tentando tirar proveito de quem está no desespero e até os próprios conterrâneos tentando tirar vantagem dos novatos que desembarcam na Ilha.
Você vai começar a entender ao pé da letra o que a palavra drama significa. Isso porque, além de começar a interagir com um universo completamente novo: entrevistas, depósitos, as diferenças entre vagas compartilhadas, temporárias ou quarto single… E tudo isso no tempo recorde daquelas duas semanas que você pagou de acomodação (por isso o ideal é vir com um pouco mais de tempo de acomodação provisória, para não fazer tudo no desespero).
Achar um lugar que seja legal, limpinho e novo é quase um milagre. Se você veio com seu parceiro/parceira, as coisas podem ser ainda piores, já que as vagas para duas pessoas costumam ser longe do centro e não custam menos que 600 euros – a não ser que a sorte irlandesa tenha te encontrado!
Não fique achando que ter um quarto só pra você é certeza absoluta na hora de uma buscar uma vaga.
Tenho uma amiga que divide a casa com mais 8 pessoas, pagando 250 euros. No quarto dela, são quatro meninas, mas todas as roupas ainda continuam sendo guardadas dentro da mala, já que não tem espaço no guarda-roupa.
Reclamar dessa vaga? Jamais! Ela vive na Parnell Street, muito bem localizada, no centro da cidade e perto de tudo.
Conheci um casal na escola que resolveu alugar um flat. No dia da mudança, quando entraram na casa, a pessoa que vivia anteriormente resolveu colar tudo com super cola – desde a tampa do vaso até os pratos dentro da prateleira. Isso tudo por “raiva” do Landlord e uma maneira simbólica de dizer adeus. Imagina só a situação!
A verdade é que quanto menor for o valor do aluguel, mais complicada será a situação. Se deparar com casas em que o varal fica na sala, o colchão atrás do sofá e até sótão vira quarto, é algo comum. Ainda assim, se cobra caro por esses espaços improvisados. Aqui você descobrirá que dormir em euros vai além do caro.
Se você acha que dividir um quarto já vai ser difícil, há, ainda, aqueles que dividem uma cama de casal com alguém que nunca viu antes na vida. Pois é! Se já é difícil dividir a cama com seu parceiro/parceira, imagine essa situação. E essas vagas são mais comuns do que se imagina. O ensinamento vai além de repartir o espaço. Envolve abrir mão da sua privacidade e, inclusive, saber bem o seu lado da cama, pra não acordar no chão.
Na frustração de visitar várias acomodações, há quem comece a flexibilizar tanto que acaba até topando morar na sala. É colchão no chão, sofá que vira cama e por aí vai. Essas vagas tendem a ser bem mais baratas, mas é necessário um convívio mais que respeitoso e compreensivo de todos na casa, pois você pode estar querendo dormir na mesma hora que alguém quer cozinhar, por exemplo. Treinamento de paciência!
Dependendo do caso, você também pode optar por viver como Au Pair Live In, isto é, quando você mora no mesmo local que trabalha. Isso te ajudará a economizar uma boa grana, mas acrescentará o gasto com transporte no seu orçamento, já que as casas costumam ser mais afastadas do centro.
Para viver em Dublin, é preciso colocar todas vantagens e desvantagens na ponta do lápis. Você irá descobrir que morar na Europa não é tão fácil assim.
Vale ressaltar, também, que existem muitas pessoas que vão querer te enganar, inclusive brasileiros, infelizmente: moradores que querem cobrar mais ou que passam a vaga e vão embora deixando vários problemas. Tenha atenção, pergunte sobre o contrato da casa, sobre o Landlord. Várias pessoas são expulsas das casas, pois os moradores te aceitam, pegam depósito, mas não avisam o Landlord.
Não deixe o desespero te cegar na hora de encontrar vaga. Procure pelos grupos no Facebook, no mural da escola e se você já conhece alguém por aqui, não hesite em pedir dicas e aquela ajudinha básica que nas primeiras semanas fazem toda a diferença. O segredo é chegar bem preparado e consciente dos desafios.
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No entanto, a população irlandesa em geral também sofre com falta de casas disponíveis para alugar e comprar na ilha. O número de pessoas sem lar cresceu 20% em relação a 2017. Isso tem causado revolta e protestos dos irlandeses, que não conseguem encontrar casas para comprar ou alugar.
