O fotógrafo paulistano Felipe Jóia vive na Irlanda desde 2015. Durante o primeiro lockdown imposto pelo país para a contenção da disseminação da Covid-19, em março, ele saiu às ruas de Dublin para registrar pontos turísticos vazios, trabalhadores essenciais, pessoas nas janelas, máscaras descartadas no chão, ou seja, uma nova realidade.
Seu trabalho acabou sendo premiado pelo Dublin Arts Council, em abril, que selecionou 334 projetos de aproximadamente 1.000 inscritos como forma de dar suporte a novos artistas.
Agora, o conjunto de fotografias também se tornou a exposição virtual Emptiness, que pode ser vista no site do fotógrafo, mostrando detalhes da capital irlandesa em meio a um dos momentos mais emblemáticos do mundo nas últimas décadas.
Quando a pandemia da Covid-19 começou, Felipe estava visitando a família no Brasil. Ele conta que de lá ele já sentiu o primeiro efeito da doença: a falta de emprego quando voltasse a Dublin.
“Voltei para Dublin aflito, pouco antes das fronteiras serem fechadas. Além disso, o medo do vírus, a insegurança de deixar a família durante a pandemia e o desafio de lidar de forma solitária com a quarentena me deixaram ainda mais angustiado. Dentro de mim, um imenso vazio”, relata.
O tempo sozinho em casa, porém, foi, aos poucos, ganhando afazeres. Entre eles, a ideia de registrar o momento histórico nas ruas da capital irlandesa.
“Eu sou um artista do movimento e percebia crescer em mim o desejo de andar, caminhar (física e simbolicamente). Atendendo a esse desejo, este projeto começou a tomar forma na minha cabeça, se construindo aos poucos”, afirmou.
Com sua câmera na mão e pernas em movimento, Felipe acabou conhecendo a cidade por outra perspectiva. “Quando comecei a fotografar, notei uma grande diferença, uma tensão que pairava no ar. Não se sabia com o que estávamos lidando e o bombardeio de notícias e informações nos deixaram ainda mais tensos”, diz.
Felipe relatou que a experiência o fez ver o lado bonito e poético “de uma cidade atravessada pela angústia”.
“Lugares antes cheios de carros e pessoas agora estavam vazios. O vazio que reconhecia em mim via também em Dublin e em sua ‘arquitetura de cidade vazia’. Ruas e avenidas que nunca dormem e lugares turísticos estavam numa espécie de ‘suspensão’. O banco do parque outrora com pessoas e vida, agora dava lugar a solidão e ao vazio. Sempre o vazio.”
Fotografando sem nenhuma intenção específica, Felipe ficou sabendo do prêmio aberto pelo Dublin Arts Council. Nele, colocou fotografias de três fases do lockdown, desde o mais restrito até quando, aos poucos, foi ficando mais “leve”.
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“Olhares apreensivos e de medo, desconfiança, tensão de não se saber o que de fato estava acontecendo, passos apressados, respiração ofegante por trás das máscaras e mãos suadas dentro de luvas nos lembravam que algo invisível aos olhos estava à espreita.”
O montante de fotografias expostas online mexeram com Felipe. Ele disse que 2020 foi o ano de descobrir que as coisas podem acontecer a qualquer momento, seja um novo lockdown, um novo vírus ou outra mudança.
“Talvez esse seja o tempo para repensarmos a nossa vida, nossos relacionamentos, escolhas e prioridades. Porque, no tempo de uma respiração, tudo pode voltar a ser, novamente, um vazio.”
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