Intercâmbio: o melhor ano da minha vida
6 anos atrás
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Eu entrei na universidade aos 17 anos de idade. Aos 20, já estava com o diploma na mão e pronta para enfrentar o mercado de trabalho – e foi o que fiz no segundo mês de formada.
Arrumei trabalho, comprei um carro e já vivia uma vida de pessoa independente, extremamente acomodada. Mesmo amando minha zona de conforto, o sonho de morar fora nunca me deixou. Sempre fui apaixonada por outras culturas, países e até em ONGs que trabalhavam com intercâmbio cultural me envolvi, para me aproximar dessa realidade.
Todavia, eu sempre achava que a minha hora não tinha chegado. Acontece que numa sexta-feira fria do sul do Brasil, eu estava sentada com alguns amigos no bar – programa rotineiro – e comecei a pensar no que todo aquele estilo de vida estava me agregando. Minha vida era baseada em trabalhar, gastar meu dinheiro com roupas e baladas. Eu tinha me tornado uma pessoa que a Juliana de dois anos atrás odiaria. E eu tinha que fazer algo para mudar. Foi assim que em um mês eu virei a minha vida de cabeça para baixo.
“Mãe, estou indo morar fora”, disse na hora do almoço. A resposta dela? “Eu sabia que esse dia chegaria”.
Vendi meu carro e comecei a procurar agências de intercâmbio. Após muitas pesquisas sobre os melhores lugares para fazer minha viagem, a Ilha Esmeralda era a melhor escolha. Pelo menos para mim. Confesso que foi tudo tão rápido que me senti indiferente a tudo: sem os meses de ansiedade, noites sem dormir, nervosismo, alegria… Eu era uma pedra. Não sentia nada… Na verdade, eu sentia sim. Eu me sentia mal justamente por não sentir nada.
Eu sempre tive muitos amigos e por isso fui praticamente obrigada a dar uma última festa para dar tchau para a galera. Churrasco, calor, cerveja gelada. Todos iam chegando e desejando toda sorte do mundo. Muitos ainda me achando louca por abandonar meu emprego tão bom, vender meu carro e ir morar em um país do outro lado do mundo. Acho que no fundo, nós, intercambistas, somos um pouco loucos mesmo – e graças a Deus por isso.
O dia chegou
Fechei minha mala um dia antes. Não coloquei muita coisa. Eu já comecei a aprender o desapego ali. A família entrou no carro para me levar até o aeroporto de Curitiba, que é o mais próximo da minha cidade. Lembro que falamos pouco durante a viagem, até porque havia muito que falar, muito sentimento envolvido e eu estava tentando ser forte. Afinal, um ano longe das pessoas que mais importam na vida não é coisa fácil não. Logo eu, uma simples menina de 23 anos, que nunca tinha saído da barra da mãe.
Quando pisei no aeroporto, desabei. Todos os sentimentos vieram de uma só vez e eu não conseguia parar de chorar. Pegar as minhas malas e atravessar o portão de embarque sem olhar para trás foi sem dúvida um dos momentos mais difíceis da minha vida – e também o mais certeiro. Mas eu só descobriria que essa seria a decisão mais acertada alguns meses depois.
No trajeto Curitiba – Rio de Janeiro, onde pegaria um voo para Frankfurt e então Dublin, eu desidratei de tanto chorar. A galera do avião deve ter pensado que alguém havia morrido devido à choradeira. E de certa forma morreu. Porque hoje sou uma pessoa tão diferente daquela menina que deixou tudo para trás para enfrentar o desconhecido.
Eu sempre falo da nossa coragem de abandonar tudo. Família, emprego, casa, certezas, amigos, cachorros, comidas prediletas… tudo, simplesmente porque estamos procurando alguma coisa diferente. Lembro que quando cheguei ao aeroporto de Dublin, peguei minhas malas na esteira e olhei para os lados: e agora? Eu não tenho nem casa para morar. Lembro-me de sorrir para mim mesma, pegar minha bagagem e partir em direção ao melhor ano da minha vida.
Prestes a voltar para casa, olho para trás. Vejo tudo o que fiz e vejo como tudo passou em um piscar de olhos. A vida no exterior é fácil? Não! Mas é tão maravilhosa. Arrumei trabalho, virei barista, virei cleaner, virei ciclista, aprendi a fazer burritos e, veja só, aprendi muito sobre mim mesma! Fiz milhões de amigos de todos os lugares do mundo e do Brasil. Eu queimei dinheiro em festas, festivais e viajei mais do que imaginei que viajaria. Eu ri, eu chorei, eu amadureci o que levaria cinco anos em apenas 11 meses. E vi que a minha jornada só está começando. A Irlanda me abriu os olhos para o mundo e o mundo abriu os olhos para mim. Hoje tudo é possível. Basta ir, basta pararmos de nos dar desculpas esfarrapadas. Basta ser louco o suficiente para seguir o próprio sonho!
Vem, o mundo espera para ser descoberto por você também!
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A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: [email protected]
Essa é a história da Juliana Spinardi, de 24 anos, natural de Ponta Grossa, no Paraná, e formada em jornalismo. Boêmia e apaixonada pelo seu time do coração, o Operário Ferroviário Esporte Clube, ela sonha em morar na Índia, ver os elefantes e tomar uma cerveja gelada em Bali. Vive para viajar e viaja para viver. Não consegue viver sem música e café. De um dia para a noite descobriu que era hora de voar, arrumou as malas e assim chegou em Dublin, na Irlanda.
Revisado por Tarcísio Junior
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