Como será trocar uma vida estável em sua área profissional e começar a atuar em algo que era o hobby do final de semana entre familiares e amigos? Essa é a história de Bruno Pinto, de 26 anos, pernambucano da cidade do Recife, que trocou o trabalho de produção e coordenação em marketing e eventos no Brasil para atuar como Line Chef na Irlanda.
Eu poderia começar dizendo que sempre tive uma vontade imensa de viajar por aí, o que não seria mentira, mas a verdade é que depois de seis anos trabalhando na área de marketing eu percebi que precisava sair da minha zona de conforto e conhecer realmente quem eu poderia ser.
Eu estava acostumado a olhar as fotos dos meus amigos sempre em lugares lindos e me perguntava: Por que não? Acredito que, assim como muitos, eu estive muito tempo preso aos meus sentimentos e deixei a minha ligação com familiares, amigos e até o medo da saudade me impedir de tomar a decisão que, há muito tempo, assombrava a minha mente, até que um dia essa vontade louca de conhecer o novo falou mais alto.
Quando percebi, já estava em uma feira de intercâmbio decidindo aquilo que iria mudar a minha vida bruscamente. Após muito pesquisar e analisar, acabei fechando o contrato com a agência de intercâmbio e marcando a minha primeira viagem ao exterior e com destino certo: a Irlanda!
Após um ano e meio me organizando, planejando e juntando dinheiro, eis que aterrizo na Ilha Esmeralda. Nesse meio tempo, compreendi melhor que a minha vontade não era apenas de viajar pelo mundo, o que eu queria mesmo era me sentir pertencendo a um lugar diferente do Brasil.
A escolha para viver essa experiência foi Dublin, lugar que vem deixando as minhas emoções ainda mais intensas e que me mostra todo dia que o melhor é não planejar tanto, pois assim como o tempo, aqui tudo pode mudar sem aviso prévio – e foi exatamente o que aconteceu com a minha vida profissional.
Já estava chegando na reta final do meu dinheiro, ou seja, desesperado por um emprego. Não havia encontrado nada e já estava há quase três meses morando na Ilha. Foi então, com a ajuda de um amigo que possuía um banco de e-mails das empresas aqui na Irlanda, que eu comecei a enviar o meu currículo. Eu apliquei para mais de quatrocentas empresas, para trabalhar em diversas funções. E foi assim, me candidatando a tudo, que a primeira entrevista aconteceu.
No Brasil, sempre tive o hábito de cozinhar como um hobby, mas nunca tinha trabalhado em uma cozinha profissional e muito menos feito algum curso de gastronomia. Cresci dentro de uma família que tem o talento nato de cozinhar de um tudo: sopas, salgados, bolos, doces, carnes, pastas, tortas, pizzas… E foi com os meus tios, tias e com a minha mãe que aprendi tudo o que sei sobre cozinha. Finalmente chegou a hora de colocar tudo isso à prova, pois a minha entrevista era para a função de line chef de um restaurante italiano. Isso mesmo! Foi a maior surpresa para mim, pois cheguei na entrevista achando que era para a função de Kitchen Porter. Aceitei o desafio e disse estar preparado, porém não imaginava que naquele momento teria de passar por um teste prático. Tive que preparar uma pasta para o chefe do restaurante em 15 min, eu estava tão nervoso que até hoje não sei como preparei tudo sem cometer nenhum erro fatal.
Quando terminei o prato e apresentei ao chefe, esperei ouvir um grande não, mas faltava ainda a prova de degustação – isso mesmo, além da apresentação visual, o chefe quis provar o que eu havia preparado. Eu suava frio enquanto ele estava saboreando o alimento. Quando eu menos esperava, ele me deu um enorme sim. Desse dia em diante, comecei o meu treinamento no restaurante. Posso dizer que não foi nada fácil, mas com muita força de vontade, muito estudo e empenho me tornei Line Chef de um restaurante Italiano aqui em Dublin.
Eu sei que nada é fácil e hoje tenho dias pesados, com bastante trabalho e estresse – uma rotina comum em restaurante -, mas confesso me orgulhar de não ter deixado a oportunidade de aprender algo além do idioma e ainda ganhar por isso. É incrível o que podemos descobrir sobre a nossa capacidade quando nos colocamos em teste. Para mim ficou muito mais claro que quando gostamos do que fazemos, tudo fica mais gostoso, ainda mais quando trabalhamos com algo que antigamente fazíamos por lazer.
Eu não gosto de pensar em arrependimentos, mas não é fácil se desapegar de toda uma vida que ficou no Brasil. Não é fácil suportar a tentação de querer voltar e a necessidade de querer ficar. Sendo assim, venho usando as novas possibilidades e as novas descobertas como combustível para seguir por aqui com calma, um dia após o outro, tentando algo diferente sempre, enfrentando alguns medos e assim, quem sabe, ser intensamente feliz.
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
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