Brasileiro espancado em Dublin se recupera após cirurgia; leia o relato
3 anos atrás
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A tarde de quarta-feira, 29 de dezembro, era para ser muito especial para Artur Oliveira, 18. O jovem estudante, nascido em Poço Verde, Sergipe, veio visitar o pai, Denilsio Matos dos Santos, 43, que atua há três anos na área de construção civil na Irlanda.
Naquele dia, Artur foi ao cabeleireiro no bairro Dundrum, em Dublin, e passou por um supermercado para comprar o que faltava para a ceia de Ano Novo. A preparação para a data junto ao pai ainda contava com uma viagem que estavam planejando no interior do país. Mas nada saiu como o esperado.
Artur foi brutalmente espancado por um grupo de adolescentes enquanto esperava por um ônibus para voltar para casa.
O edublin conversou com a vítima e com seu pai, que narraram o episódio de violência e a recuperação do jovem após várias fraturas em seu rosto.
Ataque ocorreu às vésperas do Ano Novo
Por volta das 19h30 do dia 29, Artur já estava pronto para voltar para casa, que fica em Enniskerry, condado de Wicklow, para iniciar os preparativos para o Réveillon.
Enquanto aguardava a chegada do ônibus, no ponto 2825, perto da estação do Luas de Dundrum, um grupo de adolescentes se aproximou de Artur. No primeiro momento, chegaram a perguntar as horas para o jovem, mas já com aparente segundas intenções.
“Eram três meninos e três meninas. Eles ficaram conversando um tempo entre eles e depois começaram a me agredir do nada”, relatou o garoto, que não tem inglês fluente e não sabe dizer detalhes do que eles disseram.
Segundo relatou Artur, o grupo revirou suas coisas e roubou aproximadamente 300 euros em dinheiro. Após ser atacado, ele voltou ao supermercado onde havia feito compras para pedir ajuda e encontrou uma brasileira, que prontamente o ajudou.
Ana Paula contou que o jovem chegou muito machucado ao supermercado. Ela o ajudou e entrou em contato com a Garda, que logo chegou. “Fomos buscar as coisas que ele deixou lá no ponto de ônibus e eu intermediei a conversa entre ele e a Garda”, contou.
Fraturas no rosto e no maxilar
Artur foi à delegacia, onde prestou depoimento. A Garda chamou um médico para fazer uma avaliação e Artur foi então levado ao St.Vincent’s Hospital. De lá, foi transferido ao St James’s Hospital, onde foi feito raio X e detectado vários ossos quebrados em sua face.
“O maxilar estava quebrado em três lugares e precisei fazer a reconstrução do maxilar. Existe ainda outra fratura ao lado do nariz e uma abaixo do olho”, ressaltou Artur, que após muitos dias consegue falar novamente.
Artur será avaliado novamente para saber se vai precisar passar por nova cirurgia.
Pai acredita que violência seja fruto de preconceito
Ser estrangeiro e não saber falar inglês é, possivelmente, a causa do ataque dos adolescentes a Artur. “Eu fiquei surpreso de sofrer esse ataque, eu quase não escuto sobre isso aqui e eu não sei bem ao certo o motivo, mas acho que ser estrangeiro pode ter motivado”, disse o garoto.
Para Denilsio, o filho sofreu sim um ataque de preconceito. “Não é pelo dinheiro, isso não tem problema. O dinheiro, se roubaram, vem outro. A pior parte é espancar, bater. Foram seis pessoas contra um, não tem como lutar. Fiquei preocupado com a pancada na cabeça, poderia ter ficado inconsciente. Graças a Deus ele está bem e a vida continua.”
Denilsio afirmou que também sente na pele o preconceito. “Quando passo por eles (grupo de garotos) eu fico com a cabeça baixa”, afirmou, dizendo que o episódio de violência estragou os planos de fim de ano de pai e filho.
“A gente pretendia fazer um passeio na casa de amigos, próximo de Kildare.”
No total, os custos com medicamento e transporte para idas e vindas do hospital já chegam a quase 300 euros. Ainda não se sabe se haverá custos a serem pagos por Artur e seu pai pelo atendimento hospitalar e a cirurgia.
O pai ainda diz estar preocupado se o período de permanência do filho de 90 dias (visto de turista) será suficiente para ele terminar os tratamentos.
