Há alguns anos recebemos um e-mail de uma de nossas leitoras, na época com 50 e com muita vontade de ganhar o mundo. Dai ao responde-la, começamos a nos perguntar, quais seriam as possibilidades e os desafios de uma cinquentenaria a muitos quilômetros longe de casa? A respostas nos foi dada pela própria, anos mais tarde e garanto: é de arrepiar!
Boa noite, meninos! Na realidade quero a opiniâo de vcs: tenho 50 anos, aposentei_me recentemente e quero estudqar inglês, de preferencia na irlanda que é sonho antigo conhecer o pais. Não falo nada de inglês, vou estudar messssmo, mas antes inicio um curso por aqui, pra entender ao menos o oi e tchaw. Quero ir, morar e trabalhar um pouco para garantir o dia-a-dia. Gostaria da opiniao de vocês: se tenho chance de trabalhar por ai. Irei com mais uma amiga, da minha idade, tambem aposentada, nas mesmas condições. Aguardo, beijusssss, rosangela
“Amores,
Tenho lido algumas mensagens angustiadas, em maior ou menor densidade, de alguns membros do nosso grupo, em relação a “Ir ou não ir?”, se “ir” “o que nos espera?”, etc…,etc…etc… Bem, acho que posso dizer alguma coisa sobre isso. Afinal, sou o membro “mais experiente”.
Vivi grande parte de minha viajando a trabalho. Conheço o Brasil inteiro, de ponta a ponta. Igarapés, palafitas, prédios modernos, favelas, sertão, areia, chuva e sol…e eu no caminho. Sempre trabalhei para o governo federal e nessa condição me aposentei.
Trabalho, entretanto, desde os 13 anos de idade. Hoje tenho cinquenta anos, aposentei-me com 30 anos de serviço e tenho uma aposentadoria que poucos em nosso país podem ter.
Das sequelas do serviço público a que mais me atormenta é a decorrente da vida sedentária: males da coluna, pressão alta, colesterol alto e…síndrome do pânico!…”Braba”. Daquelas de lagartixa na parede virar jacaré. Tomo diariamente muitos medicamentos, todos de uso contínuo.
Bem, vocês devem estar se perguntando: “O que essa velha louca está querendo fazer na irlanda?” E eu respondo: na Irlanda, nada. Em mim, tudo.
Sempre tive uma vida relativamente confortável, conheci mais de 80 países e fiz amigos no mundo todo. Tenho um filho que adotei quando ele tinha 05 dias de vida. Hoje ele tem 14 anos. Fiz e faço tudo o que posso por ele.
No ano passado, prestes a me aposentar, sugeri ao meu filho que ele se preparasse para estudar fora do Brasil e que escolhesse entre Canadá, Inglaterra, EUA e Austrália.
Para isso ele teria que “passar” de ano e aos 16 anos poderia matricular-se em escola no exterior. Os requisitos são esses: não ter repetido de ano nos últimos 02 anos e ter no mínimo 16 anos.
Ele repetiu de ano. Por preguiça, por desleixo, por desânimo, tédio e sei-la-o-que-mais. Entrou água no meu barco!
Pensei: “Tudo bem. Isso aconteceu porque “EU” quero que ele estude fora. E ele, quer?”
Aí vi que esse é um projeto único e pessoal. Não pode ser vivido por ninguem que não seja você mesmo.
Pedi que ele pensasse a respeito e ele está pensando até hoje.
É claro que ele diz querer estudar fora do Brasil, mas estou aguardando pra ver o quanto ele vai querer isso.
A partir daí resolvi deixar meu carro, minha casa e meus confortos todos, para viver uma nova realidade, fora de minha zona de conforto.
Falei pro meu filho:
“Se vira aí. Te espero lá” “Vou realizar um sonho antigo: viver na Irlanda. Assumindo todos os riscos“.
Na Irlanda vou viver única e exclusivamente do dinheiro que vou levar (inicialmente), que é o mesmo valor que a maioria de vocês pensa em levar: 1000 euros para abrir a conta no banco, 1000 em VTM e 500 euros para o inicial.
De resto, vou correr atrás de um trabalho que me garanta o mínimo necessário para comer, morar, passear e comprar meus remédios.
Com relação a trabalho:
1- saio de um ambiente de trabalho estritamente formal: reuniões com políticos, reuniões com entidades como FEBRABAN/FIESP/ABECIP/BACEN/BNDES, seminários, congressos, viagens, trabalhos em grupo, etc..
2- perspectiva de ambiente de trabalho: boteco, fumaça, bêbados, pano de chão, lavanderia, latas de lixo, pilhas de pratos ou copos pra lavar, varrer e lavar chão, entregar jornal na chuva, etc….
Tudo a ver, não é??!
Na minha última reunião de trabalho fui aplaudida por mais de cem pessoas. E houve um almoço em minha homenagem, no próprio local de trabalho. Um luxo!!!
NAAAAAAADAAA!!!!!!!
Estou me sentindo como quem não sabe ler nem escrever. Uma completa ignorante, sem qualificação profissional nenhuma!
Minhas chances são muito menores do que quem tem até 35 anos. Vinte e poucos, então…nem se fale!
Tenho medo?? Lóóóóóógico!!Afinal, tenho um filho que depende de mim, sou uma pessoa prejudicada em termos de saúde e se eu despirocar em Dublin (síndrome do pânico), dificilmente vou conseguir me recuperar.
Mas tô achando o maáááááááximoooooo!!!
Sabe porquê???
Porque agora vou ter tempo de ser gente. Sem aquela máscara, aquela arrogância própria de cargos e funções.
Aí vocês podem dizer: “Mas assim é fácil: já fez a vida! Pode voltar a hora que quiser e terá uma aposentadoria esperando“.
Posso garantir a vocês que justamente por essa minha condição é que foi tão dificil decidir ir pra Irlanda! Aqui no Brasil sou o que se pode chamar de “vitoriosa”.
Se eu voltar por um motivo que não seja “vitorioso”, estarei condenada a dias de completa frustração. Começarei, então a morrer.
Nesse mesmo sentido, se um de vocês não “aguentar” e voltar para o Brasil, terão toda a vida e todo o gás para realizar o que quiserem. Sem nenhum problema, sem nenhum desgaste emocional.
É isso o que tenho a dizer: ainda que eu tivesse 70 anos, ninguém (pelo meu caráter, minha personalidade) me impediria de tentar realizar um sonho. Não seria justo, portanto, que eu mesma me impedisse, por medo ou insegurança.
Enfim, decidi sair do meu conforto porque se você não paga pra ver, dificilmente consegue alcançar um objetivo, realizar um sonho.
A maioria de vocês é muuuuuito mais jovem do que eu, por isso arrisco em dizer: dispensem o medo em favor da “adrenalina boa”, aquela que dá força, que inspira e não deixa desistir. Mais do que coragem, tenham fé. Persistam, insistam, sejam tolerantes, pacientes, saibam dividir, sejam menos críticos e saibam perdoar. Aí vocês poderão ir pra qualquer canto do mundo, sem o menor medo de “não dar certo”: o futuro é certo, virá. O que não existe mesmo, é o que nunca foi feito. Mas aí, nem sabemos que gosto teria.
Espero ter, de alguma forma, confortado vocês. E contem comigo!”
Rosângela
Texto originalmente publicado em 2011, mas a história da Rosângela é tão inspiradora que a gente continua publicando :)!
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