Entregadores brasileiros revelam casos de violência nas ruas de Dublin
4 anos atrás
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Muitos estrangeiros veem o trabalho de entregador como uma das melhores formas de ganhar a vida em terras irlandesas. Basta ter um meio de transporte, como moto e bicicleta, e uma conta em um aplicativo de “delivery”. Pronto! Agora é circular pela cidade e levar pedidos de restaurantes às casas de clientes. Parece fácil, mas não é!
Já faz algum tempo que as ruas de Dublin começaram a ficar mais perigosas para quem atua nesta área. Vítimas de ataques sem motivo feitos por gangues de adolescentes, além de assaltos, os “deliveries” têm ficado cada vez mais apreensivos de seguir atuando com as entregas.
Na semana passada, um brasileiro foi detido, acusado de matar um adolescente irlandês durante um incidente ocorrido na capital irlandesa na terça-feira, 28 de janeiro, entre dois entregadores e um grupo de jovens da cidade. Segundo a família do entregador, que está sob custódia, houve legítima defesa.
Agora, o clima entre os brasileiros que atuam como entregadores mudou e muitos já pensam em procurar outro tipo de trabalho ou até mesmo deixar o país.
Entregadores brasileiros estão com medo de trabalhar
Desde a morte do adolescente, muitas manifestações aconteceram em Dublin, principalmente no bairro East Wall, local do ocorrido. Na sexta-feira, 29 de janeiro, um grupo grande de jovens esteve percorrendo o local de bicicleta. No sábado, eles percorreram o centro da cidade, fechando ruas e parando o trânsito.
Entregadores que estavam pela região se sentiram ameaçados.
“Cheguei a ser perseguido por alguns jovens e parei próximo a um carro da Garda, dizendo que temia que acontecesse alguma coisa”, relatou um entregador brasileiro que preferiu não se identificar.
Ele disse que foi entregar um pedido no East Wall na sexta e não sabia que aquele havia sido o local do crime. Durante toda a noite, ele disse ter ficado aflito com a situação.
Desde então, esse entregador afirmou que tem trabalhado até, no máximo, 19h, e está aceitando pedidos apenas para locais onde sabe que é mais seguro. “Utilizo um mapa da cidade onde me disseram que é mais seguro”, afirmou, dizendo que começou a atuar na área há um mês.
Quantidade de entregadores nas ruas diminuiu
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Vídeo publicados nas redes sociais viralizou durante o último fim de semana
O entregador Filipe Fernandes é autor de uma página no Instagram, Pedalando na Irlanda, que narra o dia a dia da profissão no país. Ele contou que a quantidade de entregadores reduziu muito durante o fim de semana e, por isso, a demanda foi alta para quem trabalhou.
“Muitos entregadores preferiram passar o final de semana em casa por terem medo. Alguns dizem que estão indo embora ou vão procurar outra coisa pra fazer”, afirmou.
Leia também: Como é o trabalho de entregador na Irlanda?
Ele ressaltou que desde que começou a trabalhar na área sempre ouviu casos de ataques de gangues de adolescentes a entregadores, mas não sabe dizer se houve aumento ou não. “O que acontece é que com a morte acaba chamando mais atenção, mas a rotina continua a mesma.”
“Eles são muitos, às vezes jogam ovos ou barras de ferro, tentam derrubar os motoboys em movimento, sempre em grupos e agressivos”, disse.
Filipe foi convidado para participar de uma reunião com moradores do bairro East Wall, como representante dos entregadores brasileiros, com o intuito de fazer uma conciliação. Ele também deverá participar de uma reunião com a polícia irlandesa.
Violência é constante contra entregadores
A violência contra entregadores não é recente. Em 2018, um grupo de adolescentes atacou entregadores brasileiros no centro de Dublin.
O caso ganhou repercussão nacional, após imagens serem divulgadas pelas redes sociais, mostrando a agressividade dos jovens.
Aproximadamente 10 adolescentes começaram a jogar ovos e proferir ofensas, danificando bicicletas e agredindo alguns dos trabalhadores que estavam próximo à ponte da O’Connell Street, onde há muitos restaurantes.
Na época, um dos entregadores que estava na cena disse que se não tivesse muitos entregadores, poderia ter sido pior.
“Os adolescentes poderiam ter agredido os poucos que poderiam estar ali. Eles são fora de série, batem mesmo”, afirmou. Ele ressaltou que as vítimas foram mudando ao longo do tempo, eram mexicanos, depois africanos “e agora passou para os brasileiros”.
Os entregadores chegaram a fazer uma reunião, na época, exigindo melhores condições de segurança no trabalho.
Depoimento de entregadores brasileiros sobre violência em Dublin
Um brasileiro que trabalha com delivery, mas preferiu manter o anonimato, foi atacado por um grupo na região de D11. Ele afirmou que recebeu um pedido de entrega para fazer em Cabra e na sequência no bairro Finglas. Chegando no último endereço, porém, verificou que o número da casa estava incorreto.
“Liguei no restaurante e esperei o retorno. Só deu tempo de desligar o telefone e fui surpreendido por vários caras. Eles saíam de dentro do mato, por todos os lados”, afirmou. “Eles me deram muitas pancadas na cabeça, enquanto uns levaram a moto, outros me batiam e pegaram minha carteira”, relatou. Ele acabou tendo o nariz quebrado e preferiu voltar para o Brasil.
Em 2020, o entregador Thiago Côrtes, foi morto após ser atropelado por um carro dirigido por um adolescente acompanhado por amigos, que fugiram do local.
Outras vítimas relatam violência por grupos de jovens
O que não faltam são relatos de brasileiros que sofreram algum tipo de ataque apenas… por serem brasileiros. Os casos de xenofobia na Irlanda não são poucos.
A estudante brasileira Fernannda Gonçalves relatou que chegou a ser agredida na rua simplesmente pelo fato de não ser nativa. Ela conta que estava voltando para casa junto com um amigo quando foram abordados por um grupo de garotas de 12 a 14 anos.
De repente, o grupo de garotas começou a xingar e dizer para a dupla voltar para o país de onde veio. “Meu amigo começou a questionar o motivo de elas estarem falando daquela maneira, mas eu continuei andando”, conta.
Nesse meio tempo, uma das meninas disse aos dois que poderia fazer o que quisesse com eles e deu uma garrafada no rosto de Fernannda. “Meu nariz sangrou bastante, e elas saíram correndo”, afirmou, dizendo ainda que se sentiu vítima de xenofobia. “Ser estrangeira foi o único motivo da violência, com certeza.”
Apesar de já ter voltado ao Brasil, Fernannda disse que esse não foi o motivo. “Não acho que seja um país preconceituoso. Apesar desse episódio, eu encontrei irlandeses muito bons comigo, as pessoas com quem eu trabalhava me ofereceram muito apoio quando o caso aconteceu.”
Foto de capa: Sapir Giladi goveri/Unsplash
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