Depois de dois anos longe de casa, vivendo na Irlanda, a saudade não morreu, mas aprendi a lidar melhor com ela. Aliás, aprendi a lidar melhor com tudo: com a distância, com a língua, com as casas pequenas e compartilhadas, com os novos trabalhos, com o frio, chuva, vento e com o meu novo eu.
Tem uma música que parece descrever muito bem esse período da minha vida, em que decidi vivenciar o intercâmbio: “Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe… E só levo a certeza de que muito pouco eu sei… ou nada sei”. Nessa trajetória toda que escolhi viver, o que é mais difícil de aceitar é que a vida continua no Brasil… sem mim.
Eu não conheço meu sobrinho, minha sobrinha não para de crescer e só lembra de mim pelas fotos. Eu tento me manter viva na memória dos meus primos caçulas por meio das mensagens do WhatsApp e Facebook. Perdi casamento da prima e da amiga, aniversários, batizados e velórios.
Com a distância, a seleção natural que preserva os amigos agiu mais rapidamente e foi fácil identificar quem iria continuar na minha vida e quem não passaria de um contato a mais nas redes sociais.
Algumas pessoas, que eram próximas, depois que me mudei nunca me enviaram uma mensagem para contar de suas vidas ou perguntar da minha.
Quando decidi fazer as malas, não mensurava o que me esperava pela frente. Chegamos em um ponto em que não sabemos mais a qual lugar pertencemos, e nos sentimos como um peixe fora d’água aqui e acolá.
No final das contas, nos tornamos mais fortes do que o que estava planejado e temos que nos reinventar pra tocar em frente.
Quando alguém me fala pra voltar logo, pois está com saudades, eu sempre penso “Você está com saudades de uma só pessoa, imagine eu, que estou com saudades de todos vocês.” Mesmo sem estar presente nos momentos importantes, é bom saber que sentem a minha falta.
Mas o fato é: a vida continua, e cada dia que passa, as lembranças de um tempo em que vivemos juntos vão se tornando mais distante para àqueles que deixei para trás.
Sobre a autora:
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