Por Camila Nani Diniz
Quando você resolve embarcar para o novo, muitas dúvidas e medos surgem no caminho. Por mais que você tente pensar que tudo vai correr bem, o seu inconsciente insistirá em jogar contra. Você pode acabar perdendo algumas noites de sono, descobrindo que é ansioso e que tem alguns medos que você nem imaginava.
Após dois meses na Irlanda, hoje consigo dividir esse período de partida e adaptação em três etapas:
Essa é a parte em que seus medos se transformam em lágrimas. Talvez você segure o choro quando der aquela última olhada pelo seu quarto para conferir se não está esquecendo nada, talvez segure o choro quando sair e se despedir dos seus pais, irmãos, cunhada, amigos e do seu cachorro… Talvez segure o choro no caminho até o aeroporto, quando se faz um silêncio no carro e você tem a certeza que estão todos com o mesmo pensamento que você: “chegou o dia”.
Digamos que é a parte mais difícil, onde todos os pensamentos e medos te consomem ao mesmo tempo. Você pode conseguir segurar o choro por várias vezes, mas no fundo terá certeza que uma hora ou outra ele será mais forte que você.
Tudo que você já ouviu sobre despedidas em aeroportos passam a fazer sentido – se nunca ouviu nada a respeito, vai sentir na pele o que é o aperto no peito, o choro que não para, os abraços intermináveis antes de entrar pra sala de embarque. A partir daí, começa a descoberta do novo.
Já do outro lado do oceano, após a chegada em um aeroporto que ainda não conhecia, a espera para o voo internacional, o turbilhão de sentimentos, medos e incertezas só aumentam. Você aprenderá, ainda no caminho do seu destino, que a dúvida e o medo serão seus grandes aliados a partir dali. Afinal, você está indo de encontro a uma experiência totalmente nova e inesperada.
O mais importante nessa hora é tentar viver cada minuto na intensidade que ele se apresenta a você. Tudo bem sentir medo, assim como se sentir insegura. Mas, o mais importante é ter consciência que agora é a hora. Aproveite, mantenha os olhos bem abertos e desfrute de cada momento desse novo mundo que se revela diante de você!
Se você tem sobrinho, vai soltar sorrisos (e às vezes lágrimas) toda vez que uma criança chegar perto de você. Passará a dizer “Hi” e a mexer com todas que encontrar – tudo pra ganhar um sorriso que te lembre daquele que está longe. Se tem cachorro, vai se apaixonar por cada um que encontrar passeando pelas ruas.
Vai sorrir quando o sol aparecer, vai reparar em todos os detalhes da nova cidade, vai querer comprar uma bicicleta (mesmo que a última vez que teve uma foi quando era criança). Vai ter vontade de ir ao cinema (mesmo que a última vez que tenha ido já tenha uns 4 anos, rs). E vai lembrar, mais do que imagina, da pessoas que ama.
Vai se perguntar se ainda fará amigos como os que deixou (e sinto dizer, mas… exatamente daquela maneira não fará). Os novos amigos não saberão reconhecer seu humor simplesmente com um “oi” ou “bom dia”, mas saberão exatamente como você se sente naqueles dias em que sua maior vontade era voltar pra casa. Eles não saberão seus gostos, as coisas que você já passou e tudo que você gosta (como aqueles que você deixou sabem), mas descobrirão junto com você cada parte da nova cidade, cada novo hobby, cada novo desejo.
Estarão juntos com você em cada noite congelante em que os agasalhos não forem suficientes. Te avisarão das promoções de viagens, programarão cada parte dela junto com você, e te farão companhia em cada cerveja que você tomar. E falando em cerveja… se ela é sua bebida preferida, acredite: terá concorrente. O café, o chá ou o chocolate quente (se não era algo que você consumia diariamente) passarão a fazer parte da sua vida agora. E você vai se assustar quando em um sábado à tarde, andando pela rua, seu pensamento for: “Que vontade de um café”.
Você terá dias ruins, derramará mais lágrimas que o normal, vai aprender a se despedir, vai começar a reparar mais nas pessoas e em tudo ao seu redor. Você vai descobrir que era verdade quando te diziam que as primeiras semanas eram difíceis, mas que, no fim, você começaria a gostar dessa nova vida. Você vai sentir falta de tudo que deixou e, mesmo com o novo, não vai se esquecer que tem lugares e pessoas, lá do outro lado, te esperando… vai encontrar um lugar favorito na nova cidade e descobrir que você pode ter vários lugares favoritos espalhados pelo mundo.
Vai aprender a ficar sozinho, seja no seu quarto, seja andando pela cidade, seja admirando um novo lugar que conheceu. Vai descobrir que todo sentimento é momentâneo e que em um só dia você pode se pegar sorrindo, chorando, sentindo um aperto no peito por estar longe e agradecendo por ter tido essa coragem de partir. Vai aprender que tudo passa, que precisa aproveitar cada momento, que tem todo direito de ter seus dias tristes, assim como tem o dever de sorrir e transbordar de alegria quando a felicidade te consumir. Vai aprender a dividir sentimentos e sensações com pessoas que conheceu há alguns dias, semanas ou alguns meses. Mas, principalmente, vai aprender a ouvir os seus mais sinceros sentimentos e vontades, de uma forma que nunca fez antes.
Sobre a autora:
Revisado por Tarcísio Junior
Imagens via Shutterstock
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