Minha primeira semana em Dublin
10 anos atrás
Seguro Viagem
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Os desafios daqueles que decidem encarar o intercâmbio na maturidade
Por Fabiano de Araújo
Quando escrevi meu primeiro artigo, “O Desafio de Recomeçar aos 38 Anos”, eu não imagina a quantidade de pessoas que iriam curtir. O bom disso tudo foi que conquistei uma gama de leitores e ao mesmo tempo fiz vários amigos. Esses fatores aumentaram a minha vontade de escrever ainda mais.
Desde que cheguei em Dublin, muitos dos meus leitores e amigos ficaram me cobrando as primeiras impressões que eu tive da cidade, perguntaram se eu estava gostando e como estava minha vida após essa mudança. E hoje, já estabelecido em minha residência, resolvi responder a esses questionamentos.
Antes de começar, queria dizer que por mais que estejamos preparados para uma viagem desse porte, nunca estaremos realmente preparados para as despedidas. Lembro-me da minha como se fosse hoje, pois dar o último abraço em meus pais, familiares e amigos, foi muito complicado, ainda mais por terem ido de “caravana” ao aeroporto dar tchau.
Queridos leitores, estejam preparados, pois a viagem é longa, muuuuito longa. No meu caso, que saí de Porto Alegre e fiz uma escala de 4 horas em São Paulo, o corpo deu sinal de alerta antes mesmo do embarque internacional.
A viagem internacional durou aproximadamente 9 horas, sentado em um banco em que eu não tinha como me mexer. Eu até poderia levantar, mas como a grana era curta, eu acabei comprando o assento do meio, então sempre que sentia a necessidade de sair da poltrona tinha que pedir ao passageiro do lado, o que depois de algumas vezes passou a ser um incômodo. Isso sem falar que a viagem era noturna, logo, muitos passageiros vão dormindo. Senti-me uma sardinha enlatada.
Minha última conexão foi em Amsterdã. Felizmente, essa foi bem rápida, apenas uma hora. Apesar de o aeroporto ser enorme, era bem sinalizado, mas tudo em inglês. Como o tempo era curto, “pernas pra que te quero” em busca do “gate” que me levaria ao avião com destino a Dublin.
Considerando desde a saída do Brasil até o momento de pousar na Ilha Esmeralda, a melhor sensação que tive foi na imigração. Pela primeira vez na vida fui bem recebido. Aquele nervosismo e euforia acabaram quando o guarda me disse: “você tem um mes pra regularizar a sua documentação e seja bem-vindo à Irlanda”. Logo em seguida ele carimbou o meu passaporte.
Feliz também foi encontrar no aeroporto pessoas que conheci pela internet e que foram me recepcionar. Isso me mostrou que eu não estava tão sozinho.
Como nem tudo é perfeito, cheguei aqui perdido no tempo e nos horários, pois estava com o fuso de quatro horas a mais enquanto meu relógio biológico ainda de acordo com o horário do Brasil, logo, passei o resto do meu primeiro dia e a minha primeira noite na Irlanda dormindo e acordando constantemente.
No meu segundo dia acordei mais disposto e empolgado; era o meu primeiro dia na escola, tudo novo e completamente diferente. Foi como voltar no tempo, pois lembrei-me do meu primeiro dia no jardim de infância. Muita informação, mas desta vez, tudo em inglês, e pouca sabedoria da minha parte.
Tenho muito o que aprender nesses meses que ainda estão por vir. A diferença desse período de aprendizagem para o período do jardim de infância é que neste, ao término da aula, eu voltava para casa e encontrava meus pais, que me esperavam de braços abertos e prontos para compartilhar o que eu havia passado. Nesta minha nova fase chego à minha acomodação, onde residem 20 pessoas que eu sequer sei os nomes, e não há ninguém para compartilhar, já que cada um desses está focado em sua própria vida.
