É possível ser advogado na Irlanda? Uma das grandes dúvidas dos profissionais da área jurídica que se muda para o país é sobre a possibilidade de continuarem sua carreira por aqui.
Para simplesmente entrar no mercado de trabalho e conseguir uma oportunidade como advogado na Irlanda, não é obrigatório fazer qualquer curso, ou prova. O seu background no Brasil é considerado no recrutamento dessas vagas, e pela minha própria experiência e de outros colegas, vejo que na prática isso é possível.
É claro que qualquer especialização ou conhecimento extra que você tiver vai agregar no seu currículo e aumentar suas chances de contratação, mas isso não é primordial para conseguir um emprego na área jurídica.
Vamos explicar a seguir.
Leia também: Trabalhar na Irlanda: regras, vistos e profissões para brasileiros (2022)
A questão que gostaria de clarificar com esse artigo é como um advogado brasileiro pode efetivamente exercer a profissão na Irlanda como solicitor (que é o termo utilizado na Irlanda para advogado).
E para isso existem três rotas:
A primeira rota seria começar do zero. Como se a graduação no Brasil não valesse de nada e você precisasse reiniciar seu processo de qualificação.
Isso inclue primeiramente fazer um curso na Irlanda (não necessariamente de Direito, mas reconhecido pela Law Society para esse propósito), ou fazer um exame preliminar.
Passada a etapa preliminar, você precisa prestar os exames FE-1s, que se assemelham ao nosso exame de ordem do Brasil, visto que inclui as mais abrangentes áreas do Direito, tais como, Direito Constitucional e Direito Criminal.
Após passar nesses exames, você precisa fazer um curso prático chamado PCC (no qual você explora a parte processual do Direito), e, por último, você passa por uma fase de training por pelo menos 2 anos. Concluindo todas essas etapas, você pode finalmente aplicar para admissão no Rol de Solicitors e atuar como advogado (a) na Irlanda.
A segunda rota é através de um registro como advogado estrangeiro e isso requer que você já tenha uma qualificação na União Europeia.
Para nós, brasileiros, o caminho mais prático é transferir o nosso título para Portugal. Isto porque Brasil e Portugal tem um acordo de reciprocidade, o qual permite que nós (advogados brasileiros) nos inscrevamos na Ordem de Advogados de Portugal (OA) através de uma aplicação administrativa.
Ou seja, sem necessidade de prestar nenhum exame ou de até mesmo residir lá.
Uma vez que você seja inscrito na OA, você pode se registrar junto a Law Society da Irlanda como Foreign Lawyer. Mas esse registro por si só não lhe dá o direito de atuar como advogado independente.
Para que você possa ser admitido no Rol de Solicitors e exercer a profissão com autonomia, você precisará “exercer uma atividade na lei do Estado” ou uma “atividade profissional” por um período de três anos.
Ao final, você precisará comprovar esse tempo de prática através de três referências de Solicitors qualificados na Irlanda que possam confirmar essa atividade. Feito isso, você pode finalmente aplicar para admissão no Rol de Solicitors e atuar como advogado (a) na Irlanda.
A terceira rota, que ao meu ver seria a mais “rápida” e “menos complicada”, seria através da prova de transferência, chamada QLTT – Qualified Lawyers Transfer Test.
O meu processo de qualificação foi através dessa rota, e foi basicamente composto por quatro etapas:
Alguns pontos a serem destacados:
O candidato ao processo de qualificação precisará apresentar três cartas de referências confirmando sua competência para prática como advogado na Irlanda. As cartas de referência podem ser um desafio. Isso porque, duas delas precisam ser feitas por advogados que atuem por pelo menos 5 anos (em Portugal ou na Irlanda) e que te conheçam há pelo menos 2 anos.
Apenas uma das referências pode ser do seu atual empregador (ex. diretor, sócio ou gerente) e ele/ela não necessariamente precisa te conhecer por 2 anos. Referências de colegas não são aceitas.
A grande dificuldade desse requerimento, é que muitas vezes o aplicante ainda não teve nenhuma experiência profissional em Portugal e na Irlanda, e, portanto, não tem a quem pedir tais referências. Às vezes, você precisará atrasar um pouco seu processo até que realmente conheça esses advogados que poderão disponibilizar as cartas.
Tal certificado de elegibilidade é válido por três anos, ou seja, durante este tempo de validade você deve prestar todos os exames. Se por alguma razão não conseguir concluir tudo nesse período, você pode ainda renová-lo por mais três anos.
Uma vez que você obtém o seu certificado de elegibilidade, você pode finalmente aplicar para as provas de transferência.
O exame contém ao todo sete papers, sendo que a nossa qualificação em Portugal nos isenta automaticamente de uma das disciplinas (European Law).
A respeito de isenções, se porventura você já tiver uma experiência prévia (em Portugal ou na Irlanda), em quaisquer das áreas dos exames, você poderá pedir isenção e, se deferido o seu pedido, você não precisará realizar essas determinadas provas.
Essa experiência é também comprovada através de cartas de referências dos seus antigos empregadores atestando seu contato com as matérias específicas.
Os sete papers são os seguintes:
A prova é toda discursiva (com exceção de “Professional Conduct” que é uma prova oral de 15 minutos) e é realizada duas vezes ao ano, normalmente Junho/Julho e Outubro/Novembro. A Law Society abre as aplicações com antecedência.
Depois de ser aprovado nas provas, você finalmente pode aplicar para ser admitido no Rol de Solicitors.
E essas são as três possíveis rotas para você se tornar um advogado na Irlanda. Embora pareça (e seja) um caminho árduo o qual requer muito esforço, dedicação e foco – eu posso dizer, com propriedade, que vale a pena.
A advocacia na Irlanda é extremamente respeitada, bem estabelecida e altamente remunerada. Além disso, tendo em vista que nós temos uma grande comunidade brasileira na Irlanda, existe a necessidade de mais advogados brasileiros que sejam qualificados aqui.
A Irlanda enfrentará sua primeira onda de frio significativa da temporada a partir desta semana,…
O planejamento de gastos é um dos pontos mais importantes na organização do intercâmbio. Com…
Aprender inglês é um objetivo comum para muitos, mas nem sempre há recursos disponíveis para…
O ano vai passando e você ainda está em cima do muro sem saber como…
O frio já está ficando cada vez mais forte na Irlanda com a aproximação do…
Quer descobrir como é possível ter um trabalho em Londres? No texto de hoje, você…