Quando eu fiz 30 dias na Irlanda, eu chorei, eu chorei muito…
Eu nem me liguei que já fazia um mês desde o dia que eu parti, mas meu coração sentiu sem pestanejar e acho que essa foi a primeira vez, depois que cheguei aqui, que eu realmente senti saudade de casa. Sim, SAUDADE e mais um monte de outras coisas que eu vou contar aqui.
Chega a ser meio irônico, porque eu sempre fui apegada à minha família. Mesmo morando em São Paulo por 5 anos praticamente sem eles, eu sempre fiz questão de me fazer presente. Viajando nos feriados, dormindo às 2 da manhã para acordar às 5 todos os meus dias de folga em Minas, só pra ter a certeza de que aproveitaria toda a minha família e o meu dia por completo. E, incrivelmente, mesmo depois de todo esse tempo, não houve uma única vez que eu não tenha voltado pra São Paulo em prantos.
Acho que esse negócio de quilômetros e milhas influencia, sabe?! Quem chegou a dizer que distância não é problema, certamente não sentiu o coração apertar ao ponto de se sufocar — e tô falando do coração, o órgão mesmo, como se ele estivesse sendo esmagado — ou saberia que, sim, distância é um puta problema. Uma coisa é estar longe e saber que poderia estar lá, outra coisa, e bem diferente, é estar longe e nem se quiser poder estar. O que era longe, fica ainda mais distante.
Hoje eu me dei conta de que estou há mais de 9.000 quilômetros de distância. E que eu queria estar dentro de um vestido de festa junina, arrastando minhas botas na terra vermelha, sentindo o calor da fogueira e, principalmente, o calor da minha família. Aquele sentimento puro e simples, que você sente ao ver uma tia ajeitando as saias rodadas, as primas cuidando dos filhos, os avós preparando a comida, seus pais questionando se suas escolhas são o melhor ou não (questões pro resto da vida, sei). A simples sensação de ouvir a viola tocar e aquela música caipira que eu jurei, em algum momento, que eu não aguentava mais escutar.
Hoje foi a primeira vez que eu quis pegar um avião de volta pra casa só pra ter a certeza de que eu não vou perder mais nenhum momento longe das pessoas que eu mais amo — e ainda tenho a impressão de que se a KLM ou a Ibéria cruzassem o meu caminho nesse instante, eu acabaria indo.
Vocês não tem ideia de quantas vezes eu ouvi “Eu não largaria o Brasil”, “Eu não aguentaria”, “Nossa, mas você é tão fria”… Pois eu digo que é preciso ter coragem. Mas é preciso ter muita coragem MESMO pra sair da sua cultura e do seu conforto. E não estou falando de comida na mão e roupa passada não, porque isso já não tenho há muito tempo. Estou falando de conforto em estar com seu povo, com a sua língua e as suas comidas, em estar com seus “reais” e saber “de cor e salteado” todos os caminhos de ida e vinda pra sua casa.
É preciso ter uma baita coragem pra pegar um avião com medo de colisão e é preciso coragem dobrada para dizer tchau, adeus ou um até logo para as pessoas que você mais ama no mundo, com o medo de nunca saber exatamente quando, como ou se vocês se verão de novo. Não mintam para si, a gente mantém o pensamento positivo de que nos veremos em breve, mas qualquer despedida fica tenebrosa quando você vira as costas, porque você cria, inconscientemente, a incerteza sobre se será ou não a última vez. É preciso ter coragem para suportar todos os dias de mau humor quando se sente sozinho, porque, de fato, você está sozinho.
É preciso ter coragem, sim, para correr atrás de sonho. Porque correr atrás de sonho também dói.
Eu admiro vocês aí, que estão do outro lado há sei lá quantos anos luz longe das pessoas que vocês amam, tentando melhorar profissionalmente, pessoalmente, para crescerem ou quaisquer outros objetivos que tenham, porque é preciso ter coragem para enfrentar seus medos, inseguranças, seus próprios eu’s na hora do aperto… porque, sem sombra de dúvida, não há condições financeiras, não há vida, emprego, cidade ou país que pague o amor.
Eu te digo vá, mas se quer um conselho: só vá se tiver coragem!
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