Criolo faz retrospectiva da carreira em Dublin
5 anos atrás
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Criolo é um dos grandes artistas e “gurus” da nova geração. Com seu rap, conquistou o público já crescente do hip hop brasileiro, mas não se contentou. Seguiu por outras avenidas musicais, entre o samba e o pop e até o repertório do eterno Tim Maia foi parar na pauta de sua carreira. Agora, ele faz um resumo de tudo o que cantou para levar em mais uma turnê europeia, Boca de Lobo, que passa por Dublin, na Irlanda, no dia 8 de setembro, na Button Factory. Ele se apresenta com DJ DanDan e três multi-instrumentistas no palco, Bruno Buarque, Dudinha e Daniel Ganjaman.
O E-Dublin conversou com Criolo, que provou que existe sim amor, não só em SP, mas também no Brasil. Confira os principais trechos e ouça a entrevista completa em nosso podcast acima.
E-Dublin: Existe uma pergunta que sempre fazemos aos artistas brasileiros que vêm se apresentar na Irlanda. Os shows de artistas brasileiros por aqui levam um certo alívio e conforto a brasileiros imigrantes que sentem saudades de casa. Você pensa nisso quando constrói uma apresentação no exterior? Como é trazer “notícias” do Brasil em forma de música para nós?
Criolo: Quando eu tenho oportunidade de viver algo tão grandioso assim, essa oportunidade de cantar fora, eu penso muito na força do encontro e no que isso pode gerar de energia positiva na celebração da vida. Esse realimentar de coisas boas, de esperança, de alegria, de força para viver, para lutar, para seguir em frente em busca dos sonhos e dos objetivos. A música traz essa força e a música provoca o encontro. Naturalmente vamos trocar essas notícias daqui para lá e de lá para cá. Vamos juntos, de uma certa forma, fazer essa construção de comunicação.
E-Dublin: Suas músicas mostram o Brasil em diversas formas e têm uma forte presença política, mesmo sem necessariamente isso ser explícito. Como é cantar o Brasil dos dias de hoje?
Criolo: Esse Brasil que muitas pessoas estão surpresas, que não estão acreditando ser possível estar dessa forma, é um Brasil que se apresenta desde que o mundo é mundo. A diferença é que um tanto de pessoas que não representam a totalidade do país estão vivendo um momento de se expressar de modo mais tranquilo e mais seguro sobre o que acredita ser o certo, do que o que acredita ser a construção de sociedade, que passa por não se preocupar tanto com essas desigualdades que vivemos, por não perceber a importância dos direitos civis, a situação de total descaso em relação a tantos preconceitos que assolam o país. Essas pessoas não representam a totalidade do país e nesse mesmo país existe uma série de pessoas que lutam e dedicam sua vida, sua energia vital para uma construção de uma sociedade menos desigual. De uma certa forma, alguém legitimiza, alguém fortalece essas ações que desprezam totalmente esse olhar mais humano.
“Cantar é uma honra muito grande, é uma dádiva, um presente que se recebe para expressar seu olhar.”
O que acontece hoje é que esse fortalecimento vem de quem dirige a nação e de várias outras pessoas em várias camadas sociais que acreditam que a violência pode resolver as coisas, que toda a pessoa ter uma arma vai resolver a questão de violência no país, de que os professores devem sim ser monitorados em sala de aula, de que as pessoas que trabalham com cultura educação e arte devem ser perseguidas. Então cria-se uma situação de normalização dos preconceitos e uma normalização a essa caça. Estamos vivendo um momento assim, extremamente delicado, extremamente difícil. Cantar é uma honra muito grande, é uma dádiva, um presente que se recebe para expressar seu olhar. Expressar não apenas as alegrias, mas as indignações e levar, nessa construção de boas energias, esse fortalecimento de que que é possível e extremamente positivo continuar construindo ações para diálogo. Então são desafios diários, mas a arte ajuda a construir essas pontes.
E-Dublin: E qual mensagem do Brasil que você pretende levar ao público do exterior nas cidades em que passará com sua turnê?
Criolo: Não me sinto à altura de ser um porta-voz do Brasil, mas eu posso dividir com vocês que a cada país que visitarmos vamos levar a nossa melhor energia, vamos convidar as pessoas a ter um momento especial, um momento de troca, que passa por um momento de reflexão e cada um vai fazer sua construção, se tiver de ser também, pois é isso é algo muito subjetivo, pessoal e merece todo respeito. Pois cada pessoa tem seu tempo, cada pessoa tem seu momento e sua concepção. Vamos dividir nossa melhor energia para que a gente possa fazer uma construção especial em cada país que a gente visitar.
