Cantora Maria Rita fala com exclusividade sobre show em Dublin
6 anos atrás
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Com show marcado em Dublin, Maria Rita fala sobre música e intercâmbio em entrevista exclusiva! Ouça no player abaixo.
São 15 anos de carreira, passeando pelas ondas da bossa nova, do jazz, do samba e do pop. Maria Rita estreia seu novo show Voz e Piano, junto com o lançamento do novo álbum, Amor e Música, rodando diversas cidades da Europa e desembarca em Dublin na sexta-feira, 31 de agosto, com um espetáculo que acontece às 20h, no Vicar Street. A apresentação marca o debut da cantora na capital irlandesa.
Em entrevista ao E-Dublin, Maria Rita conta detalhes sobre o show, além de falar sobre música, carreira, intercâmbio, sua experiência vivendo no exterior e sobre sua mãe, Elis Regina. Confira os principais trechos e ouça a entrevista completa em nosso podcast acima.
E-Dublin: Você possui uma larga trajetória de turnês internacionais — Portugal, Suíça e Inglaterra são exemplos de destinos cativos. Em que momento a Irlanda passou a integrar sua turnê atual pela Europa?
Maria Rita: Quando vem um convite de um contratante de fora, para aproveitar a oportunidade vamos lançando para outras cidades. Para mim, é sempre incrível, porque é um desafio enorme chegar em um lugar com um novo show, mesmo que sejam cidades onde eu já tenha até me apresentado. É sempre um desafio novo. Eu só libero! Quanto mais, melhor, porque eu amo o que eu faço, amo viajar, amo conhecer culturas diferentes.
Quando eu vi Dublin na agenda eu tomei um susto, no bom sentido. Fiquei muito feliz, frio na barriga de nervosismo… achei incrível a oportunidade. Veio o convite e eu agarrei a oportunidade com unhas e dentes, porque nunca estive em Dublin e é uma super oportunidade de conhecer, nem que seja por algumas poucas horas, uma cidade que não conheço pessoalmente, de apresentar meu trabalho para um público que talvez não me conheça… eu acho incrível.
E-Dublin: Na Irlanda existe uma escola de samba, a MaSamba, que está completando 20 anos de existência. Como você vê esse movimento intercultural entre países que, historicamente, possuem uma relação ainda muito tímida?
Maria Rita: A cultura, em modo geral, exerce um papel importantíssimo no intercâmbio entre países, entre as culturas em suas diversas manifestações, quero dizer, música, literatura, teatro, cinema, dança. Acho que a cultura é o que nos aproxima. Todas as culturas têm expressões particulares nas artes como um todo, o que abre um diálogo entre países e estabelece a possibilidade de ver as nossas semelhanças mesmo dentro das nossas diferenças. Acho maravilhoso.
Eu não sabia da existência dessa escola de samba e fiquei bem curiosa, claro, deve ser muito interessante. Já vi samba no Japão. É interessante ver como as duas culturas se encontram. O suingue do Brasil com o perfeccionismo do japonês gera uma outra coisa, que é bem particular e muito interessante. Acho que é sempre uma coisa agregadora, uma riqueza. Eu, que vivo disso e para isso, me sinto lisonjeada.
E-Dublin: A Bossa Nova foi, de certa forma, o gênero musical brasileiro que conquistou o maior espaço no cenário internacional. Como você vê a penetração de outros ritmos brasileiros no cenário mundial atual?
Maria Rita: Eu sou muito grata à Bossa Nova, não só pela fonte de onde se bebe tanto, indireta ou diretamente, mas justamente por ter aberto essa porta. Quando chega a Bossa Nova no mundo afora, com nível de excelência de Tom Jobim, do que foi o movimento, ela cria o que é a música brasileira para o mundo. Das vezes que eu fui para fora do Brasil com meus espetáculos, eu acredito que muito da receptividade calorosa e querida que eu tenho é por conta de uma apreciação, de um carinho e admiração, que foram estabelecidos há 60 anos.
Acho que a Bossa Nova cumpre ainda esse papel de abrir as portas e janelas para todos nós e para todos os gêneros. O mundo como um todo tem uma generosidade para com a música brasileira muito por conta dessa trajetória da Bossa Nova. Não saberia te dizer o quanto os gêneros musicais atuais do Brasil penetram de fato. O que vejo muito ainda é essa ligação de vários gêneros. Você vê o Stevie Wonder vindo para o Brasil tocar no maior festival de música brasileiro e ele toca Garota de Ipanema, acompanhado por 120 mil pessoas cantando em português, enquanto ele toca no piano.
Ainda é a manifestação maior de entendimento do que é a música brasileira. Se você quer chegar no coração do público não-brasileiro, faça isso. Se coloque disponível à bossa nova, que é como as pessoas mais vão se identificar um caminho para a música brasileira.
E-Dublin: A maioria dos brasileiros que desembarcam na Irlanda todos os anos para aprender inglês sabe pouco sobre o país. Você conhece alguma coisa sobre a Irlanda?
Maria Rita: Pois é, são países historicamente distantes de certa forma. Eu morei nos Estados Unidos por oito anos, então a migração irlandesa para lá sempre foi muito forte, com a família Kennedy, aquela coisa toda. Tem uma tradição “irish” respeitável nos Estados Unidos. Eu tenho alguma proximidade com as celebrações, o trevo, o verde, tenho alguma possibilidade de reconhecer.
