As incertezas sobre o cenário econômico e social da Europa com a saída do Reino Unido da União Europeia (EU) têm causado muitas especulações e dúvidas. Uma delas, seria uma possível reunificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, separadas desde 1921. O assunto que há anos é debatido, foi rediscutido no último dia 24 de junho pelo partido irlandês Sinn Féin. Atualmente, a Irlanda do Norte, ao lado da Escócia, País de Gales e da Inglaterra integram o Reino Unido.
Em 1801, a Irlanda tornou-se parte do Reino Unido. A guerra de independência no início do século XX levou à divisão da ilha, criando o Estado Livre irlandês, que se foi tornando cada vez mais soberano nas décadas seguintes. A Irlanda do Norte permaneceu como parte do Reino Unido e vivenciou muita agitação civil entre o final dos anos 1960 até os anos 1990 – esta agitação civil diminuiu bastante após um acordo político em 1998. Em 1973, as duas partes da ilha da Irlanda juntaram-se à União Europeia.
Com a divisão entre os dois países, a República da Irlanda ficou com 83% do território da ilha, onde a população católica é maioria. Os outros 17% formam a Irlanda do Norte (pertencente até hoje ao Reino Unido), cuja população, em sua maioria, é protestante.
A rivalidade entre os dois lados se intensificou nos últimos 40 anos, com conflitos armados e atentados constantes. O grande muro que divide a cidade de Belfast (capital da Irlanda do Norte), conhecido como “muro da paz”, separa os bairros católicos dos protestantes. O primeiro grupo é composto pelos nacionalistas, que defendem a manutenção da Irlanda do Norte; enquanto que o segundo defende a reintegração da Irlanda. Transformado em ponto turístico, o muro foi construído para amenizar eventuais conflitos entre os dois grupos, e tem hora para abrir e fechar: às 18h. Cruzar um dos portões significa assumir ser hostilizado pelo simples fato de ter uma religião diferente. Apesar do tratado de paz assinado em 1988, a cidade permanece separada. O clima é de rivalidade e as crianças são ensinadas desde cedo a “odiar” os que têm outra religião, sem nem mesmo compreender o motivo da intolerância.
Essa sensação de “guerra civil” pode se modificar se houver a reunificação dos dois países. Esse é o desejo do presidente do partido Sinn Féin, Declan Kearney, que defende a reunificação há muitos anos. Segundo ele, existe uma situação na qual o Norte será “arrastado” para fora da União Europeia, devido à votação na Inglaterra. “O Sinn Féin vai fortalecer o pedido, sua exigência de longa data, para uma votação sobre a fronteira dos dois países”, declarou Kearney.
Outro que defendeu a realização de uma votação sobre o assunto, foi o vice-premiê da Irlanda do Norte, Martin McGuinness. “O governo britânico agora não tem um mandato democrático para representar as visões do Norte em qualquer negociação futura com a União Europeia, e eu acredito que há um imperativo democrático pela realização de uma votação”, disse McGuinness, em entrevista à emissora estatal irlandesa RTÉ, também no último dia 24. Depois que 56% dos norte-irlandeses votaram a favor de permanecer na UE, enquanto 52% do Reino Unido como um todo votou pela saída, McGuinness, disse ser imperativo que o governo britânico convoque um referendo sobre a unidade da Irlanda.
Além de McGuinness e Declan Kearney, o primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, também sugeriu recentemente a realização do referendo sobre reunificação da ilha.
Revisado por Tarcísio Junior
Imagens via Shutterstock
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