E-Dublin: Muitos brasileiros saem do Brasil e vêm morar no exterior como forma de tentar uma vida melhor. Muitos se sentem mais seguros, como é o caso da comunidade LGBTQ, fortemente presente entre os brasileiros na Irlanda. Você tem feito um trabalho levando em consideração essa comunidade, como é o caso da recente música Etérea. Como essa questão apareceu mais forte no seu trabalho?
Criolo: Falar sobre a valorização da vida está acima de tudo e pessoas no meu país estão sendo assassinadas pela cor de sua pele, estão sendo assassinadas por como expressam sua fé através de sua religião e pessoas estão sendo assassinadas por que naturalmente têm o seu modo especial de expressar amor. A música rap veio para mim com 11 anos de idade, me apresentando o que é possível conversarmos através da música sobre aquilo que nos magoou, aquilo que nos fere e aquilo que nos incomoda. A canção Etérea vem propor à sociedade um momento de reflexão, mesmo que tardio, mas necessário, e que será recebido da maneira mais calorosa possível. Que possa existir esse momento de reflexão, porque esses assassinatos eles tem que parar. Nós não aguentamos mais!
E-Dublin: O rapper Emicida, assim como você, também colocou os LGBTQs de forma muito presente em AmarElo (com Pabllo Vittar e Majur). Ele falou recentemente sobre a homofobia muitas vezes internalizada no movimento hip hop. Falar sobre a comunidade LGBTQ no universo do rap é uma forma de combater esse preconceito? Como você vê essa questão?
Criolo: Os preconceitos eles têm um jeito de se esconder, de criar mecanismo de naturalização das ações, das situações, permeando o cotidiano, construindo cultura de preconceito que só cria ambiente fértil para o mal. É extremamente necessário falar, abrir espaço de diálogo, de discussão real e sincera, de ações ações fortes, positivas.
E-Dublin: A comunidade brasileira na Irlanda também é heterogênea. Existem brasileiros de toda a parte do país convivendo juntos. É como se um um mini-Brasil existisse em um país estrangeiro. E como reflexo do nosso país, vem as acirradas opiniões políticas e sociais, que se diferem. Você tem dito que quer combater o ódio com a música. Como fazer isso?
Criolo: A arte tem o poder de criar um ambiente extremamente positivo para construção de diálogo, ela tem o poder de criar essas pontes invisíveis tão especiais que nenhuma outra expressão consegue. Existe sim uma urgência de uma construção coletiva, porque essa onda de ódio que assola o planeta ela apresenta números sombrios, números de guerra, os assassinatos acontecem em série e são em massa. Quando nós chegarmos nesse lugar de compreender que as ações humanitárias estão acima de qualquer coisa, que a vida humana está acima e deve ser preservada, quando a gente alcançar esse passo tão primordial, todas as outras coisas vêm junto. A gente procura um ambiente de coexistir de modo mais saudável porque do jeito que tá não vai sobrar ninguém de nenhum dos lados para contar história, porque quando mal toma conta de um lugar todos sofrem.
E-Dublin: Sua carreira começou com o rap, mas já passou por outras avenidas musicais, da MPB ao samba, agora com o eletrônico. Você pretende cada vez mais ser essa mistura?
Criolo: A música mudou minha vida, mudou vida da minha família. Aos 11 anos de idade comecei a fazer os primeiros versinhos, aos 13 anos eu pedi para cantar em um evento que era um dia de doação de roupa e de comida no bairro. O dono do galpão, que faz parte de uma associação de moradores do bairro, liberou esse espaço para a gente. Para não ser um momento tão triste e ninguém ficar para baixo, ele tinha uma equipe de som e disse à minha mãe que ia ligar o som. Nisso, eu pedi para cantar duas músicas. Eu não parei mais! Mudou minha vida. Isso é uma coisa que, meu Pai do céu, nem sei como seria minha vida sem a música.
“A música rap veio para mim com 11 anos de idade, me apresentando o que é possível conversarmos através da música sobre aquilo que nos magoou, aquilo que nos fere e aquilo que nos incomoda.”
Esses tantos jeitos de pensar música, respirar música, têm sido muito gratificante. Que essa energia de gratidão, de alegria, de força para viver, força para lutar, força para resistir, inunde o coração de todas as pessoas por aqui, por aí, onde vocês estão e quem quer que leia esse documento. Porque essa entrevista, e todas as entrevistas, são documentos importantes. Aqui deixamos impressa uma fração de nossas ideias e nossas emoções, mas que essa boa energia possa inundar o coração de todo mundo. Um abraço, gente, e bora para o show. Chama todo mundo que vai ser demais esse encontro!
SERVIÇO
Show Boca de Lobo, com Criolo
8 de setembro, às 19h30
Local: Button Factory
Ingressos: 35 euros
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