Sim, cinco meses na capital Esmeralda… Muitas novas experiências de vida e um idioma tomando forma na mente. Tudo estranhamente assustador e mágico ao mesmo tempo, exatamente como muitos já descreveram por aqui…

Mesmo tendo ouvido que Dublin estava cheia de brasileiros, que seria fácil ouvir português em qualquer lugar, confesso que essa afirmação do tí­tulo era a última que eu imaginava fazer em tão pouco tempo de intercâmbio. Mas ao contrário do que pode parecer, quando eu digo que Dublin me fez um brasileiro, falo com a certeza de que isso stá sendo um dos meus melhores aprendizados na Irlanda.

© Mauricio Jordan De Souza Coelho | Dreamstime

E não, eu não vivi isolado de contato humano nos meus primeiros 31 anos de vida no Rio Grande do Sul. Mas Dublin não é só dos gaúchos. É também dos irlandeses, dos europeus, dos asiáticos… e dos brasileiros de São Paulo, do Rio de Janeiro, do interior de Minas, do Maranhão, de Goiás, de Santa Catarina, da Bahia, de Brasí­lia, do Pará e de todo o lugar. E é essa mistura de Brasil e Mundo aqui na Irlanda que está me fazendo enxergar o quão diversos, fortes, capazes e especialmente corajosos nós brasileiros podemos ser.

Chegar em um paí­s novo sem conhecer a lí­ngua, com pouco dinheiro, para dividir quarto e casa e procurar emprego passando longe das vantagens de um cidadão europeu, exige disposição. Eu mesmo economizei, deixei o emprego, devolvi o apartamento que alugava em Porto Alegre e vendi todos os móveis para resumir minha vida por pelo menos um ano a uma mala de 27kg. Hoje digo que essa foi a parte fácil.

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A maioria dos brasileiros que conheci aqui estão em busca de aprender um novo idioma, mas especialmente atrás de experiências e oportunidades, muitas vezes sem saber ao certo onde vai se chegar com tudo isso. Aqui estamos num terreno externo estranho, que mexe muito com as nossas convicções. E você se deixar passar por isso de peito aberto exige muita, mas muita coragem.

E a admiração por essa coragem, uma caracterí­stica que busquei uma vida toda para mim, ganha ainda mais força quando converso com um estrangeiro sobre o Brasil. Em todas as vezes que expliquei as condições que a maioria das pessoas enfrenta no nosso paí­s, o olhar dos irlandeses, franceses, italianos, coreanos e tantos outros, de diversas nacionalidades que a Irlanda me permitiu conhecer até agora, é sempre de admiração pela força de continuar lutando.

Não foram poucas as vezes em que conversei com uma amiga francesa e ela simplesmente não entendia como no Brasil ainda temos que lutar para que todos tenham acesso a coisas tão básicas como comida, por exemplo. Isso foi uma novidade para ela e um tremendo chamado à realidade para mim, um brasileiro que pode se considerar privilegiado diante do tamanho da desigualdade social que temos no nosso país. É um chamado a ser mais empático e solidário, assim como nós brasileiros somos aqui na Irlanda com os demais que estão passando pela mesma experiência.

Enfim, tudo isso está ajudando a me conhecer melhor, a entender as minhas limitações e a tentar me desafiar para superá-las – além de aprender inglês, claro. Tenho certeza que isso só está acontecendo porque encontrei brasileiros por aqui e porque me percebi brasileiro. Ainda terei mais um tempo por aqui e não sei o que pode acontecer no dia de amanhã, mas pelos primeiros cinco meses, já tenho a certeza de que conhecendo, conversando e olhando com mais empatia para nossos conterrâneos, posso estar mais feliz e em paz e, assim, naturalmente aprender a ajudar a transformar o Brasil no lugar especial que eu sempre imaginei ser.

Sobre o autor:
Vagner Benites, 32 anos, gaúcho de Uruguaiana, jornalista e ser humano em busca de conhecer um pouco mais do mundo e de si mesmo.

Imagens via Dreamstime
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