Vida nova na Irlanda
Denilsio trabalha na ilha da Irlanda há três anos. Primeiro, o sergipano de Poço Verde, cidade de 23 mil habitantes de Sergipe, começou a trabalhar na Irlanda do Norte, mas, recentemente, conseguiu um visto de trabalho (work permit) oferecido por seu empregador para atuar na área da construção civil na República da Irlanda.
Denilsio disse que veio à ilha para conseguir melhores condições para sua família e que pretende trazer a esposa e o filho mais novo, além de Artur, para morar com ele. Mesmo com a violência sofrida apenas na visita ao seu pai em Dublin, Artur disse que tem planos de viver na ilha em um futuro breve.
Relatos da Garda e Embaixada do Brasil na Irlanda sobre o caso
O edublin entrou em contato com a assessoria de imprensa da Gardaí, que confirmou o atendimento da ocorrência. Segundo informaram, o departamento de polícia de Dundrum continua investigando o caso. “Nenhuma prisão foi feita, mas as investigações estão ativas e em andamento.”
Ao edublin, a Embaixada do Brasil em Dublin encaminhou a seguinte nota:
“A Embaixada agradece a informação e se solidariza com a dor e o sofrimento do cidadão brasileiro e de sua família. Não obstante o sentimento, depreende-se da leitura do relato que o assunto já foi transmitido às autoridades policiais irlandesas, que têm competência exclusiva na condução do processo.
Se o interessado, Arthur Oliveira, ou sua família, na impossibildade de ser o Arthur o requisitante, assim o desejar, a Embaixada oferece para a comunidade brasileira na Irlanda a possibilidade de realizar uma primeira consulta com Escritório de Advocacia, quando se tratar de caso grave (avaliaçãoda gravidade a cargo exclusivo da Embaixada) , para uma primeira orientação legal, com custo coberto pela Embaixada.
A solicitação, que será enviada ao Escritório pela Embaixada, com cópia para o interessado, deve ser encaminhada para o seguinte endereço eletrônico: [email protected].
Esclareço, por oportuno, que a Embaixada cobre apenas o custo da primeira orientação, e não o do acompanhamento do caso na sua integralidade, que deverá ser coberto pelo próprio interessado. Esclareço, igualmente, que a orientação poderá ser dada em Português ou em Inglês.”
O edublin publicou um artigo com o passo a passo sobre como reportar crimes e casos de violência na Irlanda. Leia aqui!
Mais casos de violência contra brasileiros na Irlanda
O edublin já relatou inúmeros casos de violência contra brasileiros na Irlanda, principalmente em Dublin. Entre eles, estão relatos de entregadores atacados por grupos nas ruas da capital irlandesa.
O caso mais marcante foi a morte do brasileiro Thiago Côrtes, atropelado e morto por um carro dirigido por um adolescente sem autorização para dirigir.
Também há casos de homofobia na Irlanda, além do preconceito racial e étnico, inclusive no mercado de trabalho, e xenofobia.
Apoio ao imigrante: onde encontrar?
Existem diversas instituições de apoio aos imigrantes. Algumas delas trabalham para auxiliar quem sofre algum abuso dentro do ambiente de trabalho.
O Migrant Rights Centre Ireland — Centro de Direitos dos Migrantes na Irlanda — está na lista dessas organizações. Eles têm como foco ajudar vulneráveis. Trabalhadores como babás, domésticos, funcionários de restaurantes, entre outras funções em que é mais comum ocorrerem abusos são prioridades.
A Enar (Rede Européia Contra o Racismo) tem representação na Irlanda. A rede nacional de organizações da sociedade civil antirracistas trabalha coletivamente para destacar e abordar a questão do racismo por meio da promoção e monitoramento de iniciativas antirracistas da União Europeia, principalmente. A organização oferece análises e ferramentas para capacitar aqueles que vivenciam o racismo a agir. Além disso, é um canal aberto para denúncias.
Immigrant Council é uma ONG que atua na defesa dos direitos dos imigrantes e é também um centro jurídico independente, que oferece apoio gratuito para qualquer assunto relacionado a vistos, reunificação familiar e apoio a vítimas de tráfico de pessoas.
Imagens meramente ilustrativas
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