A crise de acomodação na Irlanda parece não ter fim. Os capítulos dessa história ficam cada vez mais intensos conforme a busca por uma vaga se torna um pesadelo constante na vida dos novos intercambistas e até de quem já mora na Irlanda há um bom tempo.
O edublin já mostrou o quanto a crise tem afetado os intercambistas e fez uma análise sobre o que vem acontecendo.
Nesta semana, porém, a imprensa irlandesa deu destaque para a situação, com relatos de estudantes que precisaram passar por momentos muito difíceis para conseguir um espaço para dormir.
O estudante chileno Sebastián Carvallo Fariña foi destaque nas reportagens por expor a situação de acomodação no país ao dizer que precisou dormir na rua pela falta de vagas.
O edublin conversou com ele e com outros intercambistas que revelaram detalhes da saga pela busca de acomodação na Irlanda.
Sebastián Carvallo Fariña chegou à Irlanda em 28 de março para estudar inglês na cidade de Cork, interior do país. Ele reservou um hostel como acomodação inicial. “Conheci trabalhadores e estudantes que viviam lá há meses porque não encontravam alojamento”, relatou, em entrevista ao edublin.
Quando acabaram as semanas de reserva, Fariña não conseguiu mais vaga aos fins de semana, quando ele precisava pagar muito mais em hotéis caros para ter um espaço para dormir. “Até que chegou um fim de semana em que não encontrei nada, e tive que dormir um dia na rua e outro dia no sofá de um amigo”, contou.
Segundo Fariña, a situação não era apenas com ele. “Percebi que isso seria um problema comum todo fim de semana em que trabalhadores e estudantes são forçados a buscar opções extremas como dormir na rua ou viajar para outras cidades ou países por curtos períodos de tempo para dormir”.
Na análise do intercambista, o problema começa na aceitação em massa de estudantes em escolas de inglês, que superam as cotas, gerando assim uma crise habitacional. “Os proprietários de residências têm facilidade em aumentar excessivamente os preços das moradias devido à alta demanda.”
No momento, Fariña está em uma acomodação temporária por três semanas. Depois disso, não terá aonde ir. Ele disse ter conhecido inúmeros brasileiros na mesma situação que ele.
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Joyce Guimarães Flórido acreditou que estava preparada com um mês de acomodação quando chegou a Dublin junto com o marido. Para ela, seria suficiente para encontrar algo definitivo. Não foi! Ela e o marido têm cidadania europeia e conseguiram uma reserva em dinheiro para caso houvesse algum imprevisto. Nada foi suficiente.
Ela tem vivido em vagas temporárias e a atual acomodação termina em breve. Ela até conseguiu um local para um período de seis meses, mas apenas em junho. Até lá, não tem onde ficar. No momento, Joyce tem frequentado entrevistas de vagas de casais.
“O chato é o desconforto também, sabe. Ir a uma entrevista para vaga temporária com vários casais se olhando e concorrendo à vaga.Tem também muita gente querendo se dar bem e os preços por lugares que só Jesus. Eu nem estou escolhendo.”
O valor de uma vaga de casal temporária chega a 1.500 euros por mês, dividindo a casa com outras pessoas. Joyce disse que uma alternativa é buscar aluguel de Airbnb ou hotel, mas os preços estão ainda mais altos. “Vou gastar em um mês todas as minhas economias que direcionei para qualquer imprevisto de acomodação.”
Psicóloga no Brasil, com experiência de dez anos em RH, Joyce foi para a Irlanda para conseguir o inglês avançado que sempre desejou. “Mas sendo bem sincera, às vezes reflito se esse desgaste inicial vale tudo o que a gente pode conquistar.”
“Aqui é um lugar de muitas oportunidades, mas é mais fácil você conseguir um emprego do que uma acomodação.”
Um amigo de Joyce, que preferiu não ser identificado, afirmou que chegou a pagar para dormir cinco dias em um sofá.
A crise de acomodação na Irlanda não afeta apenas aqueles que estão chegando ao país. O curitibano Gustavo Costa Araújo, 30, mora em Dublin há quase quatro anos. Chegou à capital irlandesa para aperfeiçoar o inglês e hoje está cursando uma universidade.
Há dois estava vivendo no mesmo apartamento, Araújo se surpreendeu com o aviso de despejo. “Meu ‘landlord’ (locatário) pediu o apartamento e nos deu dois meses de ‘notice’ (aviso prévio)”.
Araújo está procurando uma nova acomodação desde de então, mas muitas vezes não consegue nem mesmo uma resposta de quem está oferecendo a vaga por haver muita competição. “Isso tem tirado minhas noites de sono”, disse.
Ele afirmou que, quando chegou a Dublin, em 2018, já existia essa dificuldade de achar vaga, mas não como agora. “É frustrante você ter que passar por tudo isso de novo, mesmo já estando aqui por tanto tempo, onde estava tudo caminhando bem”, ressaltou.
Mas o pior ainda estava por vir. Em suas buscas por acomodação, Araújo recebeu uma mensagem de uma pessoa querendo “vender” a vaga para ele. Na conversa, a pessoa dizia estar voltando ao Brasil e passaria a vaga pelo valor de € 1.800.
“Além de pagar o aluguel e o depósito, eu teria que pagar uma taxa para essa pessoa me passar a vaga permanente dela… É inacreditável.”
Araújo, no momento, está em busca de uma vaga e se diz desesperado. “Eu ainda tenho uma semana pra encontrar algo, mas se não encontrar, ficarei na casa de algum amigo ou, na pior das hipóteses, em um hostel até encontrar algo definitivo.
O ICOS (Irish Council for International Students), conselho irlandês de estudantes internacionais, publicou em sua página do Facebook uma nota dizendo que o órgão está “profundamente preocupado com as extraordinárias dificuldades que os estudantes internacionais enfrentam atualmente para encontrar acomodação”.
“Também estamos chocados com os relatórios recentes que recebemos de estudantes que vivem em acomodações precárias ou em ruínas. Isso é exploração, e é completamente inaceitável”.
O ICOS aconselha pessoas que estão morando em acomodações superlotadas ou abaixo do padrão entrem em contato com o ICOS em office@icosirl.ie.
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