Carta a um futuro intercambista (Texto Sobre Intercâmbio) 

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Lívia Alen

6 anos atrás

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Carta a um futuro intercambista

Querido futuro intercambista,

Primeiro eu gostaria de lhe dar parabéns pela coragem de decidir partir.  Caminhar rumo ao desconhecido exige muito mais do que a gente pode imaginar. Não sei quais motivos lhe levaram a colocar a mochila nas costas, mas tenho certeza que todos valem a pena. E também acho que você vai descobrir outros motivos ao longo do caminho. Você vai ver que não deixou apenas suas coisas e sua família para trás. Quem parte, deixa a si mesmo em algum lugar para ir se reconstruindo por aí.

Reencontre a si mesmo num futuro próximo e veja como o intercâmbio mudou sua vida. Crédito: Fizkes | Dreamstime.com

Reencontre a si mesmo num futuro próximo e veja como o intercâmbio mudou sua vida. Crédito: Fizkes | Dreamstime

É que a gente muda demais, quando muda. Daqui a alguns meses sugiro que você veja as fotos do dia da sua despedida e me conte o que mudou. Talvez você engorde um pouco, seu cabelo cresça e suas roupas sejam outras. Talvez você passe a gostar de cerveja, sopa fria ou chá com leite. Talvez você tenha se acostumado com muita chuva, muito calor – ou muito frio. É possível que você mude alguns hábitos e questione algumas crenças. Provavelmente você vai sentir muita saudade.

Eu preciso te informar que a saudade também será sua companheira para sempre. Ela é um bicho esperto que se disfarça e aparece quando a gente menos espera. Você vai querer comer coxinha e brigadeiro mais do que comeu a vida inteira. Vai querer pegar carona em teletransporte para almoço de família. Vai amar ainda mais os aplicativos que permitem a comunicação. E vai tentar ir a festas de amigos por Skype. Talvez você chore um pouco de saudade – e talvez comece a pensar numa maneira de fretar um avião para levar todo mundo que ama para o mesmo lugar.

Seria mais fácil você pegar um avião e voltar para sua casa nessas horas. Mas você não vai querer, pois também vai estar muito feliz no lugar que agora chama de casa. Você vai conhecer pessoas encantadoras, que vão deixar tudo mais bonito. Talvez você conheça gente de diferentes partes do mundo. Isso vai fazer você se questionar sobre por que todas as pessoas não vivem em paz. E você vai se questionar mais sobre muitas outras coisas e sobre tudo que achou que era verdade.

Você vai ficar perdido e confuso. Talvez se sinta sozinho, mesmo no meio de um monte de gente. E vai querer voltar para sua casa antiga e para o seu mundo antigo. Você também vai querer voltar cada vez que ficar doente ou que as coisas não saírem como planejado. Talvez você até chore só porque um desconhecido não foi muito legal com você, pois não conseguiu um emprego ou porque seu novo amigo foi embora. Você provavelmente vai chorar algumas vezes nesse tempo. Ao contrário do que falam por aí, mudar de país não é um sonho perfeito. É uma realidade imperfeita, como qualquer outra.

Porém, muitas vezes mudar é a realização de um sonho e só isso já te fará mais feliz. E, provavelmente, você vai sorrir muitas vezes mais. Pode ser porque viu neve pela primeira vez ou porque viu o sol de novo depois de dias de chuva. Pode ser porque um amigo ou parente despencou do Brasil só para lhe fazer uma visita (e ainda lhe trouxe umas brasilidades comestíveis na mala). Pode ser porque acertou na pronúncia de uma nova palavra, conheceu alguém incrível ou visitou o lugar mais maravilhoso do mundo.

E aí talvez você chore outra vez na hora de ir embora. E talvez você sorria a cada vez que se lembrar do tempo em que foi embora de sua casa… para chegar na sua casa. Desejo que você aproveite essa oportunidade de poder ser você mesmo. Que você perceba que tem, agora, a chance de aprender sobre o mundo, sobre seu próprio país e, principalmente, sobre você mesmo. Sobretudo, desejo que você seja feliz. E isso só depende de você!

Bom mundo! Boa viagem!

Imagens via Dreamstime
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Lívia Alen, Mineira de Belo Horizonte, morou no Canadá, na Argentina, na Espanha e em Portugal, antes de desembarcar na Irlanda. É jornalista e mestre em Comunicação das Organizações. Diz que os 25 anos são os novos 15 e que é tempo de experimentar. Olha mais para o céu que para o chão. Ama chocolate, gente e viagem, de preferência, tudo junto. Acredita que o mundo inteiro é um lugar para chamar de casa.

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