Era minha primeira semana em Dublin. Entrei no nível pré intermediário, estava super engajada no inglês e lia tudo que era jornal, notícia, etc. Só não li uma das principais coisas que precisava: as regras para transitar de bicicleta pela cidade.
Num belo dia ensolarado, eu e minha bike voltávamos da escola. O Farol estava vermelho para mim, olhei cuidadosamente para os lados e senti que era seguro o suficiente para atravessar. Foi aí, então, que escutei alguém gritando comigo. Não entendi o que era, ignorei e segui em frente. De repente sinto uma mão puxando minha mochila.
Assustada, comecei a gritar todos os palavrões que sabia em inglês: Silly! Asshole! Idiot! Motherfuck! Achei que estava mandando super bem no inglês – até perceber quem eu estava xingando… Isso mesmo, estava mandando ver no palavrão, xingando horrores a polícia de Dublin. Apesar do meu vasto vocabulário sujo – que não servia para muita coisa – eu não entendia uma palavra que o oficial dizia. Eu só conseguia dizer “Sorry, I don’t understand. I don’t speak English”.
Após alguns minutos o policial percebeu que eu não estava entendendo nada e começou a fazer gestos, dizendo que eu iria ser presa. Nesse momento veio o pânico absoluto, a ficha caiu e eu já tinha certeza que seria presa em um país que não conheço ninguém e deportada, depois de ter gastado tanto dinheiro.
E agora, meu Deus? O que vou fazer? Comecei a chorar desesperadamente. Por sorte, tenho um choro muito irritante. Uma mistura de soluço, com riso e desespero. O guarda não aguentou. Ele me liberou sem nenhuma conseqüência séria. Ufa!
E foi assim, ainda chorando, que cheguei no trabalho. Ao me ver tremula e aos prantos, minha chefe correu em minha perguntando:
– Adriana! What happened? Why are you crying?
E eu respondi:
– I crossed the red thing on street and a Garda shot me. I was very scared and started to say a lot of bad words.
– Oh My god, shot? How’d they dare? Are you ok? How was it? We need to do something!
Desamparada, eu ficava pensando: “Ainda bem que ela me entende, eu não merecia isso, realmente, como ele ousa a fazer isso comigo? Pobre de mim…”
E ela insistia:
– Adriana, he could not have done that! Take your things, I will help you. How does he have a gun? It’s an absurd!
Eu, que só havia entendido que tudo era um absurdo, não falei nada e comecei a desconfiar do comportamento exagerado dela. Achei que fosse algo cultural.
– Jane, Thanks, I am ok. I don’t think it is necessary. He shot me but I am ok.
– Are you crazy? You need to go to a doctor to see if nothing happened to you. Than we need to go to the Garda. It’s serious, girl!
E eu sem entender o que estava acontecendo… – But Jessica, he only shot me, I got scared but…
– Adriana, can you explain what really happened? Did the guy have a gun?
Foi aí que entendi o que estava acontecendo. Se já não bastava ter passado o mico no cruzamento da O’Connell Street, agora tinha que explicar que o policial tinha ‘gritado comigo’ e não ‘atirado em mim’, que era o que eu estava repetindo sem parar!
– No, he didn’t. He… shod? I don’t know how to say it… Shut? Shouted?
– Ahhh, Adriana you got me worried! I can see you are ok, time to work now!
Bom, a simpatia e o sentimento de solidariedade sumiram quando ela percebeu o erro na minha pronúncia. A mulher estava preparada para acionar as autoridades e quem mais fosse preciso para me ajudar, achando que eu tivesse levado um tiro da Garda no centro da cidade. Quando tudo foi esclarecido, disse que eu precisava me apressar para terminar tudo no horário. A brincadeira me tomou mais de meia hora de trabalho, e por um milésimo de segundo quase desejei que isso tivesse acontecido mesmo, de tanta vergonha. Mas já estava dando graças a Deus por não ter sido presa e nem perdido o emprego por conta da confusão gerada pela minha pronúncia errada e meu listening ainda fraco.
O episódio do “Shot”/”Shout” foi apenas um dos muitos que passei durante minhas venturas e desventuras aprendendo um idioma em uma terra distante. Outro dia, por exemplo, conversando com a professora da garotinha que eu cuidava, sobre como seria a comunhão das crianças, eu disse que eu não era muito ligada no assunto, mas que poderia ajudar no que fosse preciso.
No final ficou claro mais uma vez que eu tinha boa intenção, mas com o meu inglês, o máximo que consegui foi deixar a professora no mínimo traumatizada, quando o seguinte diálogo aconteceu:
O que eu achei que tivesse dito:
– In Ireland, you say that “IT IS NOT MY CUP OF TEA” when you’re not into something. In São Paulo, we say “THAT IS NOT MY BEACH”, but I will be very happy to help you.
O que a professora entendeu:
– In São Paulo, we say “THAT IS NOT MY BITCH”, but I will be happy to help you.
Muito cuidado na hora de falar BEACH / BITCH em inglês, em outro país!
Conseguiram entender meu drama? Isso porque essa conversa meio atrapalhada ocorreu em uma escola católica e só para garotas!
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