No terceiro dia meu relógio biológico já estava querendo se adaptar. Levantei cedo, coloquei uma bermuda, uma camiseta e um tênis e saí para correr. Na verdade, apenas pensei em sair pra correr, pois eu nem passei da porta de entrada da casa. Por quê?
Simplesmente pelo fato de o outono ter começado exatamente nesse dia. Se você pensa que a diferença entre o Brasil e a Irlanda é apenas o fuso horário, você está muito enganado. Aqui o vento gelado transpassa o nosso corpo e congela a alma. Por outro lado, nota-se a estação bem marcada, assim como estudamos na escola, pois vemos as folhas caídas no chão. Não bastasse isso, os tons que variam entre amarelo e vermelho formam uma aquarela natural. Foi também no primeiro dia de outono que comecei a entender que as roupas de inverno que havia trazido do Brasil e que ocuparam 75% da mala faziam sentido.
No quarto dia tive que enfrentar o desafio de encarar um supermercado sozinho, o que não foi nada fácil. Todas as informações eram em inglês, naturalmente, o que tornava difícil saber se eu estava comprando a coisa certa. Tive que tentar decifrar tudo, escolher preços e apostar que aquilo que eu estava levando não era doce, quando eu buscava por algo salgado, por exemplo.
Para o desafio ser completo, notei que existem poucos caixas e que a maioria é automático, ou seja, é você quem passa as próprias compras na máquina e depois insere o dinheiro. Deu valor “quebrado” e você colocou uma nota inteira? Não tem problema, pois a máquina lhe devolve o troco, centavo por centavo. Nesse caso, não dá para escolher se prefere o troco em moeda ou nota.
Quinto dia: Nesse momento esqueço que o dinheiro em papel existe, pois aqui na Irlanda, assim como em toda a Europa, as moedas valem tanto quanto o papel e não é vergonha utilizá-las. E do jeito que as coisas andam e com a quantidade de moedas que eu já carrego, em breve pagarei o aluguel só com elas, as moedas.
No sexto dia fui tirar o PPS, uma espécie de CPF. A fila estava enorme e eu não fui cedo por besteira. Nem imaginei que com o passar das horas o povo chegaria e a fila acabaria dobrando a esquina.
O que mais impressionou foi que, quando começaram a atender às pessoas, o fiscal da fila proibiu a entrada de quem não estava na fila corretamente. O atendimento tinha início às 10:00, mas o cara estava andando perto de quem já estava esperando e verificando quem estava furando fila sem que ninguém percebesse. Quando a porta foi aberta, ele simplesmente proibiu a entrada dos “espertinhos”.
Detalhe: ele disse que naquele dia tais pessoas não poderiam fazer a documentação, que deveriam retornar no dia seguinte e ficar na fila corretamente, como todo bom cidadão. Tudo isso foi dito em inglês, mas eu acabei fazendo amizade com um italiano que também falava espanhol e me explicou o que estava acontecendo.
Dentro do escritório fui atendido por uma moça muito simpática e atenciosa. Ali foi necessário preencher um formulário todo em inglês. Eu surtei, suei, entrei em pânico, pois não entendia nada, mas a moça foi super paciente e me ajudou a escrever cada linha. Quando eu não entendia o que estava escrito ela fazia mímicas a fim de explicar qual era a pergunta. Nesse momento vi que jogar Imagem & Ação serviu para mais uma coisa. (risos)
Nesse momento vocês devem estar se perguntando: “tá, mas e a moradia? ele não vai falar nada ou já tinha acertado tudo, antes de sair do Brasil?”.
Bom, queridos leitores, essa questão foi um pouco tensa, mas cheia de histórias, algumas alegres, outras tristes, mas todas muito divertidas. Por isso, dedicarei um texto exclusivamente para isso, mas posso adiantar que no sétimo dia consegui a tão sonhada residência permanente!
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Sobre o autor:
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Revisado por Camilla Gómez
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