Quando aterrissam na Irlanda com o intuito de aprender um novo idioma, trabalhar e aproveitar a viagem para absorver culturas diferentes, muitos jovens acabam sendo atraídos por falsas promessas de agenciadores. Um dos alvos principais destes estelionatários recai sobre a profissão de au pair, que é uma das mais procuradas, especialmente entre as meninas.
No entanto, a Irlanda não possui regulamentação para a atividade de au pair, diferentemente dos EUA, por exemplo. Lá, muitos jovens vão morar com uma família estrangeira e têm como objetivo aprender o idioma nativo, cuidar das crianças, além de receberem um salário regulamentado no país. Mas, na Irlanda, em muitos casos isso ainda não é uma realidade e histórias de exploração têm sido recorrentes. Mas não é porque você não vai trabalhar como au pair que você não precisa se preocupar. É preciso ter cuidado com armadilhas. Monique e Priscila (nomes fictícios a pedido das entrevistadas) são duas brasileiras que foram vítimas de golpes aplicados por patrões irlandeses.
No caso de Monique, ela trabalhou de cleaner (fazia limpeza do local) durante três meses num pub e nunca recebeu o pagamento. Segundo ela, o patrão sempre dizia que o pagamento seria feito de forma integral, após o término do período de experiência, e que ela deveria ficar feliz por ter achado um emprego sem falar fluentemente o idioma. “Era marinheira de primeira viagem e caí literalmente na conversa dele. No final dos três meses, ele me despediu e eu não soube a quem recorrer. Sem falar inglês e sem ter contatos na cidade, a quem eu ia recorrer para me ajudar?”. O desapontamento e a sensação de impotência foram tão grandes que levaram Monique a adiantar o retorno para o Brasil. O que era para ser uma viagem de um ano, acabou virando apenas nove meses. “Hoje aprendi a lição e nunca mais caio nessa história de receber salário depois de um tempo. Em qualquer lugar do mundo tem que ser igual. Trabalhou, tem que receber. Seja por dia, por semana ou por mês, mas nunca depois de três meses”.
Trabalhar como au pair, que, como já dissemos, ainda não é uma profissão regulamentada na Irlanda, em muitos casos também pode ser uma porta de entrada para exploração. É o que conta a estudante Priscila, que viu a sua vida tumultuada após encontrar uma vaga em um site, para trabalhar na casa de uma família irlandesa/italiana com três crianças. “O trabalho durava de dez a doze horas por dia. Além de cuidar das crianças, era obrigada a fazer os serviços de limpeza. Recebia apenas 130 euros por semana. A mãe das crianças gritava comigo e eu não podia tomar banho quente porque eles deixavam o aquecedor desligado. No anúncio, eram 30 horas por semana, cuidar apenas das crianças, praticar inglês e comida inclusa. Tudo mentira, porque eu não podia comer de tudo – eles sempre diziam que era das crianças”.
Exemplos como o de Monique e de Priscila, infelizmente, são uma realidade. A boa notícia é que a denúncia na Irlanda tem sido cada vez mais estimulada, o que favorece as vítimas, para que recorram às autoridades irlandesas em busca de orientação e proteção.
O Migrant Rights Centre Ireland, o Au Pair Rights Ireland e o Au Pair World Safety, são apenas alguns dos canais disponíveis para se buscar ajuda.
E foi justamente pelo aumento das denúncias sobre exploração de au pairs, que o assunto se tornou um dos temas principais de novela Fair City. O marketing social, mesmo sendo numa obra de ficção, acabou repercutindo positivamente e contribuiu para o aumento das denúncias sobre exploração da categoria.
O tema virou discussão nos principais veículos de comunicação do país, ajudando os grupos de apoio a au pairs a ganharem mais visibilidade. No Brasil, isso já é uma prática comum na teledramaturgia. Muitos temas abordados por novelas contribuem para a disseminação dele na mídia, como dependência química, violência doméstica e tráfico internacional de mulheres. Então, vale o alerta aos estudantes, seja na Irlanda ou no país em que você pretende fazer seu intercâmbio: ao perceber qualquer situação estranha, fora do comum, de exploração trabalhista ou em qualquer outra esfera, procure os órgãos competentes locais e denuncie!
Revisado por Tarcísio Junior
Imagenm da capa via Shutterstock
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