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Em entrevista, Johnny Hooker fala sobre show na Irlanda

Cantor e compositor pernambucano e uma das principais vozes do universo LGBTQ no Brasil, Johnny Hooker desembarca na próxima sexta-feira, dia 28 de junho de 2019, em Dublin, com o seu novo show Coração. A apresentação inédita na ilha acontece no Sugar Club em duas sessões, às 19h30 e 23h30. Os ingressos estão à venda. Você também pode concorrer a um par de ingressos no sorteio que ocorre no Instagram do E-Dublin.

Hooker conversou com exclusividade com o E-Dublin sobre a apresentação e diversas questões. Neto de irlandês, Johnny tem no sangue a rebeldia herdada do avô. Ele conta como isso influenciou a sua carreira, além da importância de visitar e tocar pela primeira vez na Ilha da Esmeralda.

O artista ainda falou sobre questões do universo LGBTQ, como a importância de sempre dar voz a esse assunto e o apoio do governo em eventos como a Parada LGBTQ ou a Dublin Pride Parade.

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Confira os principais trechos e ouça a entrevista completa em nosso podcast acima.

Cantor e compositor Johnny Hooker canta canções do disco Coração em Dublin. Foto: Caio Sales

Vamos começar falando sobre uma curiosidade importante da sua apresentação na Irlanda. O seu avô é irlandês, certo? Você poderia contar como foi que ele entrou na história da sua família?

Meu avô nasceu na Irlanda e, depois das Segunda Guerra Mundial, com a situação econômica da Europa e a devastação que a guerra gerou, ele foi para o Brasil tentar recomeçar a vida. No navio de ida para o Brasil ele conheceu a minha avó. Eles se apaixonaram e se casaram. Ele foi um dos fundadores da (escola de inglês) Cultura Inglesa no Brasil.

Qual a influência da cultura irlandesa na sua vida? O que teu avô te passou dessa cultura?

Eu não tive muito contato com meu avô porque ele separou da minha avó muito antes de eu nascer e morreu quando era criança. Então, eu o encontrei umas três ou quatro vezes na minha vida, mas acho que o sangue irlandês corre nas veias, porque o povo é “brabo” e é bom de copo também (risos). Mas da cultura mesmo não deu tempo de pegar nada não.

E da língua inglesa? Quando aprendeu a falar inglês e o que mudou na sua visão de mundo?

Eu aprendi a falar inglês muito cedo porque eu sempre gostei muito de cinema e via os times e ficava imitando as pessoas falando. Então, já comecei a aprender desde muito cedo. Era muita curiosidade pela língua. Desde muito cedo, eu prestava atenção para poder falar.

Os irlandeses têm a fama de terem “alma rebelde” tanto na vida quanto na arte. Você acredita que essa rebeldia artística te influenciou na sua jornada, principalmente com a cultura queer?

Eu acho que tem essa intensidade. Os irlandeses são conhecidos por essa intensidade para essa rebeldia. É essa não conformidade com o mundo. Da parte de minha mãe, eu tenho essa descendência irlandesa; e da parte de pai, de sertanejos do Nordeste brasileiro, que também é um povo rebelde, é um povo forte e intenso. Então, toda essa mistura do sertão com a Irlanda deu, com certeza, o que eu sou.

As nossas existências são todas políticas. Nunca foi uma questão, para mim, se esconder. A minha verdade tem que estar no meu trabalho, a minha identidade, porque, no final das contas, é uma reafirmação da própria vida.

Reafirmando a minha existência e a afirmando na arte, eu estou afirmando a própria vida que existe aqui e que se transforma, mesmo diante da face da opressão, diante da face da intolerância. Esse lado irlandês deu essa força e trouxe ainda mais intensidade para minha personalidade enquanto pessoa e artista.

Neto de irlandês, Johnny Hooker considera apresentação na Irlanda especial. Foto: Caio Sales

Essa é sua primeira apresentação em Dublin? Você já havia visitado a Irlanda anteriormente? Como será se apresentar na terra do seu avô?

Nunca tinha ido à Irlanda. Estou muito animado, principalmente por estar tocando na terra em que meu avô nasceu. É como se você estivesse voltando para casa, para suas raízes, e isso é é muito emocionante. Soube que tem umas ruínas do Castelo Donovan, e meu sobrenome é Donovan. Eu soube que tem uma torre ainda preservada, medieval. Eu queria muito visitar as ruínas das coisas que eram da minha família lá atrás na Idade Média. Mas eu acho que não vai dar tempo. Quero voltar para aproveitar e para sentir a cidade mais e visitar tudo o que tem pra visitar em breve.

Você se apresenta na Irlanda um dia antes da Dublin Pride Parade, que é um dos eventos com mais presença de público em toda a Irlanda e uma das principais paradas LGBTQ+ da Europa. Qual é a importância desse tipo de evento para países de todo o mundo?

