O caso da brasileira Paloma Carvalho, presa recentemente na Irlanda, nos faz refletir que, mesmo sendo um país aberto a estrangeiros, sobretudo aos brasileiros, um grupo de grande representatividade no país, a Irlanda não está livre de casos de deportação como o que ocorreu esses dias. Por isso, vamos lembrar abaixo relatos de intercambistas que foram deportados da Ilha Esmeralda, o por quê, e em quais situações a deportação pode se tornar iminente.
Primeiro, e certamente o fato mais importante, se deu à desorganização no sistema de ensino de idiomas no país. Após anos de muitas escolas operarem com baixa qualidade, outras que se tornaram “fábricas de vistos”, além de muitas outras irregularidades que vieram à tona, os órgãos oficiais irlandeses começaram a fechar o cerco e ficaram muito mais exigentes.
As perguntas na chegada aumentaram, a fiscalização nas escolas também, e aquele bate papo simpático com os oficiais da imigração deve sempre acontecer com muita cautela, porque eles estão de olho naqueles que entram na Ilha com outros propósitos. Conheça alguns casos abaixo que resultaram em deportação.
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Marinah Lima chegou à Irlanda há dois anos e lembra muito bem que naquele dia os oficiais estavam ariscos. Fizeram mais perguntas que de costume e pelo menos três brasileiras passaram pela mesma situação. Ela também lembra bem que quando o oficial insistiu em lhe perguntar o que ia fazer na Irlanda, ela respondeu enfática, várias vezes: “estou aqui só para estudar”. E assim ela entrou na Irlanda.
A Marinah renovou todas as vezes que teve chance, estudou e trabalhou. No final, já sem possibilidade de renovar como estudante de línguas, foi até a imigração e solicitou uma extensão de visto de algumas semanas para se organizar e voltar ao Brasil. Pois bem, a Marinah acabou mudando de ideia e antes de saber a decisão da imigração sobre a extensão de visto, regressou para sua cidade no Rio Grande do Sul.
Um ano depois, veio a surpresa. A Marinah decidiu visitar amigos em Londres e ao chegar recebeu a triste notícia que não tinha permissão para entrar no Reino Unido, nem Irlanda. OI??? “Como assim?”. Pois é, deportadíssima, minha gente. A Marinah só foi saber o motivo seis meses depois – e depois de muitas cartas enviadas à imigração – que ela tinha uma carta de deportação na Irlanda desde o período em que estava prestes a voltar ao Brasil.
Motivo? Primeiro, e mais importante, MENTIRAS! Lembram que quando a Marinah chegou ela foi enfática em dizer que só estava ali para estudar? Pois é, quando ela foi pedir a extensão de visto na imigração, os agentes foram buscar o histórico dela no país e descobriram que a Marinah tinha trabalhado na Irlanda e até pagava seus impostos direitinho, porém ela trabalhou em período integral durante a época em que, na teoria, deveria estar frequentando apenas as aulas. Vale lembrar que o visto de estudante permite trabalho por 20 horas semanais na maior parte do ano. Pra ajudar, estava registrado o que a Marinah tinha dito ao chegar: “SÓ ESTOU AQUI PARA ESTUDAR” e não respeitou as regras do visto. Ou seja, ser honesto é parte do processo. Cuidado com o que você diz na imigração, seja no aeroporto ou no GNIB office.
O segundo erro da Marinah: desaparecer sem ter ido à imigração! Se você for até a imigração solicitar algo, tenha certeza que é o que você quer. Quando a Marinah foi solicitar a extensão de visto, ela chamou a atenção para si. Além disso, o fato de não ter ido saber se teria a extensão ou não, acabou deixando suspeitas de que ela ainda estaria no país ilegalmente. O resultado disso tudo é que a Marinah, dois anos depois, ainda não conseguiu resolver essa pendência e continua sem poder entrar na Irlanda ou no Reino Unido.
