A jornalista Juliana Spinardi, de 24 anos, natural de Ponta Grossa, Paraná, vem, mais uma vez, dividir suas histórias com a gente. Dessa vez, ela vai nos mostrar qual era a forma mais rápida e econômica que ela usava para se locomover na Irlanda entre casa, escola e trabalho.
Pé na tábua, ou melhor, pé no pedal! Dublin por duas rodas!
Por Juliana Spinardi
Colaboração: Fabiano de Araújo
Quando você troca de país, espera muitas coisas: um novo clima para se adaptar, pessoas para conhecer, uma língua nova para falar. Estava ciente que essas e tantas outras iriam acontecer comigo. Mas uma em especial, eu não sabia.
Antes de juntar minha trouxinha em direção à Ilha Esmeralda, eu estava em uma fase de certa estabilidade financeira. Eu não ganhava rios de dinheiro, claro que não, porém, pela minha idade, eu já tinha um emprego relativamente bom e já tinha até comprado um carro. Quando você tem um carro, além das prestações, você também torna-se mais “acomodado” – lembro de me pegar dirigindo para ir até locais que poderia facilmente ir andando.
A realidade mudou completamente quando peguei minhas malas no aeroporto e percebi que, literalmente, eu teria que andar com minhas próprias pernas. Já tinha acertado um transfer, como todo mundo faz, para me pegar no aeroporto, mas o problema, ou melhor, o caminho para a solução dos meus problemas, ainda estava para acontecer.
Após algumas etapas realizadas, como o Irish Residence Permit- IRP e casa, era a hora de achar um trabalho. Levei sorte, mas também procurei muito, até que achei um trabalho muito bom. Foi apenas um mês até rolar o primeiro job. Entretanto, como vocês devem saber, nem tudo é perfeito na vida. Meus horários – de aula e trabalho – seriam completamente loucos e eu teria que dar um jeito de cruzar a cidade em menos de 20 minutos para chegar à escola.
Pegar o famoso Dublin Bus, transporte público local, não daria tempo. Nem mesmo o Luas, o bonde moderno que corta alguns bairros da cidade. À pé também não daria, porque eu demoraria mais de 30 minutos. O único jeito, então, era enfrentar o frio e a chuva irlandesa e comprar uma bicicleta.
Algumas pessoas usam o Dublinbikes. Eu, sinceramente, nunca usei esse recurso – principalmente pelo fato de não existir nenhum ponto de entrega da bicicleta perto de onde eu iria trabalhar. Mas o pessoal que usa super recomenda. Sai barato e é muito bacana.
Como eu iria começar a trabalhar logo, eu recorri à minha flatmate (alô, Mazé) para que ela me emprestasse a bike dela. Usei a bicicleta da Mazé umas duas semanas, acredito. E aí já comprei a minha. Eu nunca vou me esquecer da minha magrela rosa, pequena, pesada, que me fez emagrecer e suar horrores! A bike era de segunda mão. Paguei 50 euros e usei ela por bastante tempo.
Vejam bem, no Brasil, eu era uma pessoa que levanta cedo e ia para a academia fazer spinning – aquele exercício punk de bicicleta. Logo, eu achei que não teria problemas para andar de bicicleta pela Irlanda! (pausa para risada) Eu quase morri nos primeiros dias. Uma, porque fazer bike na academia e na rua são situações completamente diferentes. Outra, em Dublin venta tanto que várias vezes eu não conseguia sequer me equilibrar! Isso porque eu tinha 20 minutos para fazer o percurso trabalho-escola, ou perdia a presença e isso não era nada legal!
Eu poderia contar várias histórias dos tombos que caí, das vezes que chovia e o vento me impedia de pedalar mais rápido, dos dias em que eu queria chorar de saudade do meu carro e do meu conforto, das vezes que fui pra aula encharcada. Detalhe, tudo sem almoço. Era almoçar no trabalho ou ir para a aula. Mesmo assim, hoje olho para trás e morro de saudade. Arrependimento, só de ter reclamado na época. Dublin é a universidade da vida, gente!
Um tempo depois eu troquei de bike. Novamente usada, ou melhor, “com dono anterior”. Essa era melhorzinha. Me acompanhou o resto da aventura e foi mais guerreira ainda. Minhas pernas também já estavam fortes de pedalar a bike rosa. As roupas à prova d’água também foram ótimas, tanto para bloquear a chuva e o frio, como para serem usadas para uma festa a fantasia se eu quisesse ir de motogirl.
Foi aí que eu arrumei outro emprego. Trabalhava em um pela manhã, ia para a aula à tarde e tinha outro emprego à noite. Ter uma bicicleta me ajudou imensamente a fazer todo esse trajeto louco. No final do meu intercâmbio, eu usava tanto a magrela que ela não aguentou. Tive que trocar os pneus. E pior, fiquei uns dois meses sem freio – isso mesmo, era jogar na banguela e seja o que Deus quiser.
Anyway. Moral da história? A bike me ajudou, e muito! Eu super recomendo, não só por uma questão de facilidade, mas também de economia. Mais rápido que ônibus, é uma energia limpa e, claro, sem gastos. Inclusive, teve uma uma vez que fui até Howth pedalando, fiz a trilha e quase morri pra voltar. Mas essa é uma história para outro texto.
Não gosto de fazer comparações, porque cada realidade é única. Porém, de volta ao Brasil, eu ainda estava nessa vibe de fazer tudo de bike. Poxa, rolou uma decepção! Aqui os motoristas de carro e ônibus simplesmente não respeitam o ciclista. Eles não entendem que a bicicleta é um meio de transporte e também tem direito de usar a rua, e isso é bem chato. A gente não se sente muito seguro para pedalar e fazer tudo em duas rodas – pelo menos não na minha cidade.
Acredito que em relação há alguns anos anteriores, nós (Brasil) crescemos muitos em relação ao uso das bicicletas para nos locomovermos pela cidade. Hoje vejo muita gente praticando o esporte ou mesmo usando a bike para ir trabalhar. Nada comparado à Irlanda e outros países da Europa, mas acredito e sou otimista em afirmar que vamos, sim, mudar esse quadro. Eu mesma, me arrisco e pedalo aqui no Brasil e incentivo as pessoas a fazerem o mesmo. Não dá para ter medo e deixar a bike de lado. Afinal, pedalar foi um hábito adquirido na Ilha Verde e que não tenho a intenção de abandonar em terras tupiniquins.
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
Revisado por Tarcísio Junior
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