Descobri que a minha profissão não me fazia feliz
5 anos atrás
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Advogada por formação no Brasil (mas como descobri, não por vocação), vim pra Irlanda em 2017 com uma uma bolsa de estudos para fazer meu doutorado em direito na Trinity College Dublin e a vontade enorme de atuar na minha área, já que a possibilidade de trabalhar com direito internacional, por aqui, é maior.
Eis que, antes de mandar o primeiro currículo, precisei descobrir como funcionava a profissão por aqui. Afinal, sendo um país de common law, as regras são quase de outro mundo para quem aterrissa de paraquedas e não tem quem explique, por onde começar. Já deixo claro que, apesar da reputação da Trinity College, prefiro mil vezes minha querida Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde fiz minha graduação e mestrado pela CAPES, e sempre tive professores que cumpriram, com rigor e maestria, sua função de orientar e ajudar o aluno, em todos os aspectos da vida acadêmica e profissional. Tentei buscar ajuda no departamento de direito daqui e nada. Nehuma luz. Nenhum ponto de partida. A Law Society (equivalente a OAB) e a King’s Inn Society (onde os graduados em direito se tornam barristers) também não foram de grande ajuda.
Enfim, puxando o fio da meada, descobri como o mercado funciona, e mãos à obra! Com as famosas applications (infinitos formulários exigidos pelos escritórios de advocacia) veio a pergunta: Why did you decide to go to Law School? (Porque você decidiu fazer Direito?). Boa pergunta. Não conseguia formar uma resposta convincente, nem que me oferecessem o trabalho ali, na hora. Após o envio de diversos currículos (em torno de 65), cartas de motivação em igual número e umas 13 entrevistas, consegui meu emprego como Paralegal e até fiz um post, no Facebook, explicando os passos para atuar como advogado(a) na Ilha.
A partir desse questionamento imposto pelos escritórios, que eu almejava trabalhar comecei a refletir. Eu já não gostava de advogar no Brasil, não estou gostando da pesquisa do doutorado realizada na Trinity College, e cada dia que passa no escritório, onde atuo aqui na Irlanda (ainda que eu trabalhe com direito internacional), me faz questionar mais a minha profissão escolhida.
Após semanas refletindo, cheguei a conclusão de que o direito não me faz feliz. Não quero passar minha vida esperando pela sexta-feira e pelos meus dias de férias. Hora de mudar! Mas como afinal, já investi tanto na profissão: graduação, iniciação científica, OAB, mestrado e, agora, doutorado?
Não importa, aos poucos resolvi ir mudando (e ainda estou no processo). Comecei mudando o meu foco de pesquisa. Deixei o mínimo possível de conteúdo de direito na minha tese e resolvi escrever sobre aquele tema, que me despertou paixão e aquele interesse pelo aprendizado, que sempre tive e vi desaparecendo nos últimos anos.
Escrevi sobre economia comportamental e políticas públicas. Era isso que eu queria fazer: entender a motivação das pessoas através da economia comportamental e utilizar tal conhecimento para melhorar políticas públicas que, muitas vezes, não levam em conta o comportamento inerente do ser humano.
Dei meu aviso prévio no escritório onde trabalho e comecei a me dedicar ao estudo de métodos qualitativos e quantitativos de análise de dados – habilidade necessária para minha futura profissão – e, além de pesquisar muito, resolvi por em prática algo que pensava há tempos, mas não fazia por falta de tempo (ou medo?). Falei com amigos e decidi começar a escrever.
Meu primeiro artigo de ciências comportamentais foi publicado após uma conferência na Turquia e criei o Behavioral Minds, por enquanto somente conta no Instagram dedicada a resenhas de livros feitas em português e inglês e, em breve, insights do mundo fascinante das ciências comportamentais. Não consigo expressar o prazer que escrever para o Behavioral Minds me dá. Algo que o direito não me trazia há anos.
A mudança não é fácil. Muitos de nós decidimos com 17 anos o que será nossa profissão e, após anos nos dedicando é difícil imaginar trocar todo aquele esforço, por algo novo e incerto. As dúvidas são várias: como justificar para família e para os amigos? Como ingressar em uma nova profissão, agora mais velha? Como adquirir experiência? E a parte financeira, como fica? Acreditem, parece que há oito meses eu explico minha decisão de largar o direito. Mas tudo bem. A cada explicação, minha decisão se confirma internamente.
Meu conselho é: muita calma nessa hora. Quem me conhece, sabe que sou imediatista. Se pudesse, no dia em que decidi largar o direito, já estaria com meu emprego em economia comportamental, alinhado para o dia seguinte. Porém, muita pesquisa sobre a sua nova área será necessária. Se você vive o mesmo faço algumas sugestões:
Fale com amigos, mande mensagens no LinkedIn para profissionais da área, que deseja ingressar (na minha experiência as pessoas tendem a ser muito solicitas); Planeje-se financeiramente, para aquela pausa no salário, que você esta acostumado, e uma leitura que adorei foi ‘De que Cor é o seu Pará-Quedas’ de Richard Boles. Se trata de um guia prático para quem está pensando em mudar de carreira, além de outras coisas. A moral é que é difícil e a decisão não é fácil. Mas não desista, você sairá dessa jornada muito mais feliz e realizado.
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