Por Fabiano de Araújo
Nunca é tarde para realizar um sonho, nem mesmo quando você está chegando à casa dos 40. Foi exatamente isto que eu pensei quando decidi largar tudo o que tinha conquistado no Brasil e me preparar para um intercâmbio na cidade de Dublin, na Irlanda.
Muitas vezes pensei em estudar em outro país cuja língua oficial fosse a inglesa, até pelo fato de ter escolhido o curso superior de Comércio Exterior e já estar atuando na área. Entretanto, após ter o visto negado três vezes pelos Estados Unidos, passei a ficar receoso.
Os motivos para a negação eram sempre os mesmos: idade e falta de esposa e filhos, que comprovam um vínculo com o país de origem. Os 10 anos trabalhando em uma empresa, atuando no departamento de exportação, além da confirmação de residência própria, não foram suficientes para garantir o tão sonhado visto americano.
De repente, como que em um passe de mágica, esbarro com uma amiga da faculdade, conhecida seis anos antes, que havia regressado da Irlanda alguns meses atrás. Isso depois de um período de dois anos de intercâmbio. Foi quando veio a pergunta: os Estados Unidos não são o único país de língua inglesa; se eles não me querem, por que não arriscar outro país, outro continente?
Após passar um domingo inteiro calculando e fazendo previsões orçamentárias, na segunda-feira seguinte cheguei na empresa e comecei a pesquisar todos os tipos de intercâmbio rumo à Ilha Esmeralda. Me peguei vendo reportagens, lendo sobre os costumes, sobre a origem, analisando as propostas recebidas… e como vieram propostas!
Cheguei a fazer seleções de filmes antigos e modernos, tais como: Meu Pé Esquerdo (o primeiro filme ao qual eu assisti no cinema), Em Nome do Pai, e até um dos mais recentes filmes “hollywoodianos”, Casa Comigo.
Cabe, neste momento, uma outra observação: um dos melhores monólogos aos quais já assisti no teatro foi o que abordava a vida e morte do dramaturgo, escritor e poeta irlandês, Oscar Wilde.
Fazem parte dessa imersão cultural antes mesmo do intercâmbio também as bandas U2, The Cranberries e a cantora mística, Enya, que têm presença constante em minha vida.
Descobri que existem muitos brasileiros na ilha, inclusive conterrâneos da minha cidade. Conheci o E-Dublin e aí começou a maratona: troquei Facebook com uma série de pessoas que jamais imaginei que pudesse conhecer, passei a ler tudo que envolvesse o meu destino, assistir a vídeos, participar de fóruns… Quando me dou conta da situação, vejo que não estou mais me inserindo na Irlanda, mas que ela está apropriando-se de mim.
Eis que chega o momento da decisão: encarar a realidade e embarcar ou seguir a rotina diária e ver que tudo não passou de um sonho?
Mais um fim de semana de pensamento entre prós e contras e… ponto final. Decido seguir em frente. Primeira tarefa: comunicar à família, avisar à empresa, começar a me desapegar das coisas e, então, começar a me preparar para a viagem.
Hoje posso dizer que as coisas estão mais do que concretas. 15 dias depois de pensar muito, acabo de fechar com a minha agência de intercâmbio. Hoje começo a contar os dias e, se tudo correr como planejado, nos próximos 30 dias estarei desembarcando em Dublin.
Aos 38! Por que não?
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Revisado por Camilla Gómez
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