Eu já voltei pra casa há 5 meses. Estou trabalhando, com a vida de volta “ao normal”. Quando recebi o e-mail de vocês, relembrei tanta coisa! Todas boas, que fique bem claro. Afinal, o intercâmbio foi um tempo de novidades, aprendizado, autoconhecimento. E mesmo com dificuldades e a saudade apertando, no fim das contas, acredito ter cumprido meus objetivos.
Aliás, foi exatamente essa a sensação que tomou conta de mim um dia antes de embarcar de volta pra casa: a de dever cumprido. Mission accomplished!
No início, foi um pouco difícil. Eu quase não entendia o que nossos amigos Irishs diziam e me dava um branco danado na hora de falar. Morar com a galera brazuca não ajudou tanto assim, mas, depois de dois meses, soltei a língua, estava confiante e não tinha mais vergonha de falar. Até aí, eu estava colocando em prática o que havia aprendido no Brasil. Ou seja, tinha me soltado mais, mas não melhorei o nível do inglês.
Com três meses de Irlanda, eu virei aupair. Isso foi o céu para melhorar meu conhecimento na língua. Além de, agora, estar realmente falando inglês a maior parte do meu tempo, a “mãe” e, até mesmo, as kids me corrigiam sempre.
O nível de inglês da mãe era muito acima da média. Ela tinha uma voz calma, um inglês bem articulado. Ela vivia me ensinando novas palavras, explicando gramática. Aproveitei essa super disponibilidade dela: se estávamos na cozinha, por exemplo, eu saía perguntando o nome de tudo!
E as kids, queridas, faziam um esforço tremendo pra explicar o que eu não sabia. Davam exemplos, faziam gestos. Bem legal. Ser aupair tem suas agruras, mas, para esse ponto dos meus objetivos, foi fundamental. Sem falar nas horas que eu passava conversando com a mãe. No início, eu somente ouvia. Uns meses depois, já estava tagarelando também.
E vocês não têm ideia de como fiquei feliz quando eu me percebi falando inglês! E quase com a mesma facilidade com a qual falo português (ênfase no “quase”, já que me falta muito vocabulário). Isso foi de uma auto satisfação imensa!
Graças a ela, eu comecei a ler em inglês também. Não só artigos na internet ou textos de jornais e revistas. A ler livros mesmo. Eu achava que ainda não teria um nível de entendimento suficiente. Ela insistiu e me peguei na biblioteca dela, lendo trechos de clássicos. Até que li um inteirinho! The Picture of Dorian Gray, Oscar Wilde. Sim, o primeiro livro lido tinha que ser de um irish.
Hoje, ainda mantenho contato com a família por Skype. O que é excelente. Na última vez em que conversamos, ela me disse que meu nível de inglês continuava o mesmo e que até arriscava a dizer que tinha melhorado um pouco. Principalmente na dicção e vocabulário. Como eu disse antes, mission accomplished. Mas ainda faltam diversos pontos para eu ser fluente no idioma, pois a parte escrita precisa ser bastante trabalhada, por exemplo.
Quando eu saí de casa para a Irlanda, eu pensei que ia ganhar muito bem, fazer altas viagens. Acabei aupair, o que, na realidade, foi ótimo, mas meu salário era bem pequeno. Mesmo para os padrões da “categoria” era um salário baixo. Então, eu tive que trabalhar com aquilo que tinha. Coloquei prioridades: a quais lugares não poderia deixar de ir? Londres, Paris, Roma e Grécia eram as minhas prioridades. Queria, também, conhecer mais da Irlanda.
Dentro do meu orçamento, eu consegui ir a Londres, Paris, Roma e Veneza. A Grécia eu deixei para uma próxima. Dentro daquilo que eu podia, cumpri esse objetivo. Deixei de fazer os passeios comuns dentro da Irlanda, mas, mesmo assim, considero proveitosa minha experiência.
Essas quatro cidades que conheci são maravilhosas, tudo aquilo que eu imaginava. Poder visitá-las foi a realização de um sonho. E o que não deu pra fazer dessa vez, é só trabalhar mais e ir! ;)
Fiz amigos de vários cantos do Brasil. Sim, porque ir para a Irlanda e não ter amigos brasileiros é impossível, não é mesmo? Com isso, fica um pouco difícil se misturar aos locais. Fui conhecer gente de outros lugares como — adivinhem o quê? — Aupair. E essa foi uma experiência muito rica. Gente, sem sair de casa, eu conheci: irishs, claro, pessoas da Nigéria, Zimbábue, Camarões e Alemanha.
Eu, que morria de medo de ter que voltar antes do tempo previsto por falta de trabalho/grana, até que consegui ter uma experiência bem proveitosa. Já começo a sentir falta do meu tempo de Irlanda.
Se há coisas que eu faria diferente? Sempre tem, né? Sempre é possível preferir um caminho a outro. Mas, como eu gosto tanto do que me tornei devido justamente às más escolhas, eu acho que faria tudo igual. Exceto guardar o dinheiro do aluguel dentro do bolso da jaqueta, ainda mais se estiver usando luvas. Mas isso é outra história!
O que eu recomendo pra galera que está embarcando no intercâmbio é informação. Pesquisem, leiam, perguntem tudo. Fucem mesmo. A pior coisa era ver gente chegando lá e quebrando a cara com coisas que um pouco mais de pesquisa evitaria.
Outra recomendação muito importante é: de todas as coisas que vocês vão colocar na bagagem, a mais importante é a mente aberta. Se não tiverem, nem embarquem, pois não será a mesma coisa, não terão a mesma diversão e aproveitamento dessa experiência.
E mais uma coisinha: o Brasil pode não ser o melhor lugar do mundo e vocês encontrarão um realidade por vezes bem melhor que a nossa em vários aspectos, mas sair falando mal do Brasil mundo afora é muito feio!
Era isso! Abraços
Mariana Aguirre
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