Não é incomum durante um passeio em uma cidade alemã, em um dia quente, você avistar pessoas completamente nuas tomando sol em uma praça qualquer.
O movimento Freikörperkultur — ou FKK, para os íntimos do naturismo — significa cultura do corpo livre. Conhecida em todo o mundo, a ideia é se sentir bem “como veio ao mundo”, sem julgamentos ou preconceitos.
Não à toa, a Alemanha tem inúmeros lugares — de parques a clubes e praias — onde se pode ficar pelado sem qualquer pudor. Esses lugares são identificados justamente com a sigla FKK.
Artistas e intelectuais iniciaram o movimento FKK no início do século 19 como forma de libertação, mas não libertinagem. Ficar nu, para os alemães, não tem conotação sexual, mas libertária.
Porém, durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas combateram duramente o movimento, que acabou por desaparecer. Após o fim da guerra, ele ressurgiu, primeiramente, na Alemanha oriental, tomando todo o país a partir daí.
Hoje, ficar nu em público chega a ser considerada uma tradição alemã, tamanha é a naturalidade das pessoas em praticar a ação. Uma pesquisa realizada pela Expedia, em 2016, afirmou que 72% da população aprovam a iniciativa. Um em cada quatro pesquisados disse que já ficou nu em público.
Até mesmo uma associação existe, desde 1949, para reunir os praticantes. A DFK (Deutscher Verband für Freikörperkultur), ou Associação Alemã para a Cultura do Corpo Livre, tem hoje 50 mil associados e 160 clubes registrados.
O movimento FKK, hoje, não se limita à Alemanha.
A Federação Naturista Internacional liga todas as associações ao redor do mundo, fornecendo serviços e criando uma agenda como congressos mundiais, eventos esportivos e familiares, festas e reuniões para os adeptos da prática, que geralmente acontecem na Alemanha, Espanha e Reino Unido.
Eles também divulgam clubes, hotéis, resorts, centros de férias, entre outros lugares nudistas.
Na página da federação, o nudismo é descrito como “um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez comunitária com o intuito de incentivar o autorrespeito, o respeito pelos outros e pelo meio ambiente”.
Segundo a psicóloga brasileira Lorena Ghersel, que vive na Irlanda, em uma sociedade na qual a nudez é extremamente reprimida e há uma busca incessante pela perfeição, as pessoas aprendem a não aceitar o próprio corpo. “O naturismo, ao estimular uma vida mais natural e espontânea, livre de rótulos e julgamentos, resgata o verdadeiro valor da beleza do corpo”, afirmou.
Para Ghersel, o exercício de se apresentar nu diante de si mesmo e de outras pessoas, praticando atividades do cotidiano, promove um ambiente de aceitação incondicional, livre de padrões de beleza ou competições estéticas, resultando em um aumento da autoestima, autoaceitação e amor próprio.
A Irlanda também tem sua própria associação naturista. A INA (Irish Naturist Association) tem como objetivo agregar interessados e promover eventos, debates e protestos.
Bem mais restrita que outros países, a Irlanda tem leis que criminalizam quem ficar nu em público com a intenção de chocar as pessoas, o que não deixa claro se os naturistas estariam cometendo um crime ao ficarem nus em uma praia, por exemplo. Por isso, eles lutam para que o governo possa definir praias naturistas com sinais informando à população.
Essa luta ganhou força em abril, quando o condado de Dublin teve oficializada sua primeira praia naturista, a Hawk Cliff, em Dalkey, distante cerca de 40 minutos do centro da capital.
É a única que conta com placas indicativas de naturismo. Apesar disso, existem diversas praias não oficiais de naturismo na Irlanda. Elas estão espalhadas pelos condados de Galway, Mayo, Wicklow, Wexford, Clare, Waterford e Cork.
Enquanto na Alemanha são centenas de espaços naturistas, na Irlanda existe apenas um, o Club Aquarius, voltado a casais e famílias naturistas. Ele fica em Dublin e promove encontros e piqueniques ao ar livre, além de ter sauna e piscina. Ele pode ser frequentado apenas por membros associados.
A associação irlandesa lançou um guia de etiqueta para novos praticantes do naturismo. A primeira regra é não ofender. “Somos mais vulneráveis quando estamos nus. Por isso, não façamos nada para que outros naturistas se sintam desconfortáveis”.
Manter o contato visual também é importante. “Não olhe e não ‘verifique’ os corpos de outros naturistas”. Respeite o espaço pessoal de outras pessoas.
Entre outras, sempre ter uma toalha para sentar também é uma regra, e isso inclui o uso da sauna. Quando se trata de privacidade, tirar fotos de outros naturistas é proibido, “a menos que você tenha a permissão específica de todos que possam estar nas fotos”.
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