Passados poucos meses vivendo em outro país, a minha ficha caiu!
A minha vida nos últimos 2 anos deu um giro que eu nem imaginaria se me perguntassem lá atrás. Há 2 anos, por alguns motivos eu decidi que estava na hora de começar a olhar para dentro de mim e ver o que eu queria. O mochilão na América do Sul foi o divisor de águas da minha vida, uma experiência cultural e de autoconhecimento incrível. Com ele, veio a decisão de que definitivamente estava na hora de mudar de vida.
Percebi que tinha caído no tradicional comodismo: emprego certo, casa certa, rotina certa. Nada disso é errado, o errado era eu que não estava satisfeita com a vida que estava levando e continuava ali. Então comecei a mexer os pauzinhos para sair do país.
Em segredo, comecei a planejar, pesquisar e também a me questionar muito. O medo de contar para os pais que ia largar tudo e recomeçar em outro lugar era grande. Afinal, tenho quase 30, o que para os “antigos” é onde eu deveria estar: estável, casada, 5 filhos, 3 cachorros, 2 gatos, 2 periquitos, 1 casal de papagaios e cuidando da vida do vizinho ao lado.
Mas, a surpresa veio quando o meu pai me disse: “Parabéns filha! Você está indo atrás do seu sonho”, e a minha mãe: “Você estando feliz, pode estar em qualquer lugar”. Sem dúvidas, os MELHORES pais do mundo, sempre me permitindo ser o que quer que seja – e o mais importante, me apoiando. Foi tudo o que eu precisava escutar para ir atrás dos meus sonhos.
Oceano cruzado, aulas começando, casa nova, cidade nova, país novo, amigos novos, emprego novo e plim! O cérebro entra em “colapso”, seu corpo cansado e… pera aí. Para! Alguma coisa tá acontecendo. Onde estou? O que estou fazendo aqui? Meu Deus, que saudade da família, que saudade dos amigos, que saudade do verão (Sim! O verão do Brasil – isso aqui é um projeto de verão que não deu certo). Que saudade da comida, que saudade do vizinho, da prima, da amiga, da irmã, de alguém… A saudade vem de coisas que você nem imaginaria que seria possível sentir. É tanta informação nova, tanta gente nova que… Espera aí, tempo! Deixa eu assimilar o que está acontecendo. Cadê a Frann que estava lá no Brasil? Já dizia uma amiga… JESUS, MARIA, JOSÉ!
Eu sabia, na teoria, como as coisas seriam. Me preparei para vir para cá de cabeça e coração aberto. E vim. É por isso que é tanta informação, eu nunca me permiti tanto, a ser a Frann na essência. Só que essa Frann nem eu mesma conhecia.
Sim! Tem que ter muita coragem para largar tudo e recomeçar do zero. Porque eu vim sem data de volta. É como se apertasse o botão reset na vida. Vamos recomeçar, só que agora com um plus – você já passou por várias experiências na vida que vão te ajudar em algum momento. Mas é como se eu voltasse a ser criança de novo, tudo é novo e até aprender a falar eu estou, pois é essa a sensação que tenho todos os dias ao aprender o inglês.
É tudo novo, é tudo diferente. E esse TUDO dá um nó na cabeça que, realmente, é preciso ter muita coragem para não sair correndo.
E aí vem mil questionamentos. Falam que a minha geração “y” não quer nada com nada, por isso larga tudo e muda de país. Mas de onde é que tiraram isso? Se não quiséssemos nada com nada, estaríamos dispostos a ficar longe do conforto para correr atrás de um sonho? Conforto de estar com a família, amigos, e cultura em troca de estar em um país totalmente diferente? Com uma cultura diferente e enfrentando tantos desafios?
Mas e a Frann? Pois é! A Frann independente, de coração de gelo, fria e sei lá mais o que… era como eu me definia. Independente até vai, mas agora entendendo que ninguém é independente de afeto e carinho. Passei a ter mais contato com a família agora do que quando estava a apenas alguns quilômetros de distância.
A Frann segura, se tornou tão vulnerável aos “sufocos”? Na primeira entrega de CV, no medo de não dar conta do trabalho ao ter que lidar com clientes! O pensamento não para… “Vou conseguir? Vou conseguir? Meu Deus, meu inglês não é bom para isso ainda!”. E a surpresa! O inglês tá bom? Claro que ainda não, mas você consegue. Se faz entender, dá um jeito, mas não deixa a peteca cair. E você se percebe cada vez mais firme, cada vez mais forte.
É verdade, a ficha cai e cai forte. Porém, passando todos esses momentos de dúvidas e questionamentos, você também descobre tanta coisa… As pessoas incríveis que surgem na tua vida, nos lugares mais inesperados possíveis. E você percebe que, indiretamente, você não está aprendendo uma só língua. O amigo francês tá te ensinando algumas coisas de francês, o amigo italiano te ensinando italiano, o mexicano ensinando o espanhol, e o espanhol, o espanhol diferente do mexicano – e por aí vai.
E começa a cair a ficha que essa loucura toda é uma troca. Diariamente, você tá ali recebendo abraço e carinho de pessoas que mal conhece e em troca ouvindo “admiro sua coragem, me ensina a ser assim”. Caraca! Oi? Sério? E você fica feliz por qualquer elogio, porque aprende que não é só elogio. Aprende a ser grata pelas pequenas coisas da vida, pelas pequenas vitórias, e por cada perrengue superado.
E assim você vai, eu vou, passinho a passinho, aprendendo, dando a cara a tapa e vendo que isso tudo vai ser muito mais grandioso do que você pensava…. Que, de fato, a Frann que saiu do Brasil não será a mesma que vai voltar. Porque já não é mais nem a mesma de 2 meses atrás.
A ficha caiu, e sim, eu tenho coragem!
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