O CSO (Central Statistics Office – centro de estatísticas da Irlanda) afirma que existem 110 mil pessoas buscando comprar uma casa na ilha. Porém, a quantidade de lares sendo construídos é bem menor.O Departamento de Habitação da Irlanda diz que, entre 2015 e 2019, foram construídas cerca de 22 mil residências. Segundo o CSO, são apenas 450 novas casas sendo vendidas todos os meses e 15 mil propriedades mudaram de mãos em três anos. Em Dublin, foram só 5,5 mil compras e vendas realizadas em três anos.
Mas o que está acontecendo na Ilha Esmeralda? Por que faltam casas e sobram pessoas precisando de um lugar para viver?
Mas apesar de ter muita gente interessada na compra de imóveis sem a possibilidade de encontrá-los, existe uma taxa significativa de imóveis vagos. O CSO mostra que são mais de 2 milhões de casas e apartamentos na ilha. Destes, 1,7 milhão são ocupados por pessoas residentes. As casas de férias são responsáveis por 62,2 mil unidades habitacionais. O restante são 140 mil casas vagas e 43 mil apartamentos vagos. Destes, 30 mil são em Dublin.
A possibilidade de alugar temporariamente uma casa ou apartamento pode ser um dos motivos para a crise imobiliária. Proprietários de imóveis estão pedindo suas casas de volta e despejando inquilinos para utilizar seu espaço como opção de vaga temporária para visitantes e turistas, que pagam por dia sua estadia por meio de sites como o Airbnb. Há alguns anos, existiam 1.329 vagas disponíveis em Dublin ecadastradas na plataforma, que promove este tipo de serviço. Hoje são 3.165.
É preciso entender e colocar essa situação em um cenário onde a Irlanda – e Dublin, majoritariamente – possui inúmeras multinacionais e as visitas profissionais são constantes. Além disso, o potencial turístico da ilha é enorme. Segundo o CSO, entre abril e junho de 2018, 1,5 milhão de pessoas visitaram a Irlanda, número 6% maior que em 2017. O turismo na Irlanda é avaliado em 8,7 bilhões de euros anuais.
Não bastasse o despejo de inquilinos, os que permanecem nas casas estão pagando preços absurdos de aluguel. O valor subiu muito e hoje a média é de 1.304 euros para viver em um apartamento modesto com dois quartos, cozinha, sala e banheiro. Já em Dublin, uma residência de mesmo porte custa, em média, 1.900 euros. Esses valores, segundo reportagem do jornal Irish Times, subiram 75% desde 2011 e 4,8% em relação ao ano passado.
A tradição de sair da casa dos pais para viver sozinho quando se vai à universidade tem ficado para depois. Muitos jovens irlandeses na casa dos 30 anos ainda permanecem vivendo com a família justamente por causa da crise imobiliária.
Já os estudantes brasileiros que chegam à Irlanda precisam lidar, além de gastos com escola, alimentação e transporte, com o valor do aluguel. Sendo assim, é comum encontrar casas “abarrotadas” de gente para dividir o aluguel em valores mais baixos.
Na capital, Dublin, em uma casa onde vivem oito pessoas, com um quarto sendo dividido por quatro, o valor chega a 300 euros cada um, sem contar as contas de energia e internet, por exemplo.
Aluguel caro, falta de construção de novas casas, proprietários despejando inquilinos para tornar a residência em aluguel temporário… Tudo isso resulta, cada vez mais, em pessoas sem teto. Aproximadamente 10 mil pessoas são consideradas “homeless” (sem-teto) na Irlanda.
O número cresceu 20% em relação a 2017. Várias histórias destas famílias estão relacionadas a despejos repentinos, em que elas ficaram sem conseguir encontrar uma nova moradia com os mesmos valores pagos. Muitas delas agora esperam na lista de “casas sociais” e podem levar anos para serem realocadas.
Dublin é o ponto central do problema. Responsável por 10% da população da ilha, ela concentra o maior número de sem-teto. Foram 415 novas famílias que declararam não ter um teto para morar entre junho e setembro de 2018, segundo a organização Focus Ireland, que trabalha com sem-tetos.
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