Autoridades irlandesas prestam homenagens a Papa Francisco após sua morte

A morte do Papa Francisco nesta segunda-feira provocou uma onda de comoção na Irlanda, país que recebeu o pontífice com entusiasmo durante sua visita em 2018. Reconhecido por sua humildade, defesa dos marginalizados e liderança moral em tempos de incerteza, Francisco deixa um legado profundamente sentido por líderes políticos e religiosos irlandeses.

O presidente Michael D. Higgins, o atual Taoiseach Micheál Martin, o Tánaiste Simon Harris e o ex-Taoiseach Leo Varadkar, que era primeiro-ministro durante a visita do Papa ao país, prestaram homenagens emocionadas.

Um momento histórico: a visita de papa Francisco à Irlanda em 2018

A visita de Papa Francisco à Irlanda ocorreu em agosto de 2018, como parte do World Meeting of Families, evento católico internacional voltado para a promoção dos valores familiares. Essa foi a primeira visita papal ao país desde João Paulo II em 1979, e aconteceu em um contexto delicado para a Igreja Católica na Irlanda, marcada por escândalos de abuso sexual e um declínio na prática religiosa.

Durante dois dias, o Papa participou de eventos em Dublin e no santuário de Knock, no condado de Mayo. Cerca de 500 mil pessoas participaram da missa celebrada no Phoenix Park, em Dublin, apesar do clima chuvoso. Mas além das celebrações, a visita também foi marcada por encontros privados e declarações públicas em que o Papa reconheceu, com dor e vergonha, os casos de abuso cometidos por membros do clero e o fracasso institucional da Igreja em lidar com eles.

Leo Varadkar: “Ele trouxe muitos de volta à Igreja”

O então Taoiseach Leo Varadkar, que recebeu o Papa em Dublin Castle, relembrou com carinho a visita. Em declaração nas redes sociais, Varadkar afirmou:

“Sinto muito pela morte do Papa Francisco. Lembro-me com carinho de sua visita a Dublin em 2018. Para mim, ele foi o Papa que aproximou um pouco mais da Igreja Católica muitos que se sentiam distantes dela. Ele acolheu casais gays e suas famílias e priorizou a justiça social em detrimento da doutrina. O mundo hoje está diminuído após sua morte.”

Varadkar, primeiro líder assumidamente gay da Irlanda, destacou o gesto de acolhimento do Papa a casais do mesmo sexo durante o evento, um sinal de mudança na abordagem pastoral da Igreja sob a liderança de Francisco. Sua postura mais inclusiva foi vista por muitos como um ponto de inflexão na relação da Igreja com a sociedade irlandesa moderna.

Homenagens das principais autoridades irlandesas ao papa Francisco

O presidente Michael D. Higgins relembrou os encontros pessoais que teve com Francisco, exaltando sua visão espiritual como força ética diante dos grandes desafios contemporâneos. Citando encíclicas como Laudato Si’ e Fratelli Tutti, Higgins destacou o apelo do Papa por solidariedade, justiça ambiental e dignidade humana.

“O Papa Francisco buscou, com humildade, nos mostrar a importância do espiritual como fonte de ética global”, disse o presidente, relembrando a encíclica Laudato Si’ e as palavras do Papa contra “a globalização da indiferença”.

Já o primeiro-ministro irlandês Micheál Martin ressaltou o impacto do Papa sobre o povo irlandês e sua coragem ao confrontar os erros da Igreja. “Seu legado é uma mensagem de paz, reconciliação e solidariedade que vive no coração daqueles que ele inspirou”, afirmou.

Simon Harris, atual vice-primeiro-ministro da Irlanda, descreveu Francisco como “um farol de esperança e voz dos sem voz”, lembrando especialmente seu foco na inclusão, nos direitos dos refugiados e no cuidado com a Terra como um dever moral cristão.

Os líderes irlandeses ainda disseram, no final de suas declarações, a frase em irlandês: “Ar dheis Dé go raibh a anam”, que significa, que sua alma esteja à direita de Deus.