Mudar nunca é demasiadamente fácil. Seja a cor dos cabelos, o jeito de se vestir ou pensar. Não seria diferente mudar para uma nova casa, um bairro próximo, uma cidade vizinha ou distante, um novo estado ou uma região bem diferente da sua. Tomar essa decisão, imaginar como será, planejar cada passo, respirar fundo e… ir!
Há quase três meses deixei a cidade onde nasci, cresci e estava pleno por mais de 30 anos, no interior de São Paulo, para viver na capital de um país completamente diferente, a quase 10 mil km de Piracicaba.
Parece (e ainda é) pouquíssimo tempo, mas talvez o suficiente para ter impressões imediatas de que a mudança é um passo que se dá todos os dias.
Foi só olhar pela janelinha depois de 11 horas de voo, ao chegar em Londres, minha primeira parada, para sentir que o ambiente seria totalmente diferente.
Lá de cima, já era possível perceber a arquitetura clássica de uma cidade antiga, com suas casas de tijolos à vista e telhados retangulares.
Do aeroporto de Dublin para o táxi, o primeiro erro foi correr até a porta da direita do veículo e me deparar com o volante. “É você que vai dirigir?”, indagou o motorista. Até hoje, ainda tomo um extremo cuidado com as direções das ruas. Olho sempre para os dois lados, por mais sinalizadas que elas sejam, e de vez em quando vejo um carro vindo com uma criança ou um cão no banco do passageiro e tenho a impressão de que são eles que estão dirigindo. Loucura total!
A primeira coisa a se fazer ao iniciar o processo da viagem, é saber quanto que custa o Euro. O pulo da cadeira é inevitável ao perceber o quão desvalorizado está o Real hoje, por isso pode ser difícil administrar as finanças logo de cara.
O Euro, que demorei a conseguir administrar, parece ser baratinho no mercado, nos pubs e nas lojas. Mas uma mísera moedinha de uma unidade é, na verdade, quase R$ 4. Como dizem aqui: “quem converte não se diverte”. Mas a gente fica pior que pastor religioso, tentando converter a todo momento.
Sem desmerecer escolas brasileiras, mas quem nunca estudou uma vida inteira de inglês sem sair das “tabelinhas de verbo to be”? E depois de tanto “the book is on the table”, chegar aqui e travar na hora de falar com os nativos não é uma raridade.
É impressionante como em um mês de aula e um monte de papo furado pelas ruas, foi fácil perceber a melhora. Ao longo das semanas, a língua vai ficando cada vez mais forte e é possível ligar aquela “chavinha no cérebro” que faz você falar inglês com maior facilidade e fluência. Mas por mais tempo que se passe, uma dúvida sempre vai permanecer naqueles segundinhos de tensão ao se deparar com uma porta fechada: mas é “push” ou empurre?
Amanheceu um dia limpo, com sol e sem nuvens, mas isso durou só até eu terminar de tomar o café da manhã. Dia claro, chove, céu azul novamente, mas pode chover daqui a pouco de novo. Sensação térmica de menos 8 graus e um sol estalando lá fora. É possível? Claro, você está em Dublin.
O tempo instável é marca registrada da cidade e a capa de chuva será sempre uma companheira, por mais que a previsão seja otimista. Mas com tudo se acostuma e logo já comecei a achar “calor” quando o termômetro marca seus 10 ou 11 graus.
Aos poucos, fui entendendo a cidade. O Pão de Açúcar chama Tesco e a C&A é a Penneys (sim, se pronuncia parecido com o nome do órgão genital masculino). Jaca vale ouro, mas suco de blueberry é barato. Spire é o melhor ponto de encontro. Tomar um chá na casa de um amigo ou uma pint em um pub é um convite inegável. E cruzar o país leva menos tempo que cruzar o estado de São Paulo.
Parece coisa de caipira deslumbradinho com esse novo Velho Mundo. Mas são mudanças visíveis, invisíveis, bruscas ou sutis, que a cada dia enchem o barquinho com esperança e mais vontade de aprender intensamente.
Imagens via Dreamstime
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