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Acordo da Sexta-feira Santa: 26 anos de paz entre Irlanda e Irlanda do Norte

Um importante laço de paz foi criado há 26 anos entre a Irlanda e Irlanda do Norte, após décadas de disputas, atentados e guerras. O Acordo de Belfast, mais conhecido por Acordo da Sexta-feira Santa, justamente assim é chamado porque foi assinado em 10 de abril, sexta-feira da Semana Santa de 1998 (Good Friday Agreement).

Ele promoveu uma trégua entre os governos britânico e irlandês e os partidos políticos da ilha. Em plena validade, ele garante direitos e deveres das duas Irlandas em relação a diversos patamares sociais e políticos.

Com o Brexit, porém, o Acordo da Sexta-feira Santa balançou um pouco, o que preocupa os governos britânico e irlandês, que temem a volta da violência entre os dois territórios.

Vamos entender toda essa história? Acompanhe este artigo.

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Quais foram os motivos da violência na Irlanda do Norte?

Um dos muitos murais em Belfast que ressaltam o passado de guerra entre Irlanda e Irlanda do Norte. Foto: Photo by PAUL FAITH/AFP/Getty Images

Os conflitos começaram há mais de 100 anos, nos anos 1920, década em que a Irlanda do Norte se tornou um local com sistema político próprio.

Quando isso aconteceu, a população da Irlanda do Norte foi dividida em duas: os sindicalistas ou legalistas, que defendem a permanência do país no Reino Unido, e os nacionalistas (ou republicanos), que queriam que a Irlanda do Norte fosse independente e se unisse à República da Irlanda.

Os primeiros, majoritariamente protestantes, e os segundos, católicos.

A tensão entre os dois lados se tornou violenta a partir dos anos 1960, seguindo até os anos 1990, com muitos combates entre grupos armados de ambos os lados e muitas pessoas morreram.

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Leia também: Quem vive na Irlanda do Norte é irlandês ou britânico?

Domingo sangrento

As tropas britânicas entraram em conflito com grupos armados republicanos, um deles conhecido como IRA — Exército Republicano Irlandês, que realizava atentados violentos na Grã Bretanha.

Já os legalistas atacavam com em grupos como a Ulster Defense Association (UDA) e a Ulster Volunteer Force (UVF). Ambos os lados foram responsáveis ​​por muitos assassinatos.

Um dos episódios mais conhecidos da violência entre republicanos e legalistas foi 1972, quando 14 pessoas foram mortas por tropas britânicas durante uma marcha pacífica pelos direitos civis liderada por católicos e republicanos em Londonderry.

Esse dia foi conhecido como Domingo Sangrento e inspirou a canção Sunday Bloody Sunday, da banda irlandesa U2.

Como surgiu o acordo?

Belfast, capital da Irlanda do Norte, onde o Acordo da Sexta-feira Santa foi assinado. Foto: K. Mitch Hodge/Unsplash

Os embates continuaram até os anos 1990, quando o IRA anunciou uma trégua. Nesse período, sindicalistas e nacionalistas começaram a discutir como resolver os problemas na Irlanda do Norte.

Após décadas de conflitos e dois anos de extensa negociação, o acordo da Sexta-feira Santa foi assinado em 1998.

Principal mudança do Acordo da Sexta-feira Santa

Quando a Irlanda do Norte se separou, seu governo era principalmente sindicalista. O acordo da Sexta-feira Santa foi justamente a ideia de estabelecer um governo novo e descentralizado para a Irlanda do Norte, no qual sindicalistas e nacionalistas dividissem o poder.

O Acordo também constituiu que só a população poderia decidir se a Irlanda do Norte seguiria parte do Reino Unido ou se juntaria à República. Por isso, foi acordado que não haveria mudança sem o consentimento da maioria. Isso é chamado de “princípio do consentimento”. Assim, a mudança poderá, no futuro, apenas ser decidida por meio de referendo.

Leia o acordo na íntegra.

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Prêmio Nobel da Paz

Os partidos UPP (Partido Sindicalista Ulster), liderado por David Trimble, e o Partido Social Democrata e Trabalhista (SDLP), liderado por John Hume, foram os principais na luta pela paz na Irlanda.

A importância deles para o Acordo da Sexta-feira Santa é tanta que seus líderes ganharam juntos o Prêmio Nobel da Paz de 1998.

