A Irlanda entrou para a história no último sábado, 23 de maio, quando a apuração total das urnas apontou a vitória do SIM, com 62% dos votos, no referendo para casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em Dublin, centenas de pessoas se reuniram na esplanada do Dublin Castle para acompanhar cada momento da apuração dos votos. A vitória foi recebida com emoção e muita festa pelos presentes, deixando a cidade em clima de carnaval. Irlandeses estavam orgulhosos de seu país e imigrantes estrangeiros vivendo nna Ilha também puderam presenciar esse momento histórico.
Esse referendo, que dividiu o país desde que foi anunciado, teve o índice de participação mais alto desde o plebiscito sobre a legalização do divórcio, em 1996. Com o encerramento da votação, veio o anúncio de que mais de 3,2 milhões de eleitores foram às urnas registrar a sua escolha.
Entretanto, nesse referendo não foi permitida a votação pelo correio e, em consequência disso, muitos irlandeses que moram fora do país voltaram para casa exclusivamente para participar.
A apuração dos votos mostrou que Dublin teve um dos maiores índices de aprovação da proposta, com mais de 72% dos votos a favor. Em compensação, alguns condados ficaram bem divididos. Em Donegal, por exemplo, o SIM venceu por uma margem muito pequena, com uma diferença de apenas 33 votos. Já o condado de Roscommon foi o único a aprovar o NÃO, com 51,42% dos votos.
A vitória do SIM representa uma grande mudança para a Irlanda, país que já foi considerado um dos mais conservadores da Europa, sendo moldado pela inquestionável autoridade moral da Igreja Católica por décadas.
Entre as explicações para essa mudança e modernização está o declínio da Igreja Católica, cujos dogmas estão ficando cada vez mais distantes do pensamento e da vida da população, devido aos inúmeros escândalos envolvendo crimes de pedofilia cometidos por membros da igreja.
Para a historiadora e coordenadora da campanha pelo SIM, Gráinne Healy, o referendo não é apenas um sinal da mudança social que ocorreu na Irlanda nas últimas décadas, mas também o culminar do percurso que a Irlanda fez para se tornar uma democracia europeia. “A Irlanda está caminhando para um novo espaço e o referendo é também um teste a esta mudança”, disse ao jornal Financial Times.
Kieran Rose, outro membro da campanha pelo SIM, disse ao jornal The Irish Times que, por ser o primeiro país do mundo a conceder o direito a gays e lésbicas se casarem, através de um referendo, a Irlanda dá esperança a países que atualmente são tão conservadores quanto a Ilha Esmeralta já foi há algumas décadas.
Com a aprovação do referendo, o casamento passará a ser definido na Constituição Irlandesa como a união legal entre duas pessoas, sem referência ao sexo.
O Departamento de Justiça deve começar a elaborar a nova lei na próxima semana, que deve ser aprovada pelos parlamentares até julho, antes do recesso de verão. Como na Irlanda é necessário um pré-aviso de três meses para casamentos civis, tudo indica que o primeiro casamento gay do país pode acontecer por volta de setembro.
Vale ressaltar também que a nova lei deixará claro que templos religiosos não serão obrigados a celebrar casamentos de casais do mesmo sexo.
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