Dublin para maiores
8 anos atrás
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Os desafios daqueles que decidem encarar o intercâmbio na maturidade
Por Fabiano de Araújo
É isso mesmo! 2015 chega com força total e com direito a colunista estreando por aqui. Dessa vez, para mostrar a rotina, a experiência e desafios de quem decide embarcar no intercâmbio e já não é mais um garotinho em busca de aventura. Fabiano Araújo, natural de Novo Hamburgo, 3.9, largou tudo no Brasil para viver toda essa loucura que é mudar de país para aprender um novo idioma. Os meandros dessa aventura à beira dos 40 anos é o que você acompanhará de agora em diante na série “Dublin para maiores”.
Faltando alguns meses para garantir meu lugar na turma dos quarentões e o que eu faço?
Decido dar uma guinada de 180º em minha vida e embarco rumo a um intercâmbio no exterior.
É bem possível que algumas pessoas tenham visto a minha atitude como uma decisão inconsequente, mas para mim foi uma das decisões mais maduras e conscientes que tomei nos últimos anos e é sobre essa experiência que passo a compartilhar com vocês na série “Dublin para maiores”.
Passados a euforia do planejamento antes do intercâmbio, o embarque e a própria viagem, enfim, chego à Ilha Esmeralda. Uma nova cidade com uma cultura completamente diferente fazem-me sentir, inicialmente, como um peixe fora d’água. Percebo que por aqui não acontece aquele churrasco de domingo, o pagode do final de semana e o bate-papo em português com os amigos. É nessa hora que penso: e agora, o que fazer?
Unir-me aos nativos, é claro! Afinal, não demora muito e você percebe que o gringo, dessa vez, é você.
Mas será que o tiozão será bem recebido?
Acredite: se os questionamentos eram muitos antes de tomar a decisão, ao chegar por aqui eles não diminuem. Terei eu a mesma energia da garotada para encarar os desafios que estão por vir? Será que eu vou me acostumar a esse orçamento apertado dos primeiros meses que me impõe situações como dividir casa com desconhecidos, voltar à rotina de estudo e trabalho, e tudo isso em outra língua, cultura, costumes?!
É claro que dá aquele friozinho na barriga logo nos primeiros dias, afinal, não somos mais crianças e é necessário encarar a realidade. Embora sejamos fluentes em nosso idioma nativo, aqui somos como crianças em processo de alfabetização, já que não dominamos o idioma. A diferença é que nós somos os responsáveis pela cobrança no que diz respeito ao nosso aprendizado, já que dependemos da fluência para conseguirmos nos comunicar e interagir com os demais com eficácia.
Uma das coisas que eu percebi logo de cara foi que a molecada consegue desenrolar no inglês com muito mais facilidade do que nós, que somos mais velhos. Produto de uma geração em que o inglês está presente em quase tudo, graças à internet e outras tecnologias, muitas palavras já fazem parte do vocabulário dessa turma desde muito cedo. Enquanto para mim certos termos parecem grandes palavrões.
Se falar em inglês é complicado, pior ainda é quando as mensagens abreviadas em inglês dos amigos gringos começam a virar rotina no seu celular. Aqui o “you” passa ser “U”. O “talk to you later”, “TTYL”. E se você pensa que o “I don’t know” escapa, engana-se! Ele vira o simplificado “IDK”. É nesse momento que você entende o porquê de as pessoas ressaltarem tanto a palavra “desafio” ao se referirem ao intercâmbio. São essas “dificuldades” cotidianas que nos fazem evoluir e contribuem cada vez mais com o nosso aprendizado.
Se de um modo a idade pode ser um aspecto gerador de insegurança, por outro, a idade aparece de forma completamente oposta. A maturidade, por exemplo, nos ajuda a lidar com os contratempos com mais desenvoltura. O ritmo menos acelerado também é um ponto positivo no que diz respeito à análise de situações, já que conseguimos ver tudo com menos pânico e mais pé no chão.
Medos
Para mim o maior receio era de travar na hora de encarar a rotina irlandesa nos primeiros dias. Na hora de pedir infomação sobre o sistema de transporte, um endereço ou mesmo tentar esclarecer uma dúvida qualquer. Felizmente, esse receio foi diluído logo nos primeiros dias, graças à educação e à disponibilidade em ajudar do povo irlandês. É comum, por exemplo, você estar perdido na rua e a iniciativa partir deles. E não importa se você é jovem ou quase quarentão, a atenção é a mesma.
O medo de perguntar vai sumindo à medida que você vai adquirindo confiança em si mesmo. Assim, o receio de iniciar o intercâmbio na fase “tiozão” começa a desaparecer aos poucos. Eu confesso que a minha insegurança quanto à idade tem sido suplantada pelas oportunidades que tenho tido de compartilhar essa experiência do intercâmbio com os outros.
Embora a comparação seja inerente ao ser humano, tenho buscado encarar a novidade, deixar de procurar soluções óbvias para as coisas e aceitado o curso, os costumes e as soluções que a vida europeia tem me proporcionado.
O melhor é dar tempo ao tempo, buscar conhecer o país, a cidade, as pessoas e os hábitos locais. Isso sem se apegar a detalhes como a idade, pois quase sempre dar maior atenção a esses detalhes atrapalha a sua experiência. E como estamos aqui para aprender, interagir, compartilhar histórias e experiências…
Portanto, se você é quarentão, não desanime! Lembre-se que há muito dizem por aí que “quanto mais envelhecido o vinho, melhor ele fica”. Então, vamos brindar “Dublin para maiores” com uma boa pint de Guinness! Cheers!
Sobre o autor:
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Quanto custa um intercâmbio?
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