Os brasileiros que chegam à Irlanda para o intercâmbio logo descobrem a função de Kitchen Porter, uma atividade que envolve prioritariamente a lavagem de louças em restaurantes – um trabalho pesado e que geralmente envolve a utilização de uma máquina industrial de grande porte.
Por esse motivo, o que mais se vê nas cozinhas irlandesas são homens. Mas isso está mudando e quem desmitifica a função é a intercambista Tayane Ferreira, de 25 anos. Natural de Russas, no interior do Ceará, e formada em Direito, Tayane está na Irlanda para aprimorar o inglês e vem contar aqui no E-Dublin que uma mulher também pode trabalhar como Kitchen Porter.
Por Tayane Ferreira
Colaboração: Fabiano de Araújo
Como todo bom intercambista, entreguei vários currículos por Dublin. Com experiência ou sem, aplicava sem hesitar para todo tipo de vaga, até que um dia me ligaram de um hotel para uma entrevista. A função? O tal do Kitchen Porter!
Consegui a entrevista por meio de um site de emprego. Tudo ocorreu muito rápido. Eles me ligarem em uma quarta, fiz a entrevista na mesma semana e na semana seguinte já estava trabalhando. Confesso que estava assustada, mas não me deixei intimidar. Eu já sabia que a maioria dos brasileiros na Irlanda trabalhava com trabalhos mais “braçais”, mas quando eu cheguei na cozinha do hotel e me deparei com aquela pilha de pratos, aquela máquina gigante e com os chefes gritando para todo lado, me deu um certo medo. Nesse instante, me veio aquele bom e velho questionamento: “O que eu tô fazendo aqui?”.
No entanto, o mais importante eu já tinha, o emprego, então arregacei as mangas e mergulhei de cabeça naquela loucura toda (risos). Lá no hotel somos, ao todo, em 10 kitchen porters – eu sou a única mulher, e essa é uma surpresa generalizada. Sempre que eu conto que sou KP, deixo muita gente de boca aberta. Até mesmo no hotel, meus colegas de trabalho me questionam como eu, uma menina, acabei nessa função tão masculina.
O trabalho realmente é hard e algumas tarefas físicas realmente não conseguiria fazer sozinha, mas por sorte trabalho com uma equipe muito boa e sempre há alguém por perto para me dar aquela força. Eles, que no início se sentiram super receosos ao descobrir que a nova kitchen porter era uma garota, hoje aprenderam a me respeitar de igual para igual.
O recado que quero deixar aqui é que essa profissão também pode ser exercida por uma mulher. É “busy”, é “hard work”, é trabalho pesado mesmo – mas é possível. E digo mais, podemos ser ótimas nisso, pois enxergamos o processo de limpeza e organização de forma muito mais amplificada, graças ao nosso “instinto feminino”. O resto é força e paciência com algumas piadas que podem surgir, especialmente por parte dos homens.
Se alguma menina tem interesse em embarcar nessa aventura, arrisque sem medo! Tenha sempre em mente que você precisa ter muita força de vontade para trabalhar, coragem e paciência pra aguentar a loucura dos chefes, além de precisar sair completamente da sua zona de conforto. No entanto, no fim das contas, tenha certeza de que vai valer a pena e será um grande aprendizado. Você se sentirá uma vencedora.
Mesmo sendo um trabalho exaustivo, que realmente consome nossas energias, é um trabalho digno, como qualquer outro. É graças a ele e àquela pilha enorme de pratos todos os dias que consigo me manter em Dublin, fazer minhas viagens, estudar e viver o meu sonho do intercâmbio.
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
Revisado por Tarcísio Junior
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