Sei das disputas, digamos assim, sociais, religiosas… mas muito por conta do meu contato com a cultura norte-americana. Talvez eu tenha uma posição um pouquinho privilegiada neste sentido, mas certamente vale se informar um pouco mais antes de chegar, eu diria (risos).
E-Dublin: Você morou por muitos anos nos Estados Unidos. Acredita que uma experiência no exterior contribuiu positivamente no seu amadurecimento pessoal?
Maria Rita: Foi fundamental, especialmente por conta da minha árvore genealógica, digamos assim. Porque, enquanto adolescente, a gente é muito inseguro, né?! Muito instável, emocional, emotivo… e eu ficava me questionando muito nas minhas relações pessoais e sociais. “Fulano é meu amigo ou é amigo da ‘filha da Elis’?”. E assim sempre teve essa “sombra”, o que é uma coisa absolutamente natural.
Eu li muitas entrevistas dos filhos do John Lennon, muitas entrevistas dos “filhos de…”, em geral. É uma coisa que é fato, porque na adolescência, especialmente, é quando a gente está tentando se conhecer, estabelecer a personalidade, sonhos, ideologias, políticas, enfim… e eu tinha um ruído acontecendo.
Com 16 anos, eu me mudo para os Estados Unidos e sou absolutamente ninguém, “filha de ninguém”. Eu não era ninguém e isso me dá um alívio, porque me dá uma certeza de que minhas conquistas eram de fato minhas. Me formar no colegial, falar as línguas que aprendi a falar, a conquista no coro da escola… Não era porque eu era filha da Elis e do César Camargo Mariano, era porque eu cantava bem, era afinada e a maestrina achou que eu tinha que estar lá.
Aí vou para a faculdade, me formo e todas as minhas conquistas eram só minhas. Isso me permite um espaço de mim comigo mesma, de explorar diversos caminhos para a minha vida, profissionalmente falando. E nesse processo, que era por vezes muito solitário e muito sombrio, de certa forma eu me entendi na música e, posteriormente, me entendi cantora.
Para mim, foi fundamental ter saído do Brasil e visto outra realidade, outro mundo e não ser ninguém. Andar na rua, de metrô, pagar conta atrasada, ficar sem dinheiro no banco, ter que negociar na faculdade, tudo sem facilidade alguma. Nada contra as facilidades, mas foi importante eu me entender um ser humano sem nenhum tipo de privilégio. Eu tinha que batalhar as minhas coisas por mim e isso foi muito bom. E essa fibra é minha até hoje.
É constante ter as lembranças do que eu passei, dos momentos inseguros que vivi e destas conquistas. Isso me empurra, me leva para frente.
E-Dublin: Você cita que o seu novo álbum “Amor e Música” traz uma mensagem de esperança e também exalta o fato de você ter conseguido migrar de um universo para outro com facilidade — uma proposta que conversa bem com os quase 10 mil brasileiros que hoje vivem na Irlanda e que também migraram para um universo bem distinto de sua realidade. Como você vê esses brasileiros que, cada vez, mais têm buscado esse fio condutor de esperança em outros países?
Maria Rita: Eu admiro muito essas pessoas. Eu já vivi essa experiência de mudar, primeiro com meu pai e depois sozinha. Fui para a vida tentar coisas, explorar. Eu me identifico e entendo os prós e os contras, o positivo e o negativo, a luz e a sombra desta experiência. Eu tenho muita admiração por pessoas que apostam nos seus sonhos, apostam em si mesmas. Não é fácil sair do seu país, deixar sua língua, sua cultura, sua comida, o cheiro, a luz, a cor… Não é fácil!
Tem um buraquinho dentro da gente que é a nossa saudade, essa palavra que só a língua portuguesa entende e explica. Uma vez que acontece a eventualidade de voltar, como aconteceu comigo, eu deixei um pedaço meu lá.
É uma experiência transformadora para sempre. Não é temporária, por mais que a gente volte para casa, para o nosso país. Hoje eu ainda digo que sou uma cidadã do mundo, porque eu morei em lugares diferentes e é uma experiência que transforma a gente para sempre. Esses brasileiros, para mim, merecem muito o nosso respeito, até porque são pessoas que sonham e se veem em situações desesperançosas. E eu aqui não vou fingir que o Brasil é o melhor dos lugares, porque é uma realidade que nos humilha e nos machuca diariamente. No Brasil, matar um leão por dia não é suficiente. Você tem que matar dois leões e talvez um elefante, um búfalo…
Então eu respeito muito quem tem essa força, essa coragem, esse sonho de querer expandir e ser mais.
E-Dublin: O que o público de Dublin pode esperar do show no Vicar Street? O repertório também incluirá alguns sucessos de trabalhos anteriores?
Maria Rita: O show é metade de discos anteriores destes meus 15 anos de carreira e metade são canções que eu não gravei, mas que gosto de ouvir e cantar. Tem Gonzaguinha, Caetano… muita coisa que eu não gravei, mas que faz parte do show e que acaba dando um teor bastante íntimo ao espetáculo. Cantar o que é muito meu acaba sendo diferente de cantar um ‘lance’ que foi escolhido, que tem uma cara, que tem uma cor. É um desafio diferente. Eu gosto muito desse show, de fazer o Voz e Piano.
Serviço
Show Maria Rita — Voz e Piano
Sexta-feira, 31 de agosto (abertura das portas às 19h30)
Local: Vicar Street (58-59 Thomas St, The Liberties, Dublin 8)
Ingressos: a partir de 39 euros (clique aqui para comprar)
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