Sabe aquelas fotos de viagem que as pessoas tiram ao lado da Torre de Pisa, na Itália, ou na Torre Eiffel, em Paris, com ângulos perfeitos dos turistas amparando ou “segurando” os símbolos das cidades? As expectativas vs realidade de um intercâmbio muitas vezes acabam da mesma forma: algo bem distante do que imaginamos. Essa foi a sensação que teve a intercambista Ana Luiza Pozenato, de 22 anos e recém-formada em Administração, assim que desembarcou na Ilha Esmeralda.
Por Ana Luiza Pozenato
Colaboração: Fabiano de Araújo
Intercâmbio pago, passagens compradas e a expectativa de que tudo seria maravilhoso. Foi com essa impressão que deixei o Brasil em direção à Dublin. Fechei meu intercâmbio no final de agosto de 2015, para embarcar no final de janeiro de 2016. Desde o momento da minha decisão de embarcar para a Irlanda, pesquisei sobre a vida dos estudantes no país e, principalmente, sobre as vantagens e desvantagens de viver na terra dos gnomos. Infelizmente, ao chegar por aqui descobri que tudo o que eu li parecia muito melhor do que eu realmente encontrei.
Confesso que parte da minha desilusão poderia ter sido amenizada se eu tivesse pesquisado as informações de mais fontes: é essencial escutar atentamente a agência, conversar com quem já foi e tentar entrar em contato com quem está neste momento no país – e só então tirar as suas próprias conclusões. Então essa é a minha dica para você: pesquise, pesquise e pesquise, seja qual for o seu destino.
E é baseada na minha experiência pessoal que listarei abaixo cinco realidades na Irlanda que me decepcionaram logo nos primeiros meses no país.
Desde que comecei a pesquisar, muita gente dizia que uma ou duas semanas de acomodação eram suficientes para chegar, se acomodar e ir em busca de um teto definitivo. Assim eu o fiz. Meu pacote incluía duas semanas de acomodação pagas, e já na primeira comecei a procurar um teto definitivo nos grupos do Facebook. Olha, eu penei viu!? Essa coisa de ficar correndo atrás de um teto em condições nada agradáveis é bem desmotivante. Aquela imagem do apartamento perfeito, com os mates sorridentes, dizendo welcome, não rolou.
A busca por uma acomodação atualmente em Dublin se assemelha a um processo seletivo. Haja entrevista, haja contato e haja NÃO na cara. Você chega achando que a escolha é sua, mas logo descobre que não é bem assim. Além de ter que passar pela aprovação dos seus possíveis flatmates, muitas vagas são desesperadoras. Apartamentos minúsculos, com até 6 pessoas, valores de aluguel exorbitantes e muitas vezes exploração até mesmo no valor deposito.
Eu até acho que burocracia existe em qualquer lugar do mundo, mas nunca imaginei que abrir uma conta bancária seria um parto na Irlanda. Para a minha infelicidade, cheguei na Ilha em um momento de muitas mudanças. Após os muitos abusos no setor educacional e outras fraudes relacionadas a estrangeiros, as coisas na Ilha Verde estão muito mais restritas que se imagina. Pois é, e eu nem imaginava.
Naquela correria para juntar a documentação para solicitar o visto de estudante, emperrei para abrir a conta. Tudo dando errado, novas regras sendo implementadas e as agências no Brasil menos informadas que muita gente. Uma dor de cabeça sem fim e um estresse descomunal para uma pessoa recém-chegada na terra dos sonhos. Aquela expectativa de primeiros dias felizes, extasiada com as novidades do país, parecia um naufrágio do Titanic. A realidade? Muito stress, correria e ansiedade, já que, por dias, tive que fazer campana esperando o mocinho dos correios chegar com o maldito extrato bancário, tão necessário para o tal GNIB e tão lento para chegar no arcaico sistema de correio. Pois é meus amigos, com menos de um mês, já morria de saudades dos nossos ágeis correios do Brasil.
Que Dublin não é uma cidade barata, muita gente j[a sabe. Mas acho que eu não levei tão a sério esse dado. O aluguel no centro é pesado e leva boa parte do nosso dindim. Os pubs são gratuitos, é verdade, mas em contrapartida o valor das bebidas são indecentes. Muito se fala da Penneys, com seus preços super baratos, mas a qualidade mesmo de muita coisa, é só para inglês ver – lavou, acabou. Há, ainda, quem afirme que “quem converte não se diverte”, mas para um recém-chegado, com os 3 mil euros emperrados com o processo de visto e toda a despesa da chegada, não converter é quase impossível, afinal a terra é do Euro, mas o nosso suado dinheiro carrega o R$ bem brasileiro.
Se você, assim como eu, pesquisou sobre as escolas, sobre o país, sobre a cultura e esqueceu de dar uma olhadinha na quantidade de conterrâneos que, como você, escolheram a Irlanda para o intercâmbio, se prepare. Você pensa que imagina quantos brasileiros existem por aqui, mas você só vai entender essa extensão de verdade ao chegar. Primeiro dia de aula e as caras e os sotaques são mais tupiniquins do que qualquer outro. Na rua, no ônibus, no mercado… é comum escutar a sonoridade do Português a cada esquina.
Morar com gringos é uma expectativa da maioria, mas uma realidade para poucos. Primeiro, porque, para quem chega com o inglês básico, essa história de morar com gringo para evitar falar o Português e te ajudar a praticar o inglês é uma falácia. A gente leva tempo para destravar e realmente tirar benefício disso. Além do mais, no final das contas, quem vai tirar as suas dúvidas na hora do perrengue, te ajudar a encontrar acomodação, dar dicas de emprego?
“Eita p***, que frio”. Essa era a frase que eu mais falava quando cheguei por aqui, em pleno inverno. Claro que eu já havia pesquisado sobre o clima, sabia das chuvas constantes, do frio e do vento, mas uma coisa é o que está escrito e a outra é vivenciar essa temperatura em pleno inverno europeu. Eu morava em Curitiba, onde faz bastante frio, mas mesmo assim passei apuros nos primeiros dias e pensei que ia congelar. Minhas roupas não venciam. O que me salvou foram os casacos, tocas, lenços e luvas que ganhei das pessoas que já estavam aqui.
A verdade é que criar altas expectativas é, quase sempre, um fator de frustração. É extremamente importante se aprofundar nas pesquisas antes de pisar no destino escolhido. Então minha dica é: pesquisem e pesquisem muito. O intercâmbio é uma experiência mágica, mas venha disposto a superar obstáculos, lidar com frustrações e descobrir que conto de fadas mesmo, só nas histórias infantis.
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda , de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
Revisado por Tarcísio Junior
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