A posição de neutralidade da Irlanda em relação aos conflitos internacionais pode estar com seus dias contados. O país está ativo em relação à guerra na Ucrânia e tem feito duras críticas à Rússia, inclusive com sanções. Mas estaria a ilha querendo fazer parte da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, maior bloco de apoio militar entre países ocidentais?
Não é impossível. O deputado Neale Richmond, porta-voz de assuntos internacionais da Irlanda, disse, em recente entrevista ao The Telegraph, que a Irlanda pode deixar para trás seus mais de 100 anos de neutralidade e se aproximar de negociações com a Otan. A organização já deixou claro que está de portas abertas para a entrada do país.
A neutralidade irlandesa, segundo Richmond, não é mais uma unanimidade entre os cidadãos do país, uma vez que, ainda de acordo com o parlamentar, a Rússia estaria mudando a opinião dos irlandeses ao invadir a Ucrânia.
Uma pesquisa feita pelo Sunday Independent mostrou que 49% dos irlandeses acreditam que a neutralidade do país está ultrapassada, 44% acha que é preciso manter a neutralidade e 7% não souberam opinar.
“Só porque (um país) se diz neutro, isso já não importa (para a Rússia). A Ucrânia era neutra”, declarou Richmond ao The Telegraph.
Por outro lado, o ministro das relações internacionais da Irlanda, Simon Coveney, afirmou que não há planos do país em entrar na Otan em um futuro próximo.
Já o vice-primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse que, a longo prazo, a ilha estaria apta a entrar na organização se investir mais em seu equipamento militar.
Além de precisar investir mais na área militar, a Irlanda precisaria passar por cima de outras regras internas e externas para integrar a Otan. A neutralidade da Irlanda em relação a conflitos internacionais é amparada por lei.
O artigo 49 da constituição de 1922 diz que a Irlanda “não se comprometerá a participar ativamente em qualquer guerra sem o consentimento do Oireachtas (parlamento irlandês)”.
Portanto, sem a aceitação dos deputados, não há interferência do país, militarmente, em qualquer conflito.
Outro empecilho seria com a ONU, que precisa autorizar a participação por meio de uma resolução do Conselho de Segurança.
Não é de hoje que a Irlanda é um país militarmente neutro. Durante a Segunda Guerra Mundial, o país se manteve neutro, precisando, inclusive, demarcar suas terras para que aviões não bombardeassem a ilha, no caso de uma confusão com o Reino Unido, que estava participando do conflito.
Após a Segunda Guerra, a Irlanda se recusou a participar da Otan justamente por ser neutra. Mas o Reino Unido entrou, o que faz com que a Irlanda do Norte seja parte da organização.
Outros conflitos, como a Guerra Fria, por exemplo, também não tiveram participação da Irlanda.
O país, no entanto, faz parte do programa de paz da Otan e do Conselho de Parceria Euro-Atlântica, um fórum multilateral criado para melhorar as relações entre a OTAN e países não pertencentes à OTAN na Europa e partes da Ásia.
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Apesar da neutralidade militar, a Irlanda não precisa necessariamente ser neutra nas ações políticas. O exército irlandês, frequentemente, é enviado para missões de paz.
Isso tem sido visto também durante a invasão da Rússia à Ucrânia. O governo irlandês tem feito duras críticas à ação de Vladimir Putin e acatado às sanções da União Europeia contra o país, fechando, inclusive, seu espaço aéreo para aviões russos.
Ao mesmo tempo, o governo irlandês facilitou a entrada de refugiados ucranianos ao país e contribuiu com 9 milhões de euros para a União Europeia investir em fundos não letais para assistência à Ucrânia, como capacetes, equipamento médico, entre outras coisas.
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