Durante o período em que estou morando fora do meu país, diversas coisas aconteceram e mudaram minha vida para sempre, acredito. Contrário ao sentimento que havia comigo antes do meu embarque — bem antes, eu diria — viver no exterior não é um mar de rosas.
Ainda assim, foi uma sábia decisão a ser tomada. Viver fora do meu país de origem abriu minha mente ainda mais e expandiu as fronteiras do meu pensamento, o modo como eu via as coisas e as vejo agora. Me ajudou a definir e focar no que realmente importa, ainda que eu precise de mais tempo para aprimorar esse aspecto da minha personalidade.
Acredito que o balanço final de tudo o que eu vi e vivi será positivo. Mas, ainda assim, um positivo não tão empolgante pelo que foi experienciado. Minha perspectiva pode soar — e talvez até seja mesmo — negativa, mas se assemelha muito mais à realidade do que aos vídeos, posts e toda a informação de como é “maravilhoso” viver no exterior, aos quais eu tive acesso antes de vir.
Posso afirmar sem medo de errar que, na imensa maioria dos casos, as pessoas só nos mostram aquilo que de legal acontece. De uma forma ou de outra, acredito que posso extrair conhecimento de todas as experiências vividas, sejam elas positivas ou negativas. Ou seja, mesmo em uma situação desgastante e que aparentemente só nos faz “sofrer”, conseguimos extrair algo que vai nos ajudar a crescer como pessoa e a evoluir.
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Em minha experiência morando fora do Brasil, aprendi a ver esse país com outros olhos. É como se, subitamente, tivesse ganhado a oportunidade de passar um período na Estação Espacial Internacional e, de lá, analisar meu país.
Aprendi a admirar nossa grandeza. Somos gigantes. Somos um continente. Não só no aspecto geográfico, mas também como nação.
No caminho que percorri aqui, não trabalhei em nenhuma grande empresa. Também não trabalhei em um lugar onde o clima era extremamente bom, leve e empolgante. Por conta disso, entendi que não importa o tamanho do local em que você está, se é uma empresa pequena ou uma multinacional, o que importa é a energia, como as pessoas se tratam e o clima interno, a atmosfera.
Também não tive a oportunidade de trabalhar com um líder, alguém que soubesse gerenciar, comunicar suas ideias e fazer as pessoas o seguirem por terem entendido a mensagem, e não por simples autoridade ou temor. Consequentemente, aprendi que devemos aprofundar, e muito, nossas competências relacionadas à comunicação.
O que também aprendi foi que não importa se aquela famosa pasta de chocolate feito com avelãs custa 2 euros e que, se procurar bem, você encontra em promoção por um euro. Você não vive disso dia e noite. Nem tudo é tão barato, e você não precisa se vangloriar porque no Brasil não a compramos por esse preço. Isso não importa!
Descobri que, aqui, o trabalho braçal é desgastante. Que você pode achar fácil trabalhar apenas vinte horas na semana. Parece pouco. Mas aqui vinte horas são vinte horas. Você não para um minuto.
E, sim, se você trabalhar duas horas pode ir e voltar para Londres. Mas, novamente, não se faz isso todo dia e não é tão fácil assim como falam os comentários de todas as postagens e vídeos que você viu.
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Morar no exterior não me fez querer ficar aqui a todo e qualquer custo. Outra coisa que eu percebi foi o quão rico (de possibilidades) eu já estava quando ainda vivia no Brasil. Quanta liberdade eu tinha e quanta coisa eu poderia fazer sem precisar me preocupar se a semana seguinte ia ter chuva todos os dias e eu não poderia executar meu trabalho de dog walker.
Me fez entender que eu já tinha um emprego excelente, seco, sentado, com ar-condicionado à disposição, de segunda a sexta. Ainda que esse não fosse o “emprego dos sonhos”.
Para nos sustentar no exterior, fazemos coisas que não faríamos no Brasil. Trabalhamos tanto para ter o mínimo, que nem sabemos direito o que fazer no day-off uma vez que você já não está mais acostumado a “desligar” e descansar. Eu estava assim. E depois, se aqueles que você ama não estão perto de você, não adianta a ida e volta para Londres custar apenas duas horas de trabalho.
Sobre isso, o que posso dizer é que os monumentos estarão sempre lá. Nós passaremos, eles ficarão. Sempre teremos a oportunidade de voltar e visitar. Mas momentos ao lado de quem nós amamos, não. O tempo é o único ativo irrecuperável. Depois de ter passado, não volta mais.
Estou feliz com a decisão tomada, de voltar.
Posso um dia me arrepender disso, por tudo o que já sabemos que no Brasil acontece. No entanto, acredito que, se podemos perseverar onde não é a nossa casa, onde não dominamos totalmente o idioma e onde seremos, sempre, um outsider, é mais do que possível fazer tudo isso onde todas as condições nos favorecem.
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