O Acordo nos dias atuais

O ex primeiro-ministro Leo Varadkar ressaltou que, segundo o Acordo da Sexta-feira Santa, ‘Irlanda do Norte é parte do Reino Unido até que as pessoas decidam o contrário’. Foto: Merrion Street

O Acordo da Sexta-feira Santa voltou forte entre os assuntos mais comentados na Irlanda depois da saída do Reino Unido da União Europeia, em 2020. Afinal, a divisão entre a República da Irlanda, que permanece na UE, e a Irlanda do Norte, que agora não faz mais parte do bloco, gerou muitas dúvidas e discussões no meio político.

A principal delas era se o Acordo seria abalado com o Brexit.

O fechamento da fronteira entre os dois países foi a ideia mais criticada, assim como taxação de exportação e importação. Aliás, esses pontos ainda são discutidos, e o futuro segue incerto.

Na época, o ex-primeiro-ministro do país, Leo Varadkar chegou a afirmar ser muito explícito que o governo do Reino Unido siga rigorosamente imparcial na forma como administra a Irlanda do Norte, “e todos nós precisamos respeitar o fato de que as aspirações sobre o povo unionista e nacionalista são iguais”, ressaltando as pessoas que gostariam de unir as Irlandas (unionistas) e os contrários (nacionalistas).

Leia também: Brexit poderia unir Irlanda e Irlanda do Norte?

Varadkar disse acreditar que o Acordo da Sexta-feira Santa é uma “obra-prima”.

“É explícito sobre o princípio do consentimento, que a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido até que as pessoas decidam o contrário”.

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Protocolo regulamenta situação aduaneira após Brexit

Mural celebra “dia da paz” no oeste de Belfast que separa (até hoje) os republicanos católicos que vivem ao longo da Falls Road e os sindicalistas protestantes que vivem ao longo da Shankill Road. Foto: K. Mitch Hodge on Unsplash

A questão da fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte tem sido um ponto crítico desde que o Brexit foi pensado e segue até hoje. O objetivo era manter uma fronteira aberta, sem controles aduaneiros ou alfandegários, para preservar o acordo de paz de 1998.

No entanto, após a saída do Reino Unido da União Europeia, tornou-se evidente que as disposições acordadas para evitar uma fronteira dura não eram viáveis. O Protocolo da Irlanda do Norte foi negociado como uma solução para o problema, permitindo que a Irlanda do Norte permanecesse no mercado único da UE e na união aduaneira, enquanto o resto do Reino Unido não o fazia.

O Protocolo entrou em vigor em 1º de janeiro de 2021, mas desde então tem havido tensões entre o Reino Unido e a UE em relação à sua implementação.

A situação continua a ser um ponto de tensão entre o Reino Unido e a UE, e a Irlanda do Norte está presa no meio. As empresas que operam na região enfrentam custos adicionais e incertezas, enquanto os políticos na Irlanda do Norte pedem uma resolução urgente para a situação. É um lembrete dos desafios que o Brexit representa para a estabilidade política e econômica da região.

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Futuro das Irlandas

Outro momento em que o Acordo veio à tona foi durante as eleições legislativas da Irlanda, em 2020. O partido Sinn Féin, do qual o IRA era braço armado durante o período de conflitos, foi vitorioso, elegendo um número recorde de deputados.

Uma pesquisa realizada pelo jornal britânico The Times mostrou que a maioria dos irlandeses querem que a República da Irlanda e a Irlanda do Norte se unam a curto, médio ou longo prazo. Mesmo assim, o futuro ainda é nebuloso, e a torcida é para que a paz continue imperando sobre toda a ilha.

Após o Brexit, a União Europeia entrou formalmente com uma ação legal contra o Reino Unido pelo que descreve como uma violação “deliberada” do direito internacional devido à sua ação unilateral que prejudica o Protocolo da Irlanda do Norte, documento assinado pela UE e pelo Reino Unido justamente para salvaguardar o Acordo da Sexta-Feira Santa.

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Rubinho Vitti

Jornalista de Piracicaba, SP, vive em Dublin desde outubro de 2017. Foi editor e repórter nas áreas de cultura e entretenimento. Também é músico, canceriano e apaixonado por arte e cultura pop.

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