Quando você chega a outro país, tudo automaticamente muda. O mundo parece outro, você já não é a mesma pessoa… Acostume-se: é uma enxurrada de novidade, às vezes muito boas e engrandecedoras, outras nem tanto. Muito depende da forma como você lida com todas as transformações. O importante é desapegar, trilhar seu caminho, não esquecer quem você é e manter seu foco.
Para os intercambistas em Dublin, tudo começa na acomodação temporária — todo estudante que chega aqui passa por uma.
Normalmente, é em uma residência estudantil que você se hospeda enquanto procura a casa perfeita. No meu caso, fiquei por duas semanas na casa mais acolhedora que eu podia ter. Tive sorte, pois isso diminui muito o impacto inicial. Faz a gente se sentir parte de algo. Faz a gente se sentir em casa. Foram duas semanas maravilhosas. Enquanto eu procurava um lar para chamar de meu, ia explorando a cidade.
Assim que cheguei, fiz amizade com um grupo de brasileiros.
No começo, tentamos uma casa para todos juntos. Não é impossível, mas é uma alternativa mais difícil. Afinal, todos eram recém-chegados e apenas estudantes. A gente foi tentando junto e separado. Nessas andanças, tive a oportunidade de estar em alguns cantinhos lindos de Dublin.
Não demorou muito e eu encontrei e me mudei para a casa permanente — eu e uma amiga. Viemos morar numa casa onde nós éramos as únicas brasileiras.
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No nosso Big Brother Irlanda tinha nigeriano, croata, polacas, romeno e irlandês. Todos jovens. O que tínhamos em comum, exceto a Irlanda? Nenhum de nós tinha o inglês como língua materna, todo mundo come arroz e toma cerveja. Fomos bem recebidas.
Acho que brasileiro causa um pouco de curiosidade. Nossa cultura é linda e, no fundo, sei que todo mundo sabe disso — na verdade, queria que todo mundo soubesse. Bebemos juntos algumas vezes, nos sentimos burras tantas outras. Às vezes se comunicar parece complicado. A gente se esforça, eles também. Chegaram a perguntar se podiam corrigir… é claro que sim. Estamos aqui para aprender.
Inventamos um churrasco. Eles avisaram: com esse tempo, não vai dar bom. Ignoramos. Foi a pior ideia que já tivemos. Junto à carne, queimei minha reputação de churrasqueira. Foi terrível. Engraçado foi ver as polacas provando o coração de galinha. Elas quase vomitaram e perguntaram se ele era daquele tamanho mesmo ou se a gente tinha cortado. Viver com pessoas de tantos lugares diferentes é um choque cultural diário.
No geral, eles são muito reservados, cada um no seu quadrado. Isso torna a convivência mais pacífica. A casa é grande. Muitas portinhas. Cada um no seu quarto. Cada um no seu universo particular. Já passamos por milhares de situações, algumas hilárias, outras nem tanto. O lance é que estamos tentando sempre não deixar coisas bobas ou pequenas atrapalharem o percurso.
O mais importante aprendizado de tudo isso é respeitar o espaço e a cultura do outro. O coração e a mente continuam abertos, vivendo um dia de cada vez. Treinando a paciência e o inglês!
Sobre a autora:
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