Por Rômulo Borges
Acho que assim como muitos brasileiros, para minha família o Natal sempre começa muitos dias antes do dia 24. Compras, decoração, organização… O mês de dezembro sempre foi dedicado a esta festa. Temos apenas duas peculiaridades: primeiro, meu pai é médico de interior, logo trabalha bastante e eventualmente esteve em plantões durante o Natal, o que mudava a dinâmica, com jantares interrompidos por emergências ou filhos acompanhando-o no trabalho só para poder passar um pouco mais de tempo com ele.
O segundo é que minha mãe tem uma escolinha primária nesta mesma cidade de interior e todos os anos ela organiza uma festa de formatura para as crianças da alfabetização e da 4ª série (hoje primeiro e quinto ano) e com isso a casa inteira vira uma espécie de manufatura de decoração natalina, já que ela faz questão de criar e produzir toda a decoração todos os anos.
Com isso, passei a vida assistindo ou ajudando na produção da decoração e, como filho caçula, sempre fui escalado para acompanhar as compras e tentar ajudar minha mãe a não errar todos os presentes (nem sempre sendo bem sucedido).
Este ano estou numa cidade bem distante. Sou eu quem não passará o Natal com meus pais, sou eu quem não pode cumprir minha parte nessa tradição. Já estou estranhando tudo isso… não ter uma árvore decorada em casa, luzes e vários Papai Noel espalhados. Não estar olhando em volta pensando em algo legal para comprar para cada um dos irmãos e para as pessoas mais chegadas, não estar discutindo com os meus irmãos se deveríamos comprar um presente cada ou se devemos nos unir (o que geralmente fazemos para não ter que escolher tanto) para comprar algo um pouco mais legal para minha mãe.
Este ano meu Natal será muito mais frio, tanto literal quanto figurativamente, sem o calor do verão baiano e sem o calor da minha família e amigos, sem as risadas durante as piadas da distribuição de presentes, sem a disputa pela coxa de um peru, a discussão sobre as passas, o pedido de que seja preparado uma moranga em homenagem a minha religião pessoal, que difere do resto da família.
Por outro lado, a experiência e o orgulho de estar vivendo tudo isso não tem preço. A vida é feita de escolhas e consequências, e eu escolhi voar para descobrir novos ares, novos horizontes. Até pensei em tentar passar o Natal no Brasil, mas preferi encarar com toda a intensidade a decisão de viver em Dublin e com isso comecei a trabalhar neste período, quando a demanda aumenta e, por conta do frio e das festas, a procura por emprego diminui um pouco. Neste fim de ano tive que escolher entre agarrar a oportunidade de um emprego em Dublin ou tentar passar o Natal com minha família. Escolhi a experiência do emprego, pois minha família está comigo sempre, independentemente de onde eu esteja.”
Revisado por Tarcisio Junior
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