A Copa do Mundo mal começou e uma notícia nada agradável parou a internet na segunda semana de junho.
Um grupo de brasileiros postou um vídeo na web fazendo uma “brincadeira” de mau gosto que, além de sem graça, saiu cara. Ao encontrar uma moça loira, provavelmente russa, os rapazes começaram a cantar uma música ressaltando a cor das partes íntimas da mulher.
O vídeo viralizou pela internet e revoltou grande parte dos brasileiros, que não gostaram nada de ver a nacionalidade verde-amarela sendo representada de forma machista, misógena e sem educação.
Vários participantes do vídeo já foram identificados e segundo relatos nas mídias sociais, um dos envolvidos é estudante em Dublin.
Então fica a pergunta: Será que esse tipo de comportamento se reproduz na Irlanda e apenas com brasileiros?
Apesar de sucitar muita revolta, situações similares parecem acontecer com cerca frequência entre os brasileiros estudantes em Dublin.
Certo dia, eu estava em um pub após uma semana de aulas, sentado em uma mesa com alguns brasileiros e outros estrangeiros. Uma delas, alemã, virou-se para mim e disse: “você quer transar no banheiro?”, em português. Fiquei chocado, com um riso nervoso, e perguntei por que ela estava dizendo aquilo. Enquanto isso alguns meninos da mesa começaram a rir. Eles tinham ensinado a ela que era daquela forma que se dizia: “Olá, tudo bem?”. Ela riu, apesar de constrangida.
Muitos casos desses acontecem por aqui e as meninas, muitas vezes, preferem levar na brincadeira. “Já aconteceu comigo, mas eram meus amigos, então não fiquei brava. Mas claro que é constrangedor, principalmente se alguém está gravando e posta na internet”, disse uma estudante da Turquia, que preferiu não se identificar.
Ela afirmou que os estudantes brasileiros geralmente agem em grupo e gostam de ver os estrangeiros falando em português, principalmente palavrões.
O caso dos brasileiros na Rússia gerou repercussão na comunidade verde-amarela em Dublin. Muitos foram contra à ação do grupo de torcedores, porém alguns comentários deixam visível o pensamento machista de alguns intercambistas. “É muito mimimi de feminista”, “estou me perguntando até agora se é rosinha ou não”, “intriga de quem tem ‘ppka’ roxa”, são apenas alguns dos pensamentos expostos em comunidades nas redes sociais.
Outros apoiavam a atitude do grupo na Rússia e atacavam as mulheres que estavam denunciando a situação como “feminazis”.
Um grupo de brasileiras feministas em Dublin atua na denúncia de abusos na capital irlandesa. Segundo Juliana Sassi, integrante do núcleo que integra o coletivo BLF (Brazilian Left Front) e o Merj (Migrants and Ethnic -minorities for Reproductive Justice), o vídeo deve ser levado a sério. “Esse video é abusivo, machista, racista e violento como tantas outras pseudo brincadeiras que trazem em si relações de poder desiguais na qual o riso é a melhor defesa contra um ataque mais ou menos esperado”, disse.
A cultura machista está espalhada pelo mundo e não são só os brasileiros que conseguem ser babacas com as meninas. Segundo Juliana, as brasileiras também sofrem com o machismo de homens de outras nacionalidades. “Basta dizer que somos do Brasil para nos tornamos mais atraentes. É incrível o rótulo que carregamos, é incrível como por sermos brasileiras nos tornamos automaticamente mais ‘abertas’ aos assédios. Temos sempre que explicar que ser legal não significa querer sexo, mas nem sempre é fácil porque muitos são nossos chefes, colegas de trabalho, da escola, professores e muitas vezes o assédio é feito justamente na forma dessas ‘brincadeiras’ ou ‘elogios'”, afirmou.
Além do núcleo feminista do BLF, existem diversos grupos de apoio às mulheres em Dublin. Alguns deles trabalham com a divulgação dos direitos das mulheres e a luta pela igualdade. Entre eles estão Irish Feminist Network e Women’s Aid, que atuam em casos de violência contra a mulher.
Imagens via Dreamstime
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