Entre os dias 29 de setembro e 16 de outubro de 2022 acontece o Dublin Theatre Festival, principal evento de artes cênicas da Irlanda. Espetáculos de diversos temas serão encenados em alguns dos principais teatros da capital irlandesa.
Entre eles, o monólogo “Manifesto Transpofágico”, com a atriz Renata Caravalho, que será encenado nos dias 30 de setembro e 1 de outubro, às 19h30, no Project Arts Centre. Ingressos estão à venda! (use o código promocional MANIFESTO22 para ter desconto na compra)
“Manifesto Transpofágico” é uma performance onde o corpo de Renata Carvalho, que é transexual, é o protagonista. Sozinha no palco, ela conta a história de lutas travadas com e contra o corpo que por si só a define aos olhos dos outros: “comentado, sexualizado, violado e aprisionado, o corpo como fetiche, ou repulsivo, um corpo rebelde”, como define o programa da peça.
Além de atriz e performer, Renata é dramaturga e transpóloga, ramo da antropologia que ela mesma fundou.
Em entrevista ao edublin, ela explicou mais detalhes sobre o espetáculo, que será encenado em português, mas com legendas em inglês para o público não falante da língua. Além disso, Renata conta o que é ser uma transpóloga e como o público europeu está recebendo a encenação, já que “Manifesto Transpofágico” tem passado por várias cidades italianas e vai seguir pela França e Espanha após a apresentação em Dublin.
edublin – O “Manifesto Transpofágico” existe a partir de uma pesquisa que começou em 2007. O espetáculo em si surgiu em 2019, após você estrear outras peças. Sendo assim, o que você carrega neste espetáculo após todas as experiências que passou durante todos esses anos de pesquisa e vivência?
Renata Carvalho – A minha pesquisa é viva e o meu teatro também. Como minha pesquisa é contínua, minhas experimentações artísticas vão agregando toda essa bagagem de conhecimento. O “Manifesto Transpofágico” é a minha última criação para o teatro, este trabalho vem junto com um amadurecimento cênico, na minha pesquisa e na idade.
“Manifesto” narra a historicidade e a transcestralidade do meu corpo travesti, apontando a construção social, criminal, patológica, hiper sexualizante, carnavalesca, religiosa e moral que permeia o imagético do senso comum do que é ser uma travesti.
O trabalho propõe uma reflexão a todes: Qual é o grau da nossa transfobia em 2022? Qual é a imagem que todes nós ainda precisamos desconstruir da travesti?
edublin – Hoje, você se denomina “transpóloga”, que significa, basicamente, antropóloga da tranvestilidade, correto? Como você pode descrever essa sua atuação?
RC – Sou uma transpóloga – uma travesti que estuda a historicidade, a transcestralidade, a memória, identidade, corpo e vivência travesti/trans, com foco nas artes.
Como artista e transpóloga fundei o MONART – Movimento Nacional de Artistas Trans e dentro dele criei o “Manifesto Representatividade Trans – Diga SIM ao Talento Trans” que luta por inclusão, profissionalização, permanência e representatividade coletiva de artistas trans nos espaços de atuação e criação artística e que pede uma pausa na prática do transfake – quando artistas cisgêneros interpretam personagens trans.
Denunciando a censura e a exclusão de corpos trans e travestis nas artes. Assim como aponto as narrativas, arquétipos, estereótipos e a transfobia recreativa mais comumentes nas produções artísticas. E desenvolvo essa pesquisa na academia também e a academia já estuda a minha pesquisa ( transpologia).
Eu sou uma artista muito mais consciente porque sou uma transpóloga.
edublin –Esta é a primeira vez que você faz uma turnê europeia com o espetáculo “Manifesto Transpofágico”? Como está sendo a recepção do público europeu? Qual é o seu principal objetivo em se apresentar para um público estrangeiro? Qual a diferença entre o público brasileiro e o europeu?
RC – Com o “Manifesto Transpofágico” já fizemos Paris, Amsterdã, Chile, Uruguai. Mas é a primeira vez que faremos 9 cidades e 4 países (Itália, Irlanda, França e Espanha) de uma vez. Para todes nós é uma alegria e uma conquista que precisa ser saudada e comemorada. É importante que o mundo conheça a produção artística brasileira, e mais simbólico, ser uma atriz e dramaturga travesti.
O mundo é transfóbico, então esse espetáculo e a arte travesti feita por muitas de nós precisam rodar o mundo.
É preciso que esse debate seja coletivo, é preciso estagnar os assassinatos de pessoas trans e travestis, é preciso debater, refletir, dissecar esse tema.
Acredito que a diferença no público vem também do meu não domínio dessas línguas, impedindo mais o improviso. Mas a reflexão que o espetáculo desperta tem afetado todes esses públicos, sejam brasileiros ou europeus.
edublin – Você vai trazer “Manifesto Transpofágico” a Dublin, em um festival de teatro que terá, majoritariamente, peças em inglês. O espetáculo será traduzido de alguma forma? Como os irlandeses poderão compreender o espetáculo?
RC – O espetáculo é legendado. Manifesto Transpofágico tem tradução para inglês, francês, espanhol, italiano e holandês. O espetáculo tem dois momentos: o primeiro que acontece no palco (legendado) e o segundo, uma conversa com a platéia – sempre convidamos uma travesti brasileira que vive no país para auxiliar na tradução desta conversa. O espetáculo não tem dificuldade na comunicação ou compreensão dele, tanto que estamos viajando pelos festivais no Brasil e no mundo.
Espetáculo “Manifesto Transpofágico”
Dublin Theatre Festival
Data: 30 de setembro e 1 de outubro, 19h30
Local: Project Arts Centre (9 Essex St E, Temple Bar, Dublin 2, D02 RD45)
Ingressos disponíveis para compra online (desconto com o código MANIFESTO22).
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