Muitos brasileiros estão em uma situação complicada na Irlanda. Eles chegaram pouco antes das escolas terem fechado e a pandemia do coronavírus ter atingido em cheio a ilha. Ou seja, não tiveram tempo suficiente para tirar documentos essenciais como IRP (Irish Residence Permission) ou PPS (Personal Public Service) e por isso não conseguiram nem mesmo arrumar um emprego. Estão no país sem poder trabalhar ou receber benefícios. O E-Dublin conversou com alguns deles para entender como estão lidando com a situação.
O paulistano Will Araújo, de 34 anos, saiu do bairro da Lapa, em São Paulo, para realizar seu sonho de intercâmbio na Irlanda. Ele chegou na ilha no dia 7 de fevereiro. Naquela data, há menos de dez dias a Europa tinha confirmado seus primeiros casos de coronavírus na França e na Alemanha.
Até então, a Irlanda ainda considerava baixa a possibilidade do Covid-19 chegar ao país. Mas após menos de um mês da chegada de Will à Irlanda, na cidade de Bray, ele iria ver o primeiro caso de coronavírus sendo noticiado na ilha e nem imaginaria o quanto isso iria mudar seu intercâmbio.
As aulas de inglês de Will começaram no dia 10 de março, mas foram apenas dois dias de ida à escola. No dia 13 de março, todas as escolas amanheceram fechadas por conta de uma medida emergencial do governo. “A gente começou a ter aulas online e a previsão que a diretora tinha passado era que ia voltar tudo ao normal no final de março, o que não aconteceu”, disse. Realmente, as coisas foram ficando cada vez piores.
A paulistana Bruna de Oliveira Silva, 34, chegou mais ou menos na mesma época que Will, no final de janeiro, também na cidade de Bray. Como parte do processo para conseguir tirar o IRP – o visto – , ela precisava abrir uma conta no banco e mostrar o extrato bancário para comprovar os 3.000 euros exigidos pelo departamento de imigração. “Assim que eu cheguei, tive que solicitar para escola uma carta para levar ao banco. Foi quase um mês entre o recebimento da carta e abertura da conta. Depois disso, demorei uns 15 dias para agendar a solicitação do IRP”, afirmou.
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Bruna chegou a ir até o escritório de imigração com o passaporte, fez as impressões digitais e deixou tudo pronto para tirar seu visto. “Quando faltavam três dias para eu poder pegar meu visto, o escritório fechou”, disse.
Will tinha o agendamento de visto marcado para o dia 15 de março. Em Bray, ao contrário de Dublin e assim como em outra cidades menores da Irlanda, o agendamento não é feito online. É preciso ir pessoalmente ao escritório para agendar e dar entrada no visto. “Eu fui levar minha documentação e o rapaz da imigração disse que não conseguiria fazer o IRP (Irish Residence Permit) porque o sistema estava bloqueado e não havia acesso. Ele não tinha autorização, na verdade, para fazer mais nenhum nenhum IRP”, disse Will. “Aí já era. Dali em diante começou a tortura.”
No dia 28 de março, o governo endureceu ainda mais as regras de isolamento, permitindo apenas que trabalhos essenciais fossem realizados. No entanto, trabalhadores que perderam o emprego ou entraram em recesso poderiam receber auxílio governamental. Isso inclui estudantes.
Will, porém, está em uma situação mais complicada. “Eu não tenho PPS, não tenho IRP e não tenho emprego. Eu até tentei mandar o formulário (para receber auxílio do governo), escrevi uma cartinha explicando a situação para eles. Eles me retornaram dizendo que meus dados estavam incorretos e que não conseguiria ter a ajuda do governo.”
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Sem visto e sem PPS, Bruna também não consegue o auxílio. “Não consigo um trabalho porque eu não tenho visto nem PPS, então eu estou nesta situação, o dinheiro só está indo embora e eu não estou conseguindo agilizar a minha vida”, disse.
Will afirmou que tentou buscar ajuda para saber orientações em como permanecer na Irlanda nessas condições. “Mandei um e-mail para a imigração e eles falaram que realmente não poderiam me ajudar e que eu precisaria ter o PPS. Mandei também um e-mail para a escola e disseram que o país está totalmente fechado e não poderiam fazer nada por mim”, lamentou.
Will também tentou tirar o PPS online, mas foi negado. “Eles pedem uma prova, que é preciso de uma carta do empregador, mas eu não tenho”, afirmou, ressaltando que não há empregos disponíveis no momento.
Will está chegando ao quarto mês na ilha e sem perspectiva de como será o fim de seu intercâmbio. Nem mesmo sabe como vai conseguir pagar o aluguel. “Eu queria muito continuar aqui. Ainda tem uma esperança. Enquanto houver 1% de chance, eu vou ficar. Mas se minha acomodação for ameaçada, aí eu vou ter que partir para outros planos”, ressaltou.
Para Bruna, o governo irlandês “teria que enxergar isso”. “Tudo que eu tenho hoje de documento é abertura da conta no banco”, resumiu. Completando já três meses de Irlanda, Bruna disse que tinha a intenção de renovar seu visto para permanecer no país mais tempo. “Pelo jeito talvez eu não consiga. Vamos ver quais serão os próximos capítulos dessa história.”
Cada brasileiro pode estar passando por dificuldades diferentes na Irlanda e por isso é importante que dúvidas e questões mais profundas sobre cada caso sejam tiradas diretamente com o governo ou instituições de auxílio a imigrantes.
O Citizens Information publicou um longo texto explicando detalhadamente as propostas e ações do governo irlandês para os imigrantes.
Immigrant Council of Ireland
Tel: +353 (0)1 674 0200
Homepage: http://www.immigrantcouncil.ie/
Irish Refugee Council
Homepage: http://www.irishrefugeecouncil.ie
Email: info@irishrefugeecouncil.ie
Irish Council for International Students
Tel: (01) 660 5233
Homepage: https://www.internationalstudents.ie/
Email: office@icosirl.ie
Crosscare Migrant Project
Tel: +353 (0)1 873 2844
Homepage: http://www.migrantproject.ie/
Email: migrantproject@crosscare.ie
Nasc Migrant and Refugee Rights
Email: reception@nascireland.org
Doras
Tel: 061 310 328
Email: info@doras.org
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