As entrevistas ocupam um capítulo temeroso no processo de busca profissional na Irlanda. É diferente? O que pode e não pode? Convidamos um brasileiro que passou por muitas entrevistas antes de vir para a Irlanda (por Skype), e depois, presencialmente, já na correria rumo a uma vaga no setor de TI.
Mas, antes de conhecermos a história prática do Valdir Júnior. Vamos dar uma expiadinha nas Dicas do Edu sobre como se comportar em uma entrevista de emprego no exterior.
Como foi a experiência das entrevistas do Valdir Júnior?
Após as experiências frustrantes da América do Norte, enquanto procurava emprego nas empresas da Irlanda, por questões burocráticas, decidi usar a estratégia de omitir meu endereço e telefone no currículo — para contato, deixava apenas meu e-mail.
Logo nas primeiras semanas, comecei a receber muitos contatos de recrutadores e agências interessados no meu currículo. A estratégia foi importante para ter, pelo menos, a possibilidade de interagir com esses canais, pois, por e-mail, muitos deles me convidavam para um bate-papo informal.
Porém, apesar de melhorar o acesso a novos canais de recrutamento e ter a possibilidade de “vender o meu peixe”, nessas conversas passaram a surgir os velhos entraves que eu já conhecia — e muito bem!
“Você ainda está no Brasil? Tem passaporte europeu?” — Pois é… Se antes o problema era ser estrangeiro nos Estados Unidos, agora passei a encarar a dura realidade dos não-europeus que almejam uma carreira na Europa e a concorrência natural com os 27 países que compõem a União Europeia — e que, claro, têm prioridade.
Li muitos depoimentos de brasileiros na Irlanda que dizem ter conseguido fazer entrevistas por Skype. Não sei se foi por falta de sorte, mas comigo isso não aconteceu. Quando os recrutadores solicitavam meus contatos telefônicos e percebiam que eu ainda estava no Brasil, o que mais ouvia era: “Ah, tudo bem, quando estiver na Irlanda entre em contato comigo novamente para conversarmos”. Eu até insistia, dando a opção do Skype, mas não rolava.
Eu, que já vinha há alguns meses prospectando no Brasil e sem sucesso, observei que a falta do passaporte europeu certamente seria um entrave, mas o fato de estar no Brasil havia se tornado um problema ainda maior — eu cheguei a ser contatado por até três recrutadores em um só dia, mas nada fluía.
Nesse momento, eu decidi que, se eu continuasse tentando do Brasil, dificilmente conseguiria a oportunidade profissional tão almejada.
Bom, o passaporte europeu eu não tinha como conseguir, mas uma passagem aérea para a Irlanda era um passo que eu conseguiria dar. E assim, logo que defini a data do embarque, passei a contatar todos os recrutadores que haviam se interessado pelo meu perfil.
Apesar de ter sido uma decisão difícil, já que precisaria deixar minha família e meu filho no Brasil, percebi que, para mim, essa foi uma decisão acertada, pois minhas qualificações se encaixavam com a demanda do país.
A maioria dos recrutadores com quem eu havia trocado e-mails nos últimos dois meses ainda tinham interesse no meu perfil e agendaram entrevistas em Dublin já para os meus primeiros dias na cidade. E foi assim que eu embarquei para a Irlanda com seis entrevistas agendadas!
Instalado em Dublin e seguindo a rotina de um estudante de línguas, já que entrei com o visto padrão de estudante (Stamp 2), atualizei meu perfil no LinkedIn, dessa vez sem medo de inserir telefone e endereço, entrave que eu já havia resolvido.
A diferença foi grande. Eu, que enquanto estava no Brasil não havia investido em agências e sites de empregos, passei a ser consultado por vários deles. Nas primeiras semanas em Dublin, consegui agendar algumas entrevistas. Isso sem falar nas ligações que recebia e não prosseguia, por eu não ter a cidadania europeia.
Com pouco mais de um mês na Irlanda, posso dizer que superei o entrave das entrevistas por Skype que não rolavam e consegui ter muito mais acesso às vagas, já que estava sendo consultado por muitos canais.
Aliás, passei a investir com mais afinco nas agências de empregos, pois são delas que surgem o maior volume de convites para entrevistas. Porém, apesar de ter realizado várias entrevistas e, em quase todas elas, ter sido muito bem-sucedido (mesmo, muitas vezes, com certa dificuldade de entender o sotaque irlandês), o tão desejado emprego ainda não acontecia. Mas, por quê?
Emprego tem, e muito. Porém, a maior dificuldade é encontrar um emprego com o que eles chamam de “sponsor”, ou seja, uma empresa que aceite investir no Work Permit (visto de trabalho) para você. Esse é um processo que custa caro para a empresa e, para eles decidirem bancar isso, o profissional precisa valer a pena.
Apesar de ter o perfil que o mercado irlandês tem buscado e de ter passado pelas diversas fases do processo de contratação, quando a coisa vai afunilando, sempre há outros concorrentes com o tal do passaporte europeu, e é claro que a empresa dificilmente vai querer investir 1500 euros em um Work Permit, quando tem outras opções “for free”.
Para falar a verdade, essas três palavras se tornaram o meu lema aqui na Irlanda. Tenho as skills que o mercado irlandês procura, tenho experiência e, além disso, tenho me saído bem nas entrevistas e avançado nas etapas do processo seletivo. Sei que o meu primeiro emprego vai surgir cedo ou tarde.
Aliás, esse é outro fator que você, assim como eu, terá que encarar por aqui. O processo seletivo demora muito. Acerca da primeira entrevista que fiz em Dublin, por exemplo, só obtive o retorno dizendo que eu estava na segunda fase depois de um mês. Conversando com outros profissionais da área, descobri casos em que o processo total durou mais de quatro meses!
O segredo é realmente ter muito foco para não desanimar, apostar na fé e acreditar que tudo dará certo e, ainda mais importante, ter muita paciência!
No próximo texto, vou contar um pouco sobre como têm sido as entrevistas e as fases seguintes nas empresas onde ainda estou no páreo para a vaga.
Sobre o Autor:
Revisado por Irene Canadinhas
Imagens via Dreamstime
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