É muito lindo estar chegando um dia antes da parada LGBT de Dublin. A gente já fez a parada LGBT de Lisboa essa semana, o que foi mágico. E é muito lindo o mês do orgulho, né? O mundo inteiro está conectado nesse mês de orgulho. Ontem, foi a parada LGBT de São Paulo, e é como se realmente o mundo todo estivesse conectado na celebração das nossas existências, dos nossos corpos das nossas afetividades. É mágico perceber isso.

Esse ano, a gente tá comemorando 50 anos de Stonewall. Então, é a comemoração de um marco na luta pelos direitos civis LGBT no mundo inteiro. Está sendo muito emocionante para mim fazer essa turnê em outros países nesse mês, levando essa mensagem do Brasil. É importante a gente resistir com arte, cultura, com amor e espalhando essa mensagem da nossa música pelo mundo, apesar dos tempos sombrios que a gente vive no Brasil.

Em junho, a Irlanda fica toda colorida, inclusive com bandeiras do arco-íris colocadas em mastros oficiais do governo, mostrando um apoio sem limite à comunidade. Nesse ano, até a Garda, polícia irlandesa, colocou faixas coloridas em suas viaturas para celebrar o mês do orgulho LGBTQ+. Qual a importância desse apoio à luta das causas LGBTQ+? Você sonha que um dia a comunidade e o governo brasileiros possam dar um apoio tão expressivo como esse à comunidade LGBTQ+?

Pois é, é tão complicado isso. Eu já estive na parada LGBT de Nova York no ano passado e é muito lindo como a polícia, as autoridades, o governo… está todo mundo apoiando. O prefeito de Nova York estava na parada, todos se juntando a essa celebração pelos direitos das pessoas.

É muito triste aqui no Brasil, apesar de algum mínimo avanço que a gente teve em relação às políticas sociais LGBT nos governos anteriores, de centro-esquerda. Agora está tudo caindo por terra, tudo sendo destruído, o mínimo que a gente tinha avançado.

Eu digo para você que a gente não pode deixar de sonhar com o dia em que essa onda de ódio no Brasil passe, e as pessoas percebam que é muito mais positivo, dá muito mais resultado apostar na inclusão, na tolerância, no respeito entre as pessoas, respeito à identidade das pessoas. Sonho muito que um dia o Brasil passe a ser um país mais tolerante e mais inclusivo, mas agora esse sonho, infelizmente, vai ficar para depois. Num futuro próximo eu não vejo isso acontecendo, não.

A Irlanda tem a presença massiva de brasileiros e uma grande parcela de brasileiros LGBTQ+. São pessoas que saíram do Brasil muitas vezes por encontrar mais segurança como LGBTQ+ no exterior. Hoje, elas veem de longe o Brasil muitas vezes sendo homofóbico e racista. Como artista brasileiro LGBTQ e que carrega essa bandeira, você acredita que sua arte pode trazer um pouco de afago e respiro para essa comunidade?

A arte traz acolhimento, um exorcismo das nossas dores, das nossas questões, e uma libertação também, no melhor dos cenários, uma libertação de todas essas operações e intolerância que a gente vive. E essa torneira Coração, que é um lançamento muito mais político do que o meu primeiro disco, me trouxe um presente enorme de poder estar no Brasil em outros países.

As pessoas vão a esse show porque elas sabem que é um lugar de acolhimento, um lugar de celebração, onde elas podem ter esse respiro de crer de ter fé, de ter sonho, o país que a gente sonha, que a gente possa se tornar. Dentro do Brasil, e fora também, é muito lindo, porque as pessoas sabem: ali naquele show vai estar o Brasil em que elas acreditam, o Brasil inclusivo, o Brasil que se olha no espelho e que se ama, que ama sua cultura, ama seu povo, que acredita na diversidade.

A diversidade é o futuro. Essa comunhão com meus irmãos brasileiros e também a oportunidade de tocar em outros países para denunciar as coisas que estão acontecendo no Brasil em relação à comunidade LGBT.

O que diria para brasileiros da comunidade LGBTQ+ que vivem fora do país? Como lutar por essa causa, mesmo tão longe?

Aos brasileiros que estão longe do Brasil eu diria que é importante continuar usando suas vozes contra os retrocessos que acontecem no nosso país. Tem que ter a voz ativa sempre, porque a democracia é uma luta que se luta todo dia. A luta por inclusão é uma luta que se luta todo dia, o jogo nunca está ganho. A luta por civilização para uma sociedade mais iluminista, mais inclusiva, ela é todo dia.

É isso, nunca deixar de usar nossas vozes. As nossas vozes são a arma importantíssima na luta por um futuro, por um Brasil que a gente passa a admirar mais e possa se sentir mais acolhido.

Serviço:
Johnny Hooker na turnê Coração
Sexta, 28 de junho de 2019, às 19h30 e 23h30
Local: The Sugar Club (8 Lower Leeson Street, D02)
Ingressos: 25 euros (https://www.sugarclubtickets.com/home)

Rubinho Vitti

Jornalista de Piracicaba, SP, vive em Dublin desde outubro de 2017. Foi editor e repórter nas áreas de cultura e entretenimento. Também é músico, canceriano e apaixonado por arte e cultura pop.

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