Já citamos em algumas matérias aqui no E-Dublin que grupos, como o Migrant Rights Centre Ireland, estão em busca de regularizar a questão das au pairs na Irlanda, a fim de evitar abusos e explorações no setor. Isso é ótimo, pois garantirá que as au pairs tenham seus direitos, como ocorre em outros países. Mas, o que isso tem a ver com deportação? Pois é! Quando se regula, também se aumenta a fiscalização, então a imigração também está de olho naquelas meninas que chegam dizendo que trabalham como au pair.
Paolla Ambrósio estava na Irlanda há 11 meses, estudava em Dublin 1 e morava em Dublin 20. Chegou na imigração para pedir a sua renovação com tudo certinho. Estava indo tudo bem, até o momento da seguinte pergunta: Porque você mora em Dublin 20 e estuda em Dublin 1? Foi aí que a Paolla justificou que só havia encontrado trabalho como au pair em Dublin 20. “Mmm. Longe, não? Quantas horas você trabalha? Como consegue vir para a escola?” Paolla respondeu já meio confusa, e o oficial disse: “Perfeito, agora vou ligar para a família para confirmar essas informações”.
Porém, a Paolla não havia sido tão honesta nas respostas. Ela, assim como muitas au pairs, não percebeu que deveria buscar famílias que respeitassem seus direitos, horários e, claro, também cumprissem com suas obrigações, como trabalhadoras que são. O resultado foi que a Paolla, da sala do immigration office, foi direto para o aeroporto e embarcou deportada na manhã seguinte para o Brasil!
Você já deve ter escutado por aí que a fama das brasileiras em Portugal não é lá das melhores. Uma mistura de questões históricas com fatos reais. A verdade é que, infelizmente, a fama de “prostitutas” das brasileiras, sobretudo em Portugal, reverbera por aí, e alguns países passaram a reforçar o olhar para aquelas que chegam em seus países vindas da terra lusófona – e a Irlanda também. Perpétua Liz sabe bem disso.
Após dois anos fazendo mestrado em Coimbra, a estudante de Ciências Sociais decidiu esticar a sua estadia europeia e estudar inglês por seis meses na Irlanda. Até aí nada demais, né? Pois é, mas ela estava vindo de onde? PORTUGAL! Foram 5 horas na imigração, no aeroporto de Dublin, respondendo as mesmas perguntas. E foram muitas: Como se manteria em Dublin sem a bolsa de estudos que tinha em Portugal? Por que a Irlanda? Como uma estudante com uma bolsa de 1000 euros conseguiu viajar tanto durante o mestrado e ainda ter dinheiro para estudar na Irlanda?
“Eu não entendia qual problema, pois estava com tudo em ordem”, ela relatou. “Foi muito constrangedor, já não sabia mais o que responder e já estava quase pedindo para voltar no próximo voo na direção de Coimbra. Depois de confirmarem todas as minhas informações no Brasil e em Portugal, me deixaram entrar. Dias depois, ainda em choque, conversando com um policial irlandês que namora com uma amiga, foi que ele me esclareceu que eu tinha o perfil das brasileiras que usam a rota Portugal-Irlanda para fins de prostituição!”
Então, meninas, saibam que se chegarem à Irlanda depois de uma temporada vivendo em Portugal, a possibilidade de ter que responder muito mais perguntas que o normal é maior.
Recentemente, também publicamos um texto sobre as investigações no país sobre os casamentos arranjados. Fatos como estes também têm ocasionado um maior controle das fronteiras irlandesas, e ninguém está livre de ter seus propósitos no país questionados e requestionados.
Venha com tudo certinho e com a documentação correta. Tenha claro o que pretende fazer na Ilha Esmeralda. Conheça seus direitos, seja o mais honesto possível e responda só o que te perguntarem. Pois, mesmo em casos como o da brasileira Paloma Carvalho, onde tudo aparentemente estava em ordem, infelizmente o risco da deportação pode ocorrer. E dependendo da sua interação com o oficial, inclusive envolvendo abusos como a prisão, amplamente divulgada nos veículos de comunicação irlandeses e brasileiros que narraram o fato.
Imagens via Shutterstock
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