Dizem que a experiência de um intercâmbio é sempre inesquecível. De fato. Mas, para o fotógrafo brasileiro Paulo Rogério Peres, a vida nunca mais será a mesma após ter decidido sair do conforto do lar e da segurança do emprego no Brasil para se aventurar na Irlanda, no auge dos 46 anos.
Com sonhos e anseios, ao lado da esposa Nair Sakamoto, Paulo certamente carregava muitas incertezas, mas jamais imaginaria que a experiência em outro país o colocaria em uma cadeira de rodas e com a grande dúvida de se um dia poderia andar novamente.
Depois de 12 anos atuando em sua própria empresa de fotografia em São Paulo, com as três filhas já criadas, netos nascidos e o casamento maduro, Paulo começou a sentir vontade de realizar um sonho de criança: viver em um outro país. “Senti aquele buraco na minha alma que só poderia ser fechado com uma viagem. E não uma viagem turística, mas um intercâmbio”, disse.
Foi então que, em julho de 2017, o avião aterrissou na Irlanda com Paulo e Nair, suas bagagens, expectativas e sonhos.
Paulo chegou com tudo preparado e sabia como funcionava o mercado de fotografia. “Cheguei em uma quarta-feira e na sexta eu já estava trabalhando”, disse.
Menos de um mês depois, no dia 8 de agosto, Paulo sentiu uma dor forte do lado esquerdo da barriga. Ele foi ao hospital no dia seguinte e soube que se tratava de uma artéria rompida próxima ao rim, que estava causando uma hemorragia interna. “Eu havia perdido muito sangue e precisei ser operado, mas seria uma cirurgia sem risco”, afirmou.
Foram mais de duas horas de intervenção. “Quando acabou, minhas pernas não se moviam. Falei com a médica e ela disse que poderia ser a anestesia e pediu para eu esperar”, disse Paulo.
Depois de oito horas, ele questionou novamente à médica. “Perguntei se havia acontecido algo errado. Quando ela disse que houve um problema mesmo, eu lembro que comecei a chorar com minha esposa. Olhei para a equipe e todo mundo estava chorando. Foi muito forte”, lembra.
O que era para ser uma cirurgia relativamente simples se tornou um pesadelo na vida de Paulo. A medula havia sido lesionada, o que resultou na falta de movimento nas pernas.
Paulo ressalta que interpretou a nova situação como mais um desafio que ele teria pela frente. “Fiquei três meses internado. Minha vida virou no avesso. Em um mês e meio eu já estava curado da artéria, mas segui no hospital por conta da lesão medular”, disse Paulo.
Ele afirmou que hoje não confia mais nas instituições de saúde da Irlanda e não iria a um hospital por qualquer motivo.
De acordo com o jornal Irish Times, em matéria publicada no ano passado, ao menos 1.000 mortes acontecem todos os anos por erro médico na Irlanda e 160 mil ocorrências são registradas em pacientes por erro humano em hospitais.
Em novembro, Paulo saiu do hospital e foi colocado pelo seguro em um hotel até o fim do contrato, que ocorreu em março. Desde então, ficou sem assistência alguma. “Neste momento que eu me autodescobri. Eu disse: ‘Paulo, agora é com você. Você vai fazer a mesma coisa que você faria antes, mas agora em uma cadeira de rodas’.”
Mal saiu do hospital, Paulo já se viu em sua cadeira de rodas e com a câmera nas mãos. Afinal, para ele, fotografar é também uma terapia. Ele não pensou nem por um segundo em parar.
Apesar disso, o primeiro trabalho foi difícil. “Senti uma insegurança enorme em fazer meu primeiro ensaio na cadeira de rodas. Pareceu ser a primeira vez”, disse, ressaltando que precisou se redescobrir e lidar com as limitações. Muitas das fotos são publicadas na conta de Paulo no Instagram.
O caso de Paulo foi parar na internet e teve uma repercussão muito grande. “Recebia recados o tempo todo de pessoas que eu não conhecia, dizendo para eu ter força, que elas estavam rezando por mim”, lembra Paulo.
Segundo ele, a comunidade brasileira o acolheu com amor e fraternidade e o fez rever os conceitos de humanidade. Mais do que isso, o ajudou financeiramente. “Fiquei com muito medo, e a ajuda da comunidade brasileira me deu forças para não desistir.”
Muitos detalhes do caso não podem ser contados por conta de dois processos que o envolvem. Assim, Paulo segue necessitando de ajuda, conseguindo viver com doações. “Se não fosse a ajuda financeira e de alimentos da comunidade brasileira, eu não teria como pagar minhas contas”, disse.
Até mesmo as sessões de fisioterapia estão sendo aplicadas por um brasileiro, gratuitamente. Eventos também são realizados para auxiliar o fotógrafo e sua esposa. O próximo é uma festa caipira que acontece no dia 18 de agosto.
Os interessados em contratar o trabalho de Paulo ou ajudar de alguma forma podem entrar em contato com ele através do e-mail cassisperes@gmail.com.
A lesão medular de Paulo é parcial, mas ainda é muito cedo para saber qual será o resultado dela. “Não sei se vou voltar como eu andava, mas certamente será melhor que agora”, acredita Paulo.
Ele apresenta movimentos leves nos pés e tem alguma sensibilidade. “Não sei, pode ser um ano ou dois, mas a probabilidade de voltar é muito grande”, disse.
Sobre o futuro, Paulo tem muitos desejos. “Estou aplicando para estudar Filosofia aqui em Dublin, que foi um sonho antigo que adiei, mas não vejo a hora de começar. Entender e lidar com essa nova fase da minha vida abriu horizontes e perspectivas. Quero manter meus sonhos e realizá-los, mas em uma condição diferente, o que só aumenta o desafio.”
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