No trem para Dublin

No trem para Dublin

Colaborador edublin

5 anos atrás

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Durante minha segunda jornada para Dublin, ao meu lado direito do trem, fui seduzida por uma enorme nuvem que prendeu minha tão concorrida atenção por alguns segundos. Na mesma velocidade do comboio, a nuvem corria linear, cobrindo os verdes acres irlandeses que eu tanto aprendi a amar.

As estórias que pode se contar em uma viagem de trem, por Alessandra Leite. © Davidfreigner | Dreamstime.com

Ao meu lado esquerdo, no assento da janela, do outro lado do corredor, um leitor divide-se entre a leitura de Congo, seu fone de ouvido e as notificações do celular.

À minha frente, um casal de italianos simplesmente parece não saber o que fazer para passar o tempo durante a viagem. Mentalmente, eu lamento. Há tanto para absorver. Respirar. Cristalizar o caminho dentro da alma.

Viagens de trem me transportam para algum lugar mágico, as palavras se oferecem, chegam fácil, dançam tango nos meus pensamentos, em um ritmo perfeito. Tão alinhadas quanto uma valsa orquestrada pelos deuses. Penso que meus mentores espirituais gostam de me ver no caminho e me presenteiam com doses generosas de inspiração.

Tem algo entre mim e essa Terra dos poetas que transcende qualquer explicação lógica. É como se nos pertencêssemos desde sempre. Era só uma questão de tempo chegar até aqui e me reconhecer em cada nuance do entardecer, em cada raio de sol persistindo sobre o frio e os ventos.

É preciso encontrar o próprio sol, esse brilho que não sucumbirá às tempestades, emergindo de algum lugar insondável para que não desistamos naqueles dias mais gelados.

Ver o Corrib de cima, na parte interna do trem, tem para mim outra dimensão. Deixá-lo para trás mostra-me infinitas possibilidades, contudo, aponta-me um porto, uma espécie de árvore, permitindo que seus galhos toquem o céu ou uma espécie de mãe, soltando os filhos no mundo sem desprendê-los do coração. Há sempre um lugar para voltar. Não importa o quão longe você vá, seu sol interno lhe indicará a direção. As respostas sempre estiveram no mesmo lugar. Só é preciso sair de si, romper, ainda que lentamente, as amarras dos seus maiores medos. Será epifânico, num fim de tarde, a caminho de algum lugar, fitando os dois lados de um trem, que uma luz oriunda do horizonte te fará imergir naquela imensidão que, para ser sincera, até você desconhecia.

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Alessandra Karla Leite,

Jornalista e escritora, com especialização em Comunicação, Cultura e Arte pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É apaixonada por tudo o que se relaciona a Literatura, Poesia, Cultura e Artes em geral. No começo de 2017, embarcou para Galway, no Oeste da Ilha Esmeralda.

*Crônica escrita em setembro de 2017 em uma viagem de trem de Galway para Dublin.
Stock Photos via Dreamstime
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