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Existe preconceito contra o estrangeiro na Irlanda?

Começar uma vida nova em um outro país exige determinação e coragem. Além de chegar, encontrar pessoas que possam lhe apoiar, fazer amigos e ter um lar, é preciso se sentir bem e aceito nessa nova realidade. Afinal, agora você faz parte da categoria “estrangeiros”, e isso pode gerar algumas situações.

Os irlandeses têm a fama de serem muito amigáveis, mas pesquisas recentes mostram que nem tudo são flores na chegada de estrangeiros à Ilha, principalmente para não-europeus e minorias sociais (negros, LGBTs, etc.).

Estudos relatam casos de racismo e xenofobia, o que dificulta, por exemplo, conquistar uma vaga de trabalho.

Mais da metade dos estrangeiros relatam caso de preconceito

Cerca de 60% dos imigrantes que estão na Irlanda dizem já ter sofrido algum tipo de preconceito. Foto: Chandara Tubchand/Dreamstime

Uma pesquisa feita pela UCD (University College Dublin) constatou que 60% dos estrangeiros vivendo na Irlanda, entrevistados pela instituição, já foram vítimas ou testemunhas de atos racistas na ilha. Segundo o relatório, a maioria dos casos acontece na rua, mas também foram relatadas situações em escolas, hospitais, escritórios e, até, estações da Garda, a polícia irlandesa.

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Esse percentual de entrevistados que já passou pela situação disse ter vivido ou testemunhado ataques verbais (71%), gestos (42%), ameaças (28%), recusa de serviço (24%), ataque físico (23%), condições de trabalho injustas (15%), grafite ofensivo (14%) e danos materiais (8%).

Cerca de 80% dessas pessoas não notificaram às autoridades por falta de confiança e uma certa tolerância, como se fosse comum passar por situações como essas em um país onde não se é nativo.

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Imigrantes sofrem mais para conseguir emprego

Candidatos a vagas de emprego com nome irlandês têm duas vezes mais chances de ser empregados. Foto: PxHere

Outra avaliação, dessa vez feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Social (Esri), mostra que existe uma diferença nas taxas de sucesso na busca de empregos entre irlandeses, europeus, não-europeus. Desses, principalmente os negros encontram dificuldades em conseguirem ser aceitos em uma vaga de emprego na Irlanda.

O experimento enviou 500 currículos equivalentes de candidatos irlandeses e grupos minoritários em resposta a vagas anunciadas na área metropolitana de Dublin. A pesquisa descobriu que candidatos com nomes irlandeses têm duas vezes mais chances de serem chamados para entrevistas do que candidatos com nome africano, asiático ou alemão.

Segundo a pesquisa, “essa taxa de discriminação é alta para os padrões internacionais”. Vale lembrar que a população irlandesa é dividida por 82,2% brancos, 2,1% asiáticos e 1,2% negros, entre outras características e etnias, segundo o censo CSO (Central Statistcs Office).

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Brasileiro vence ação contra pub em Dublin por discriminação

Decisão judicial foi a favor do brasileiro. Juiz disse não admitir tratamento discriminatório. Foto: Snowingg/Dreamstime

Um dos mais populares pubs do bairro Temple Bar foi condenado a pagar € 5.000 a um brasileiro por discriminação racial. A vítima alegou na Justiça do Trabalho ter tratamento diferenciado por ser estrangeiro.

Depois de ter faltado por estar doente, o empregado tentou entregar um atestado médico ao seu chefe, que recusou-se a deixá-lo voltar ao trabalho. O motivo seria que o médico que assinou o atestado não seria capaz de fazê-lo.

No entanto, a vítima diz que, por ser estrangeiro, teve um tratamento diferenciado pelo chefe por esse motivo e que um irlandês não teria sido tratado dessa maneira. O juiz que julgou o caso também teve esse entendimento com as provas apresentadas.

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Estudante brasileira relata violência nas ruas de Dublin

Fernannda Gonçalves levou uma garrafada no rosto após grupo de meninas perceber que ela era estrangeira. Foto: PxHere

São frequentes os casos de violência contra estrangeiros na Irlanda, principalmente na capital, Dublin. A estudante brasileira Fernannda Gonçalves relatou que chegou a ser agredida na rua simplesmente pelo fato de não ser nativa. Ela conta que estava voltando para casa junto com um amigo quando foram abordados por um grupo de garotas de 12 a 14 anos.

De repente, o grupo de garotas começou a xingar e dizer para a dupla voltar para o país de onde veio. “Meu amigo começou a questionar o motivo de elas estarem falando daquela maneira, mas eu continuei andando”, conta.

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Nesse meio tempo, uma das meninas disse aos dois que poderia fazer o que quisesse com eles e deu uma garrafada na cara de Fernannda. “Meu nariz sangrou bastante, e elas saíram correndo”, afirmou, dizendo ainda que se sentiu vítima de xenofobia. “Ser estrangeira foi o único motivo da violência, com certeza.”

Apesar de já ter voltado ao Brasil, Fernannda disse que esse não foi o motivo. “Não acho que seja um país preconceituoso. Apesar desse episódio, eu encontrei irlandeses muito bons comigo, as pessoas com quem eu trabalhava me ofereceram muito apoio quando o caso aconteceu.”

Irlanda ainda é um país seguro para imigrantes

Apesar dos dados, a Irlanda segue nos rankings como país seguro para estrangeiros. Foto: PxHere

Apesar dos dados, a Irlanda segue um país seguro e bem posicionado para imigrantes. Segundo um ranking da US News, a Ilha está em 16º lugar entre os melhores países para imigrantes viverem.

Com quase 5 milhões de habitantes, a Irlanda tem 84,6 mil imigrantes vivendo em suas terras, de acordo com o censo CSO. Destes, cerca de 11 mil são brasileiros.

Leia também: Irlanda tem alta taxa de racismo em local de trabalho

Apoio ao imigrante: onde encontrar?

Existem diversas instituições de apoio aos imigrantes. Algumas delas trabalham para auxiliar quem sofre algum abuso dentro do ambiente de trabalho.

O Migrant Rights Centre Ireland — Centro de Direitos dos Migrantes na Irlanda — está na lista dessas organizações. Eles têm como foco ajudar vulneráveis. Trabalhadores como babás, domésticos, funcionários de restaurantes, entre outras funções em que é mais comum ocorrerem abusos são prioridades.

A Enar (Rede Européia Contra o Racismo) tem representação na Irlanda. A rede nacional de organizações da sociedade civil antirracistas trabalha coletivamente para destacar e abordar a questão do racismo por meio da promoção e monitoramento de iniciativas antirracistas da União Europeia, principalmente. A organização oferece análises e ferramentas para capacitar aqueles que vivenciam o racismo a agir. Além disso, é um canal aberto para denúncias.

Rubinho Vitti

Jornalista de Piracicaba, SP, vive em Dublin desde outubro de 2017. Foi editor e repórter nas áreas de cultura e entretenimento. Também é músico, canceriano e apaixonado por arte e cultura pop.

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