Às vésperas do Natal, o clima em Dublin está longe de ser a de celebração. No último sábado, as ruas de Dublin foram tomadas por milhares de pessoas em forma de protesto contra a falta de moradia na Irlanda. A crise, que persiste há alguns anos, também afeta intercambistas, que lutam para conseguir encontrar uma vaga nas disputadas acomodações e casas de aluguel.
No entanto, a população irlandesa em geral também sofre com falta de casas disponíveis para alugar e comprar na ilha. O número de pessoas sem lar cresceu 20% em relação a 2017. Isso tem causado revolta e protestos dos irlandeses, que não conseguem encontrar casas para comprar ou alugar.
O CSO (Central Statistics Office – centro de estatísticas da Irlanda) afirma que existem 110 mil pessoas buscando comprar uma casa na ilha. Porém, a quantidade de lares sendo construídos é bem menor.O Departamento de Habitação da Irlanda diz que, entre 2015 e 2018, foram construídas cerca de 22 mil residências. Segundo o CSO, são apenas 450 novas casas sendo vendidas todos os meses e 15 mil propriedades mudaram de mãos em três anos. Em Dublin, foram só 5,5 mil compras e vendas realizadas em três anos.
Mas o que está acontecendo na Ilha Esmeralda? Por que faltam casas e sobram pessoas precisando de um lugar para viver?
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Mas apesar de ter muita gente interessada na compra de imóveis sem a possibilidade de encontrá-los, existe uma taxa significativa de imóveis vagos. O CSO mostra que são mais de 2 milhões de casas e apartamentos na ilha. Destes, 1,7 milhão são ocupados por pessoas residentes. As casas de férias são responsáveis por 62,2 mil unidades habitacionais. O restante são 140 mil casas vagas e 43 mil apartamentos vagos. Destes, 30 mil são em Dublin.
A possibilidade de alugar temporariamente uma casa ou apartamento pode ser um dos motivos para a crise imobiliária. Proprietários de imóveis estão pedindo suas casas de volta e despejando inquilinos para utilizar seu espaço como opção de vaga temporária para visitantes e turistas, que pagam por dia sua estadia por meio de sites como o Airbnb. Há alguns anos, existiam 1.329 vagas disponíveis em Dublin ecadastradas na plataforma, que promove este tipo de serviço. Hoje são 3.165.
É preciso entender e colocar essa situação em um cenário onde a Irlanda – e Dublin, majoritariamente – possui inúmeras multinacionais e as visitas profissionais são constantes. Além disso, o potencial turístico da ilha é enorme. Segundo o CSO, entre abril e junho de 2018, 1,5 milhão de pessoas visitaram a Irlanda, número 6% maior que em 2017. O turismo na Irlanda é avaliado em 8,7 bilhões de euros anuais.
O governo irlandês, no entanto, aprovou uma nova regulamentação que entrará em vigor em junho de 2019. Com ela, os proprietários não terão mais permissão para alugar temporariamente uma segunda propriedade a longo prazo via Airbnb. Ele terá um limite anual de 90 dias para o aluguel de uma casa ou apartamento inteiros e só poderão alugar por 14 dias ou menos de cada vez.
Quando uma casa ou apartamento é a principal residência privada de uma pessoa, ela terá permissão para alugar um quarto, ou quartos, dentro de sua casa, sem restrição.
Não bastasse o despejo de inquilinos, os que permanecem nas casas estão pagando preços absurdos de aluguel. O valor subiu muito e hoje a média é de 1.304 euros para viver em um apartamento modesto com dois quartos, cozinha, sala e banheiro. Já em Dublin, uma residência de mesmo porte custa, em média, 1.900 euros. Esses valores, segundo reportagem do jornal Irish Times, subiram 75% desde 2011 e 4,8% em relação ao ano passado.
A tradição de sair da casa dos pais para viver sozinho quando se vai à universidade tem ficado para depois. Muitos jovens irlandeses na casa dos 30 anos ainda permanecem vivendo com a família justamente por causa da crise imobiliária.
Já os estudantes brasileiros que chegam à Irlanda precisam lidar, além de gastos com escola, alimentação e transporte, com o valor do aluguel. Sendo assim, é comum encontrar casas “abarrotadas” de gente para dividir o aluguel em valores mais baixos.
Na capital, Dublin, em uma casa onde vivem oito pessoas, com um quarto sendo dividido por quatro, o valor chega a 300 euros cada um, sem contar as contas de energia e internet, por exemplo.
Aluguel caro, falta de construção de novas casas, proprietários despejando inquilinos para tornar a residência em aluguel temporário… Tudo isso resulta, cada vez mais, em pessoas sem teto. Aproximadamente 10 mil pessoas são consideradas “homeless” (sem-teto) na Irlanda.
O número cresceu 20% em relação a 2017. Várias histórias destas famílias estão relacionadas a despejos repentinos, em que elas ficaram sem conseguir encontrar uma nova moradia com os mesmos valores pagos. Muitas delas agora esperam na lista de “casas sociais” e podem levar anos para serem realocadas.
Dublin é o ponto central do problema. Responsável por 10% da população da ilha, ela concentra o maior número de sem-teto. Foram 415 novas famílias que declararam não ter um teto para morar entre junho e setembro de 2018, segundo a organização Focus Ireland, que trabalha com sem-tetos.
O protesto foi organizado pela The National Homeless & Housing Coalition e reuniu associações de toda a Irlanda. A data marca a morte de Jonathan Corrie, um morador de rua de 43 anos que, há quatro anos, foi o estopim para a luta de organizações para moradia a todos. Durante o ato, os manifestantes exigiam que o governo autorizasse e iniciasse a construção de novas casas, com cartazes e palavras de ordem.
Imagens via Pxhere
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